A DNB Asset Management promoveu com a FundsPeople um encontro virtual entre profissionais da gestão de ativos nacional para discutir o papel crucial da tecnologia, numa altura em que vemos revalidada a sua importância.
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Se não era claro que a tecnologia desempenha um papel basilar nas nossas vidas, o atual período de confinamento, em que a generalidade do mundo se viu envolta nos últimos meses, veio dissipar quaisquer dúvidas. É quase certo que em todos os momentos do nosso dia a dia, desde as funções básicas, ao trabalho e passando pelo entretenimento, temos algum tipo de intervenção. Contudo, a adoção em massa da tecnologia não está isenta de potenciais riscos e consequências, que se estendem do outro lado do ecrã ao outro lado do mundo.
Foi com base nestas premissas que a gestora nórdica DNB Asset Management, em colaboração com a FundsPeople, dinamizou um encontro entre profissionais da gestão de ativos com o propósito de discutir o papel da tecnologia no nosso mundo atual, assim como os seus impactos futuros. À “mesa” estiveram Fernando Castro Solla, diretor da gestão de ativos do Haitong em Portugal, Nuno Sousa Pereira, responsável de Investimentos da Sixty Degrees e Carlos Pinto, gestor de carteiras sénior na Optimize IP, que se juntaram a Mikko Ripatti, responsável da entidade gestora nórdica para Portugal, e à equipa da FundsPeople.
Um dos principais riscos inerentes à adoção mais generalizada do teletrabalho, robotização e da tecnologia em geral, é realçado à cabeça por Carlos Pinto: “o maior risco, e ao mesmo tempo o maior desafio, é a prevenção de ataques cibernéticos”. “Estão a surgir um maior número de ataques, colocando em causa a confidencialidade e aumentando o número de fraudes”, indica o profissional, que ressalva que “o próprio sector tecnológico poderá ter as soluções e empresas que permitem prevenir estes ataques”.
Mikko Ripatti é da mesma opinião no que toca ao tema de cibersegurança, relembrando que a mesma toma uma proporção maior agora que muitas empresas estão a operar em regime de teletrabalho, que só por si também traz os seus desafios. “Temos a tecnologia para nos ajudar e para poder trabalhar de casa, mas por outro lado temos de nos lembrar de colocar os limites de quando trabalhamos e quando é tempo de descanso” para evitar prejudicar a saúde mental, sublinha o profissional. Também dentro do tema do trabalho, Mikko Ripatti vê na robotização outra tendência que pode trazer alguns malefícios, sobretudo “em profissões menos especializadas onde as pessoas correm um maior risco de serem substituídos por tecnologia de uma forma ou de outra”.
Contudo, os perigos desta adoção massificada também se podem sentir a nível mais macro, como indica Nuno Sousa Pereira. “Uma robotização massiva poderá levar a um boom de desemprego que os governos não estão preparados para enfrentar”, enquadra o profissional. “Quando se adota o modelo da robotização e da adoção massiva de tecnologia tem que se pensar na atividade produtiva e em como mantemos o seu rendimento numa estrutura social como temos atualmente; isto é um grande desafio”. A emancipação de tensões sociais é iminente nestes cenários, como ilustra o profissional da Sixty Degrees, que denota que “já existem várias a emergir neste curto espaço de tempo”, e que podem ser agravadas caso haja “um desemprego social de longa duração devido a uma adoção demasiado rápida da tecnologia”.
Fernando Castro Solla escolhe olhar para este tema de um ponto de vista menos pessimista, relembrado que “dentro destes riscos resultam também oportunidades, e uma delas é a certificação”, exemplifica. O diretor da gestão de ativos do Haitong ilustra com o caso de bancos e entidades gestoras que já adotaram processos de abertura de conta não presencial, que “só são possíveis porque há empresas que certificam as pessoas, os documentos e todo o processo envolvido”. “É uma oportunidade de desenvolvimento de novos negócios e de investimentos. Há poucas empresas cotadas que operam neste segmento, mas creio que vão haver mais, porque é uma oportunidade que resulta dos riscos todos que enumerámos”, antecipa.
Do outro lado do ecrã, do outro lado do mundo
Para além de forçar a reflexão sobre risco e benefícios da tecnologia, a atual crise pandémica também levanta outras questões de índole internacional e política. A dependência que várias indústrias do mundo ocidental têm de países do oriente ficou bem exposta nos últimos meses, ao mesmo tempo que a relação Estado Unidos – China atravessa um período de especial tensão. Sobre uma possível deterioração desta relação e o impacto que poderá ter no sector, Carlos Pinto relembra que este conflito já perdura há algum tempo e que “poderá impactar algumas empresas, nomeadamente as mais expostas ao fornecimento de produtos chineses”. Porém, “já se verifica que as empresas começam a diversificar o seu risco através do fornecimento por outros players e países, nomeadamente países vizinhos asiáticos, incluindo a própria China”.
Fernando Castro Solla apelida esta tendência como uma “multipolarização dos centros do mundo”. “Estamos num processo de desglobalização e do recentrar de mais polos centrais nas economias mundiais”, enquadra. O ponto de vista do profissional é ainda reforçado pela matriz chinesa da entidade que representa, herdada do seu acionista, que se traduz, por exemplo, numa estratégia de stock picking europeu que o Haitong apelida de “ângulo chinês”. Esta estratégia passa por “tirar partido do conhecimento profundo que o nosso grupo e acionista têm da realidade chinesa para depois perceber quais são os sectores na China que vão gerar oportunidades para empresas fora da China”. “Mantemos esse ângulo muito ativo”, realça.
“Esta crise começou a ser vista pelas empresas como uma crise de supply chain; obviamente que depois se tornou numa crise geral de procura”, afirma Mikko Ripatti. Para o profissional da DNB, é expectável que, como consequência, “as empresas, não só as ligadas à China, reavaliem a sua cadeia de fornecimento”, estudando se esse é o modelo ideal no futuro. No caso do sector tecnológico, “por definição muito internacional e global, mas que assim que se fecham as fronteiras dos países fica mais vulnerável”, algumas empresas poderão querer trazer a produção mais perto – o que pode ser mais facilmente conseguido com novas tecnologias.
Por fim, Nuno Sousa Pereira salienta a relação mais sensível entre ocidente e o gigante oriental, marcada por uma “uma opinião pública generalizada de alguns governos que cada vez mais se estão a unir no sentido de culpabilizar a China, de forma a protegerem-se face ao seu eleitorado”. “Isto pode levar a uma antagonização da China, o que não é bom no sentido da globalização, criando quase que uma guerra fria” entre ocidente e oriente. Contudo, o profissional considera que, do lado chinês, o impacto negativo deste movimento pode ficar limitado, pois “a China tem capacidade para desenvolver um mercado interno”, fruto do seu domínio e presença no mercado do sudoeste asiático, e das “relações com imensos países que são quase desprezados pelos grandes players do ocidente”.