As estratégias para adicionar diversificação e descorrelação às carteiras foram tema na primeira edição do Fórum de Gestão de Ativos, perante um contexto de incerteza, que deverá persistir e requerer uma abordagem distinta à gestão de carteiras.
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Vários foram os temas de interesse para a comunidade de gestão de ativos nacional que se falaram durante a primeira edição do Fórum de Gestão de Ativos da FundsPeople em parceria com a APFIPP. As estratégias para adicionar diversificação e descorrelação às carteiras não foram exceção. Ralph Elder, managing director da BNY Investments na Península Ibérica, Ramón Carrasco, business development director na Carmignac e Francisco Amorim, responsável na Península Ibérica da Jupiter Asset Management, aportaram a sua opinião acerca do contexto atual do mercado e ideias sobre como descorrelacionar e diversificar as carteiras tradicionais.
“Falou-se do grande reset que aconteceu em 2022, com a subida das taxas, mas ainda maior reset terá sido o mais recente, com Donald Trump a presidir novamente aos Estados Unidos”, introduziu Ralph Elder. Para o profissional, o impacto desta vitória eleitoral dever-se-á sentir de forma distinta, conforme se está investido deste ou do outro lado do Atlântico. “Se se está investido nos Estados Unidos, este será um momento bastante feliz, e se Donald Trump puser em prática nem que seja metade do que poderão ser as suas políticas, veremos, provavelmente, os mercados a continuar em subida. São medidas muito pro-growth”, aponta.
Contudo, como diz, “vivemos num mundo incerto e Donald Trump é, de facto, imprevisível. Isso vai gerar volatilidade”. Para Ralph Elder esta incerteza transparece no mercado de treasuries, que, segundo diz, “é normal que transpareça algum nervosismo, quando se perspetivam deficits da escala que se esperam e considerando que, mais cedo ou mais tarde, o país terá que emitir dívida a mais longo prazo do que tem conseguido fazer. Adicionalmente, em algum ponto, as políticas de Trump vão alimentar a inflação e isso vai gerar mais volatilidade”.
Se se está investido na Europa, o cenário é outro, na sua opinião. “Antes de Trump reconquistar o poder, acreditávamos que a Europa podia surpreender pela positiva em relação às perspetivas desastrosas que prevaleciam. Isso mudou. Muitas das medidas que se podem tomar do outro lado do Atlântico podem afetar as muitas empresas exportadoras da Europa, e o mesmo para os mercados emergentes”, destaca.
Já Ramón Carrasco reforça a mensagem e coloca muito ênfase em duas palavras: inflação e volatilidade. “O legado que os últimos anos nos deixaram é impressionante. A guerra na Ucrânia e outros eventos geopolíticos, a pandemia, a subida da inflação e das taxas de juro… tudo isto gerou um contexto de volatilidade que deverá perdurar”, diz o profissional da Carmignac.
Segundo destaca, fazer previsões ou confiar nelas, é muito difícil e ingrato. “Isso viu-se nas expetativas de cortes de taxas por parte da Reserva Federal. No início do ano esperavam-se seis cortes e finalmente, a taxa diretora foi reduzida em apenas 100 pontos de base em 2024. Para 2025 vamos certamente continuar num contexto em que fazer previsões é bastante complicado e em que os temas macro vão ser chave”. Em tal contexto, o profissional reforça uma mensagem que lhe é caraterística: “A flexibilidade na gestão das carteiras é um fator determinante para navegar na incerteza”.
Para Francisco Amorim, por seu lado, há que olhar mais à frente no horizonte e a verdade é que “a festa não acabou, mas veem-se algumas nuvens cinzentas no horizonte”, como descreve. Vê estas nuvens a transparecer nos indicadores económicos avançados, mas ainda sem se refletir em outros indicadores com maior diferimento na reação, como o são o comportamento do consumidor e o mercado imobiliário.
“Agora que estamos num ciclo de descida de taxas que convive com duas guerras e rotações de estilos nos mercados de ações, há muitas distorções que se geram e que aumentam a volatilidade e incerteza”, diz. No entanto, reforça, “a volatilidade é uma oportunidade e torna-se cada vez mais importante nestes cenários de incerteza encontrar estratégias que permitam reforçar a diversificação e descorrelacionar as carteiras”, destaca.
Diversificação e descorrelação
Perante uma perspetiva unânime, nesta mesa redonda, de que o caminho será forrado a volatilidade, Ramón Carrasco acredita que até numa classe de ativos tão tradicional como o rendimento fixo, há sub-segmentos que proporcionam a tão apreciada diversificação. “Podemos falar do que está caro ou barato, mas no final do dia o que interessa é se estamos a ser adequadamente remunerados pelo risco que assumimos. Em rendimento fixo, podemos dizer que a resposta é sim, mas não numa perspetiva de comprar seja o que for”, expõe.
Para o profissional há uma série de instrumentos que adicionam valor e rendimento a uma carteira de obrigações, como são a dívida subordinada ou os CLO, “instrumentos que nada têm que ver com as mortgage backed securities e cujas yields são muito atrativas para o risco que trazem consigo”, diz.
Já para Ralph Elder, num mercado em que os fluxos para os ETF têm preenchido os títulos, o extremo oposto da gestão de ativos, o retorno absoluto, com alfa na sua versão mais pura, deverá recuperar muito do seu apelo. “Depois da crise de 2008, com os bancos centrais a drogar o sistema com a sua política monetária, fez sentido para muitos investidores comprar beta”. Para o profissional, foi um ambiente fantástico para a gestão passiva e péssimo para retorno absoluto, que precisa de volatilidade, distorção e taxas de juro. “Esse mundo já não existe”, diz.
Como explica, avançámos para um mundo em que é a política fiscal que o guia e não a política monetária. “Não é por acaso que as estratégias de retorno absoluto têm funcionado perfeitamente nos últimos anos. Têm encontrado o ambiente que permite que funcionem. Há que lhes prestar atenção!”, exclama.
Francisco Amorim termina o painel sugerindo um antigo descorrelacionador: o ouro. “É um ativo tradicional que é usado há muitos séculos para descorrelacionar. Depois de uma travessia do deserto em que não se comportou como deveria - fortemente motivado pelas condições económicas prevalecentes - temos agora uma perspetiva muito positiva para o comportamento do metal precioso”, diz.
O profissional relembra o papel do ouro como reserva de valor durante séculos, tendo inclusive sido utilizado como moeda ou como referência para o valor do dinheiro. “Essa capacidade de reserva de valor perdurou e em 2022, com a volatilidade e todas a tensões geopolíticas, o ouro começou a mostrar o seu brilho e a renovar os seus records de preços”. “Vemos compras muito agressivas por parte de alguns bancos centrais e este novo ciclo de taxas de juro é altamente favorável para ouro”, acrescenta.
Já a prata, por seu lado, acredita que beneficia dos mesmos drivers, com um ponto adicional: “A prata é utilizada como condutor em quase tudo o que é tecnologia digital”. “Ambos os metais são perfeitos para descorrelacionar carteiras”, termina.