Vários mandatos, várias visões sobre a duração

pequeno almoço - carmignac
Duarte Francisco, Francisco Almeida, Ramón Carrasco e Carim Habib. Créditos: Vítor Duarte

Em termos genéricos, a duração de um ativo ou carteira pode dizer-se que está relacionada com a sensibilidade que esse ativo ou portefólio apresenta à subida de taxas de juro. Numa altura em que as obrigações são novamente uma grande aposta da maioria das gestoras de ativos, uma mesa redonda dinamizada pela FundsPeople em conjunto com a Carmignac deu conta precisamente do posicionamento que cada interveniente tem sobre a duração. 

Para Rámon Carrasco, diretor de Desenvolvimento de Negócio na Carmignac, a volatilidade que existe no mercado atualmente dever ser um bom barómetro das movimentações que se fazem em termos de duração. “Quando eu era gestor de carteiras, de 2002 a 2013, implementávamos uma estratégia de rendimento fixo com uma duração de cinco, seis anos, e, provavelmente, essa seria a duração para os dois ou três anos seguintes. De facto, tivemos 15 anos de repressão financeira durante os quais todos os subsegmentos do mercado de rendimento fixo apresentaram valores positivos de desempenho absoluto. Não teríamos volatilidade suficiente para quebrar essa tendência. Atualmente é impossível falar de uma duração estável para um portefólio, porque recebemos constante ruído vindo do mercado”, à imagem do que aconteceu com os movimentos de uma semana antes, provocados pelos casos do Sillicon Valley Bank ou do Credit Suisse. 

Ainda assim, o diretor de Desenvolvimento de Negócio da Carmignac não perde o foco de que o crédito é uma grande temática de cara ao futuro. Taticamente, diz, os gestores fazem afinações e “aumentam ou reduzem a duração através de obrigações soberanas e instrumentos afins - diminuindo e gerindo eficazmente o risco, com base na informação dada pelo mercado num dado momento". Tem ciente de que, no fim de contas, acreditam mesmo na “implementação de uma estratégia de duração muito dinâmica no portefólio e globalmente em todas as carteiras”.

O impacto da volatilidade 

Nesta conversa, os movimentos da semana de 13 de março estavam de facto frescos na memória dos presentes, e Duarte Francisco, consultor de investimentos sénior do Banco Santander, lembrou mesmo que se registaram “grandes movimentos nos mercados”, alguns deles históricos, como aconteceu com “as obrigações a dois anos”. 

Já para Carim Habib, CEO da Dolat Capital, a referência de volatilidade do mercado atualmente não se encontra refletida no VIX, “mas sim no índice MOVE, ou seja, a volatilidade das taxas de juro das treasuries nos EUA, em níveis históricos”. Isto mostra que é a este nível, o do rendimento fixo, que “as entidades estão a fazer as suas apostas - nas taxas de juro e, provavelmente, também nos spreads de crédito”. Atualmente, refere, “o mercado está a refletir no preço mais e mais a volatilidade nas taxas de juro”. 

Para Francisco Almeida, diretor da Gestão de Portefólios do Banco CTT, ser-se bullish nos spreads e, ao mesmo tempo, na duração, poderá ser algo incompatível. “Provavelmente as duas forças não se movimentarão em tandem. Poderá ser um hedge, ou então algo que protege o portefólio, mas olhando paras curvas de yields atuais, o term premium é muito, muito baixo”, considera. 

A duração e os vários mandatos 

Considerando-se fundamentalista quanto a estas questões, Carim Habib tem acima de tudo claro que a gestão da duração está muito interligada com o tipo de mandato de gestão que cada profissional tem em mãos. Mas, recorrendo à teoria, releva o que é óbvio: “Deve subir-se a duração quando se acredita que as taxas vão descer, e reduzir-se a duração quando se acredita que as taxas vão subir”. E essa é uma estratégia que vê com êxito.  Contudo, relembra que “tem funcionado estar longo em duração, especialmente se essa estratégia for implementada em governos, ou ativos similares a governos, ou pelo menos em obrigações do tesouro dos EUA, da Alemanha e, eventualmente, do Japão”. Acrescenta ainda que, no seu entender, “cada vez que as treasuries norte-americanas atingem os 4%, trata-se de uma oportunidade de compra. E o mesmo para as bunds alemãs, com níveis na vizinhança dos 3%”. Em suma, acredita que estar longo em duração com crédito de risco baixo, em tempos de incerteza, é o melhor hedge do mercado e a melhor proteção. “É isso que gostamos de considerar”, reiterou, lembrando que “considerar a duração de uma forma tática e pô-la em prática desse modo”, não é como levam a cabo a gestão na entidade que representa.  

Precisamente por via do mandato que tem em mãos, Francisco Almeida tem uma perspetiva um pouco diferente. “Faço a gestão de uma carteira própria de um banco, portanto não se trata de um market to market. No meu caso, tenho de olhar para várias variáveis, e não só para o hoje… tenho de perceber, por exemplo, como é que está o meu prémio de risco a 10 anos”, iniciou. Nesse sentido, e olhando para a duração como um risco, o profissional acredita que a melhor forma de olhar para a duração é transformá-la quase numa “espécie de sharpe ratio”. E o que é que isso significa?  Significa, diz, olhar para “yield to maturity dividida pela duration, e perceber onde é que se pode encontrar este rácio mais elevado em termos de valor e, assim, posteriormente, perceber onde faz mais sentido alocar o capital”. 

Duarte Francisco, do Santander, tem um mandato diferente: não fazem investimento direto, portanto a questão da duração está embutida nos fundos de investimento que selecionam. Na sua opinião: “Um aumento de duração deve ser realizado quando exista uma visão clara do que vai acontecer no futuro, porque isso aumentará risco no portefólio. Mas nesta altura é muito difícil antecipar o que os bancos centrais vão fazer”, alerta. Ao nível dos fundos que selecionam têm produtos de curta duração e outros mais flexíveis. No entanto, acima de tudo, e em concordância com o que referia Ramón Carrasco, atualmente vêm valor na componente obrigacionista