Usar menos recursos, durante mais tempo, partilhar e recuperar mais: os pontos-chave da economia circular para a Candriam

Créditos: Cedida (Candriam)

No âmbito da MadBlue Summit, evento sobre inovação, cultura e ciência para o desenvolvimento sustentável, que se realiza todas as primaveres em Madrid para coincidir com a semana da Terra, David Czupryna, gestor sénior da Candriam, abordou as oportunidades de investimento da economia circular.

Para David Czupryna, a economia circular é uma oportunidade de investimento que se estenderá por várias décadas e que poderá alcançar um volume de 4,5 biliões de dólares. Esta aproximação surge para dar solução a alguns dos problemas gerados pelo modelo da economia linear. “O sistema linear da nossa economia (extração, fabrico, utilização e eliminação) atingiu o seu limite. Começamos a assistir ao esgotamento de uma série de recursos naturais e de combustíveis fósseis”, explica o gestor. “A economia circular é um conceito económico que está relacionado com a sustentabilidade e cujo objetivo é manter o valor dos produtos, materiais e recursos (água, energia, ...) na economia durante o maior tempo possível e minimizar a produção de resíduos”, acrescenta.

Mudança de modelo

David Czupryna descreve o panorama em que surge a necessidade de alterar o modelo, assinalando pontos de stress evidentes no atual sistema: “é preciso produzir alimentos para 9.000 milhões de pessoas, precisamos de muitos metais para avançar na eletrificação e há escassez de água”. Além disso, a pandemia e a invasão da Ucrânia deram lugar a vários efeitos como a relocalização e a procura por uma maior independência energética, sobretudo na Europa. “Os problemas das cadeias de abastecimento e a vulnerabilidade energética da Europa tornaram-se evidentes”, afirma.

Como exemplo desta vulnerabilidade, o gestor expõe a situação das turbinas eólicas na Europa: “58% são montadas na Europa, mas apenas 20% das componentes (face a 56% da China) e quase nenhum dos materiais são provenientes do continente”.

Menos recursos, mais recuperáveis, com uma vida mais longa

A solução para parte destes problemas pode estar na aposta em estratégias que investem em economia circular. Trata-se de investir em empresas que, através dos seus produtos e processos, ajudam a reduzir a necessidade de extração de recursos virgens, ao mesmo tempo que atenuam a produção de resíduos, em particular de resíduos biodegradáveis. As empresas podem conseguir esses objetivos através de quatro abordagens:

  • Utilizar menos recursos: utilizando recursos reciclados ou renováveis, ou racionalizando o uso de recursos.
  • Recuperar mais recursos (através da recolha ou classificação de resíduos, da reciclagem, do tratamento de águas ou de resíduos).
  • Utilizar durante mais tempo: estendendo a sua vida útil (através da reparação, segunda-mão, renovação, reutilização, revenda, conceção para maior durabilidade).
  • Partilhar para aumentar a taxa de utilidade dos produtos (através do uso de produtos como serviço, partilha, serviços de leasing e renting).

Ideias de investimento

Como exemplo de empresas que se ajustam a esta estratégia, David Czupryna menciona a americana LKQ, que oferece um serviço de recuperação, reparação e adaptação de peças de automóveis usadas para aumentar a vida útil dos veículos, mas também destas peças. “Em 2021, a LKQ conseguiu recolher 780 000 veículos acidentados e, através das suas 48 fábricas em todo o mundo, conseguiu vender 13,8 milhões de peças provenientes dos mesmos”, salienta.

Outro exemplo é a Li-Cycle Holdings, empresa de reciclagem de baterias de iões de lítio que utiliza um processo hidrometalúrgico patenteado para recuperar os metais contidos nas baterias. 100% do seu capex está destinado à construção de uma fábrica em Rochester, que poderá reciclar 200.000 baterias em plena capacidade. Tem acordos estratégicos com a LG Chem e a Glencore.

Para concluir, David Czupryna e Elena Guanter, responsável da Candriam para Portugal e Espanha, reuniram-se com Luis Prieto, CEO da MadBlue, que explicou a vocação do evento deste ano, centrado no investimento de impacto. “Trata-se de gerar e facilitar o investimento no nosso território. Mais de 30 fundos de investimento vieram avaliar as ideias de 60 start-ups”.