Update do Robeco BP Global Premium Equities: é assim que Chris Hart vê o mercado

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Christ Hart. Créditos: Cedida (Robeco)

O Robeco BP Global Premium Equities é um fundo de ações globais que este ano está a conseguir aguentar relativamente bem o forte vendaval que abala os mercados de ações. O produto, que ostenta Rating FundsPeople 2022, registou uma rentabilidade plana no final de agosto, estando no primeiro quartil da sua categoria e ficando a três pontos da média da sua categoria, de acordo com dados da Morningstar. O seu gestor, Christ Hart, numa recente visita à Península Ibérica, aproveitou  para explicar à FundsPeople a sua visão do mercado e, acima de tudo, os ins e outs de um produto que nos últimos três anos conseguiu gerar um retorno anualizado de 7,07%, superando em 1,1 pontos a média da sua categoria e em 0,7 o seu índice de referência.

A primeira coisa que o gestor da Robeco nos diz é que, na sua opinião, há uma narrativa que entrou no mercado de uma forma sistemática: o Fed put. "No final de contas, foi o que levou as ações a negociar em máximos em 2018, 2019 e 2020. Se existe Fed put, então não há necessidade de fazer a análise: basta comprar empresas de alto crescimento”, diz. Segundo o gestor, a questão no cenário atual é o que é um ambiente normal de taxas de juro. "É ter taxas a 2,5% ou a 0?", questiona.

Normalização das taxas

Hart acredita que a Fed devia ter aumentado as taxas em 2015 e 2016. "Agora dizem que a movimentação dos mercados não é o seu objetivo e que nunca foi. Acho que as taxas de juro normais estão nos 2,5% na parte frontal da curva. Talvez 3% nas obrigações a 10 anos. E isto cria um mercado que está a tentar fixar um preço para uma empresa. É quando as avaliações realmente importam. E agora importam.  O ponto de entrada é fundamental. O que se quer é comprar boas empresas a preços atrativos, que crescem nos próximos 10-15 anos”.

O que procura exatamente para a sua carteira são empresas de qualidade, que negoceiam a múltiplos atrativos e com uma previsão de revisão dos seus lucros em alta. "Não nos desviamos nem um pouco dessa disciplina. No final, são as empresas que a longo prazo tendem a oferecer retornos mais elevados", explica. E, na sua opinião, é na Europa onde estão atualmente as melhores oportunidades de investimento.

Europa, mais atrativa do que os EUA

"O mercado europeu está a refletir os preços de uma recessão. A questão é o quão profunda vai ser. Temos de estar muito atentos ao que acontece com a energia no próximo ano. Nos Estados Unidos, começamos a assistir a revisões em baixa dos lucros. Com um rácio PER de 14 vezes, este cenário de recessão ainda não está refletido no preço. As ações europeias estão a registar o mesmo impulso que as ações americanas, mas as avaliações são mais atrativas. A Europa é hoje mais interessante. É por isso que estamos sobreponderados neste mercado”, revela.

Hart reconhece que os pontos de entrada nunca são perfeitos. Para tentar se aproximar, usam indicadores de impulso. “O que não queremos é comprar empresas com dinâmica negativa, onde estão constantemente a rever os seus lucros para baixo. Só apostamos em empresas com boa dinâmica quando temos a convicção de que a valorização as apoia”.

O cash flow é um ponto-chave

O rácio em que mais se apoia no seu trabalho de análise das empresas é o free cash flow. “É o mais importante. Indica a verdadeira capacidade da empresa de gerar rentabilidade. Se me deparar com uma empresa que negoceia a um rácio PER de 10 vezes e que tenha um free cash flow de 2%, não estou interessado. Por outro lado, uma empresa que negoceia com um PER de 20 vezes e um free cash flow de 7%, sim”.

No ambiente atual, o gestor tem 4% de liquidez. “Para caçar oportunidades”, diz. “Num ambiente mais normal teria 2%. Há dois anos havia 130 nomes no portefólio. Hoje são 100”. Para o gestor, a diversificação é muito importante. Não investe mais de 5% numa única empresa, nem aloca mais de 35% a um setor. No entanto, não tem limites para por capitalização. De facto, uma das razões que explica o sucesso do produto nos últimos três anos tem sido o aumento de posições nas empresas de média capitalização após o surto da pandemia.

"A crise da COVID-19 criou muitas oportunidades no segmento das pequenas e médias capitalizações que soubemos aproveitar. Mas isto agora mudou. O atual ambiente de mercado é mais como 2008 e 2009 e a abordagem é mais cautelosa”.  Historicamente, o beta do portefólio, fruto dessa seleção bottom-up que continua no seu processo, tem sido em torno de um ou abaixo de um, como é atualmente o caso. No entanto, após a crise da pandemia, chegou a níveis mais elevados, o que foi um fator decisivo para impulsionar a estratégia.