A ideia de que o Brasil vive algo “aprisionado” ao mercado doméstico parece estar a mudar. Há um ano atrás, Carlos Massaru, Presidente da BB DTVM, em entrevista à Funds People, já referia a intenção de distribuir produtos em Portugal, e noutros países da Europa. Hoje as certezas do responsável da maior gestora do Brasil parecem ser ainda maiores. Numa conversa que abrangeu vários temas, desde a retirada dos estímulos por parte da Fed, ao futuro do mercado da América Latina, Massaru avançou também algumas perspetivas sobre a Europa. Estará o mercado brasileiro a colocar mais produtos no velho continente? E o contrário, será que se verifica?
O Presidente da BB DTVM, avança que na colocação de produtos na Europa para 2014 “ainda existe uma questão de calendário em relação aos estímulos nos EUA”. Desta forma, “os investidores vão procurar produtos mais líquidos que estejam “atrelados” à taxa de juro, ou seja, mais conservadores”. No que diz respeito à renda fixa, Carlos Massaru, acredita que o valor pode estar entre a agenda de crédito e a infraestrutura. Em relação à renda variável, o foco vai ser “em produtos de gestão ativa e sectoriais”.
Entrada no estrangeiro por via da diversificação
Lançar produtos harmonizados na Europa no próximo ano é tida pela gestora como “uma das estratégias prioritárias para 2014, de forma a reforçar os veículos de atração do investidor estrangeiro”. Carlos Massaru, afirma mesmo que já estão a trabalhar para que rapidamente seja colocado um veículo UCITS no mercado. Apesar desta vontade, o especialista não deixa passar em branco a grande importância que continuam a ter as oportunidades existentes no Brasil. Assim, Massaru explica que a “entrada” na Europa acontece por via de uma maior diversificação. “O brasileiro já começou a fazer uma diversificação um pouco maior no estrangeiro, dentro dos parâmetros que a regulação permite”, refere.
Nesta assumida abertura ao estrangeiro, o Presidente da BB DTVM não aponta regiões “apetecíveis”. Fala sim de uma estratégia que é mais focada no produto: US equities, Euro equities e Global Equities. “Nas estratégias de renda variável estas devem ser as principais nuances”, explica, referindo que “nos os últimos anos esse shift no crescimento entre os países desenvolvidos e os emergentes acabou por deixar claro que num momento desta natureza os mercados têm uma baixa correlação. Por isso faz sentido fazer-se uma diversificação com produtos como esses”, diz.
Recorrer ao expertise das gestoras internacionais
Ainda que a abertura ao exterior se verifique, a gestora brasileira continua a recorrer a gestoras internacionais para fazer fundos focados no estrangeiro. “Por uma questão de necessidade, e de estruturais de análise de pesquisa, recorremos a gestoras internacionais. Somos fundamentalistas e, por isso, acreditamos que uma boa análise deste género, apenas é alcançada recorrendo a boas empresas, que fazem análise e pesquisa local”, assegura.
O contacto com as gestoras internacionais acontece numa espécie de troca. “Contactamos os representantes locais aqui, mas também visitamos as equipas no exterior. Tem de ser assim, porque temos um trabalho muito forte de análise de risco-retorno, avaliação de performance, e outras métricas, em que precisamos de fazer uma avaliação do gestor”.
Com escritório em Singapura, a gestora vê valor na região asiática, cujo potencial acredita ir para além da China. “Queremos trazer esses investidores asiáticos para participarem nos nossos projectos aqui”. O processo contrário (investimento brasileiro na Ásia) já é visto como menos provável, porque “investir na Ásia ainda não é uma coisa muito óbvia para a maior parte dos investidores brasileiros”. Desta forma, Carlos Massaru refere que o “investimento no exterior está longe de chegar ao varejo (retalho)”, porque “esse investidor ainda precisa de procurar um caminho em que encontre formas de diversificar no próprio mercado doméstico. Quando fizer esse caminho, aí sim, a evolução natural será ter uma parcela do seu portefólio investido no exterior”.