Três grandes diferenças entre a Irlanda e o Luxemburgo enquanto domicílio de ETF

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Créditos: Chris Barbalis (Unsplash)

Os ETF são produtos transfronteiriços com registos de venda em múltiplos países. Na Europa há 12 domicílios para estes veículos. Mas o Luxemburgo e a Irlanda são os preferidos dos provedores. A Irlanda, com 628.600 milhões de euros, é o maior domicílio de ETF por ativos sob gestão. Seguem-na o Luxemburgo, com 226.900 milhões de euros, a Alemanha, com 61.700, a França, com 32.800, e a Suíça, com 32.500.

Segundo Detlef Glow, a razão da grande variedade de domicílios deve-se ao esforço de alguns provedores em atender a investidores específicos em países concretos. “Para isso, têm de ter em conta as normas locais, especialmente em matéria de impostos. Isto pode obrigá-los a lançar um fundo cotado num domicílio específico”, explica o diretor de Análise da Refinitiv para a EMEA.

Além disso, alguns promotores de ETF na Europa só centram o seu negócio em mercados muito concretos e têm os seus produtos domiciliados unicamente nesses países.

Dado que os ETF são verdadeiros produtos transfronteiriços que querem aproveitar ao máximo o passaporte UCITS, que lhes permite registarem-se para venda em múltiplos países da UE, o predomínio da Irlanda e do Luxemburgo como domicílios não é surpreendente. Sobretudo, porque as associações de fundos locais destes países (Irish Funds e ALFI) oferecem aos seus membros ajuda na distribuição nacional e Internacional de fundos dentro e fora da UE.

Diferenças por tipo de ativo

Dado que a Irlanda (63,59% dos ativos) e o Luxemburgo (22,96%) representam 86,55% do total de ativos sob gestão na indústria de ETF, vale a pena analisar a estrutura dos tipos de produtos nestes dois domicílios. De acordo com Glow, a primeira diferença entre ambos encontra-se nos tipos de ativos investidos pelos ETF domiciliados em ambos os países. “Na Irlanda não há produtos do mercado monetário nem enquadrados na categoria Outros, enquanto estes produtos preenchem uma quota de mercado de 0,82% e 0,03%, respetivamente, dos ativos no Grão-ducado”. Já entre as grandes categorias, a categoria de ações pesa ligeiramente mais no Luxemburgo do que na Irlanda, enquanto que em obrigações acontece o contrário.

Fonte: Refinitiv Lipper.

Diferenças por tipo de réplica

Uma visão das quotas de mercado das diferentes metodologias de réplica por ativos sob gestão mostra uma diferença mais significativa entre a Irlanda e o Luxemburgo. Enquanto a réplica otimizada é o método de replicação preferido de ETF domiciliados na Irlanda (57,51% dos ativos sob gestão), esta metodologia tem a menor quota de mercado dos ativos sob gestão no Luxemburgo (18,44%).

Os ETF que utilizam a réplica completa possuem a maior parte dos ativos geridos pelos produtos domiciliados no Luxemburgo (43,78%). Não obstante, esta estratégia é a segunda metodologia de réplica mais utilizada pelos fundos cotados domiciliados na Irlanda (35,38%)”, sublinha o especialista.

Os ETF que utilizam a réplica sintética, em particular das metodologias baseadas em swaps, representam 37,77% dos ativos geridos no Luxemburgo. Pelo contrário, a sua quota de mercado na Irlanda é de apenas 5,15%. Além disso, 1,96% dos ativos geridos na Irlanda corresponde a ETF que utilizam outras metodologias de réplica.

Fonte: Refinitiv Lipper.

De acordo com Glow, as diferenças nas metodologias de réplica entre a Irlanda e o Luxemburgo devem-se às preferências dos investidores, assim como pelas diferenças normativas e fiscais entre ambos os domicílios, já que estas diferenças podem ser utilizadas para otimizar os rendimentos dos respetivos ETF e os lucros do provedor do ETF.

Diferenças por custos

Uma análise mais detalhada dos rácios de gastos totais médios dos ETF domiciliados na Irlanda e no Luxemburgo por tipo de ativo mostra algumas diferenças entre os dois domicílios. O total expense ratio (TER) médio dos ETF de ações é semelhante em ambos os domicílios. Não obstante, nos produtos de obrigações, há diferenças. Os domiciliados na Irlanda são mais caros do que os seus homólogos luxemburgueses.

“Ao observar estes números há que ter em conta que representa uma média simples dos TER. É de esperar que este panorama mude se calcularmos uma média ponderada por ativos, já que alguns dos principais tipos de ativos (obrigações e ações) têm rácios de gastos totais significativamente inferiores à média”, conclui o diretor de Análise da Refinitiv para EMEA.

Fonte: Refinitiv Lipper.