As eleições norte-americanas foram o culminar de um ano que tem sido risk-on: praticamente todos os ativos de risco estão em território positivo. As exceções são o petróleo e as obrigações governamentais de países desenvolvidos.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Custo de oportunidade. É esta a lição que o investidor deve retirar de 2024. De um modo geral, os fluxos mostram um investidor que se refugiou em produtos de liquidez (monetários, dívida de ultracurto prazo, depósitos) em resposta a yields positivas nos ativos livres de risco. É um movimento para o refúgio que poderíamos ver num ano de correção de mercado. O problema é que não é assim que descreveríamos 2024. Como podemos ver no gráfico disponibilizado pela Candriam, 2024 tem sido um exercício para estar risk-on.
A tabela mostra os retornos reais (ajustados à inflação em euros) das principais classes de ativos desde 2004. A pouco mais de um mês para terminar o ano, vemos como praticamente todos os ativos de risco estão em território positivo. As exceções são o petróleo e as obrigações governamentais de países desenvolvidos, que não conseguem superar a inflação. Se o compararmos com o histórico de outros anos, estamos como em anos recordados como muito bons, como 2020.
E o rally só se alargou após o resultado das eleições norte-americanas. Como vemos neste gráfico adicional, que mostra apenas os movimentos na semana após as eleições, ativos como a bitcoin valorizaram mais de dois dígitos em apenas cinco sessões. Os grandes vencedores do Trump trade aos olhos do mercado são claros: cripto, defesa, prisões privadas, Elon Musk. Os perdedores: a sustentabilidade e a China.
“A combinação de uma flexibilização monetária e de yields ainda em crescimento gerou oportunidades para o carry no crédito investment grade e dívida de mercados emergentes. Em contrapartida, a cobertura com o iene japonês, que tradicionalmente é um ativo refúgio, foi irregular. Era melhor proteger-se com ouro. E, por último, é de destacar as ações chinesas, que surpreenderam o consenso no último trimestre do ano com as políticas implementadas”, resume Nadège Dufossé, responsável global de Multiativos da Candriam.
O que é que 2025 nos reserva?
Olhando para os próximos 12 meses, as perspetivas abrem muitas portas para o investidor, mas o importante é que é preciso começar a tomar decisões de investimento. A liquidez continua a ser um dos ativos mais atrativos. “Mas não por muito tempo”, adverte Nadège Dufossé.
As eleições norte-americanas terão significativas ramificações para a alocação de ativos. A Candriam resume os principais impactos em quatro fatores: impulso fiscal, desregulação, guerracomercial e imigração.
Para esse impulso fiscal, que trará um maior défice e maiores lucros corporativos, a equipa de Nadège Dufossé defende uma posição curta em duração dos EUA e longa em ações norte-americanas, com especial foco nas small e mid caps. A desregulação está centrada nos setores financeiro e energético, o que favorece estar longos em bancos norte-americanos e curtos no petróleo. A guerra comercial implica preços mais elevados e uma tendência de reshoring, o que favorece estar curtos em duração norte-americana, a preferência por ações dos EUA em detrimento da Europa e emergentes e longo no setor industrial norte-americano. E, por último, a escassez de mão de obra e a inflação que serão geradas pelos planos dos republicanos de terminar com a imigração ilegal nos Estados Unidos reforçam, pela terceira vez, estar curtos em duração dos EUA.
É preciso prestar especial atenção às divisas, afirma Nadège Dufossé, porque são o ativo que vai estar no centro das tensões geopolíticas. “Nesta fase, é difícil tomar uma posição fixa para os próximos 12 meses”, reconhece a especialista. “Trump quer um dólar mais débil, mas, ao mesmo tempo, a reflação que as suas políticas podem gerar apoia a divisa. Noutras moedas, tarifas mais elevadas implicam um yuan chinês mais débil, como vimos no primeiro ciclo de guerra comercial há uns anos”.