V aniversário do Brexit: continua a haver um prémio no mercado após a decisão do Reino Unido?

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Créditos: Eva Dang (Unsplash)

Há cinco anos o mundo assistia quase atónito ao resultado do referendo sobre o Brexit que teve lugar no Reino Unido e que, contra (quase) todos os prognósticos, resultou na saída do Reino Unido da União Europeia. O que não estava previsto pelo mercado notou-se nas fortes quedas que se viram nessa sexta-feira negra. Para recordar algumas: o Ibex retrocedeu 12%, o CAC francês 8% e a libra perdeu 8% do seu valor só nesse dia.

Nas semanas e meses que se seguiram, foram tantos os investidores que se desfizeram das suas posições no mercado britânico que anos depois ainda se fala de um prémio Brexit, o spread que os mercados do Reino Unido apresentam em relação aos europeus e que continua hoje ativo.

Por exemplo, segundo explica Jonathan Capelo, assessor patrimonial na Portocolom AV, com referência a esse 2016, a evolução das ações europeias face ao Reino Unido foi 23% superior. Um número que se amplia a 37% se tivermos como referência janeiro de 2013, quando David Cameron, o então Primeiro-Ministro britânico anunciou a intenção de convocar o referendo. E isto sem mencionar o efeito divisa já que a libra se depreciou notoriamente face ao euro nos últimos cinco anos. Em concreto, a divisa britânica caiu 5% face ao euro”. Ou seja, um investidor estrangeiro que investiu no FTSE100 não só teve em geral uma pior rentabilidade face ao EuroStoxx50, como também se viu penalizado pela depreciação da libra”, afirma Capelo.

Perante estes dados, é possível continuar a falar de um Brexit premium, mas será que vale ou não a pena fazer essa manobra? “Acho que ainda há um prémio pequeno do Reino Unido. A libra esterlina está ligeiramente desvalorizada, o FTSE está ligeiramente desvalorizado em relação aos seus pares e alguns spreads de crédito são ligeiramente maiores do que os seus homólogos na UE, por exemplo”, afirma Ludovic Colin, gestor na Vontobel AM. E pergunta: “Esse prémio é grande o suficiente para pagar os riscos de longo prazo? Provavelmente não. Ainda existe uma oportunidade de curto prazo? Provavelmente sim”, afirma.

Atualmente, as carteiras de gestores de fundos confirmam que ainda existe o receio de investir no Reino Unido e que existe uma grande diferença entre a sua posição em ações do Reino Unido e da zona euro. Enquanto apenas 4% dos gestores sobreponderam as ações britânicas na carteira, 41% fazem-no em ações da zona do euro, de acordo com dados do último inquérito do BoFA Securities. No entanto, os dados do Reino voltaram a ser positivos após um longo tempo subponderados, o que pode marcar uma mudança na tendência.

Os riscos a partir de agora

Se esse número continuará a aumentar ou não, dependerá em parte de como a economia evolui e das relações do Reino Unido com os seus vizinhos. “Atualmente, o problema que gera mais pressão é a Irlanda do Norte, onde a decisão unilateral do Reino Unido de estender os períodos de carência para controlos de passagem de mercadorias entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte não faz muito sentido para a UE, que argumenta que decisão viola acordos comerciais pós-Brexit“, afirma Jonathan Allison, diretor de Investimentos da Aberdeen Standard Investments.

Não é o único conflito a curto prazo, pois, como explica Colin, “a outra realidade que nos atingirá em breve é ​​que a possibilidade de o Reino Unido se separar é agora um feito". Refere-se à Escócia e ao facto de que o partido no poder, o SNP, ter anunciado a intenção de tentar se separar do Reino Unido assim que o impacto económico da COVID-19 desaparecer.