Volatilidade estrutural e nova ordem macro: o plano da Candriam no crédito

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Créditos: Aaron Burden (Unsplash)

A gestora Candriam reforçou a sua mensagem de cautela tática perante um contexto de crédito que está longe de se estabilizar. "A volatilidade não é passageira; veio para ficar. E, nesse ambiente, a chave é ser flexível, ágil e oportunista", afirmou Charudatta Shende, estratega de Obrigações da gestora, durante uma apresentação em Madrid. A entidade aposta em estratégias ativas, com especial ênfase no crédito de curta duração e mandatos long/short, para captar valor sem perder o controlo do risco.

A perspetiva dos gestores assenta num ambiente fragmentado: crescentes pressões populistas, contínua desglobalização comercial e preocupação crescente com a sustentabilidade fiscal, especialmente nos EUA. "Já não se trata apenas de Trump: mesmo com Biden, vimos a continuação da agenda protecionista. Isto tem implicações para o crescimento, a inflação e as taxas de juro, mas também para a volatilidade", explicou Shende.

Segundo a entidade, a zona euro apresenta um perfil macroeconómico mais favorável do que os EUA, com uma inflação contida e um banco central mais flexível. Isso leva a Candriam a preferir a duração em euros face à duração em dólares, especialmente considerando que o BCE já iniciou o seu ciclo de cortes de taxas.

Seletividade setorial e prémios de risco táticos

No caso do investment grade, a entidade antecipa estabilidade fundamental e um contexto técnico construtivo, dado que o aumento das emissões em maio foi também acompanhado por maiores entradas de capital para esta classe de ativos. A mensagem é clara: "Os fundamentais do crédito mantêm-se estáveis na zona euro. Existem alguns setores sob pressão, mas também muitas oportunidades caso a caso".

Segundo dados da Candriam, a 30 de abril os fluxos de capital regressaram ao mercado após os movimentos de abril. As emissões de dívida IG alcançaram os 35.000 milhões de euros numa única semana. Nesse ambiente, os spreads ainda refletem um prémio atrativo. De acordo com Shende, "em ambientes bearish, esse prémio gera oportunidades para gestores com viés tático".

A mensagem foi mais prudente no segmento de high yield. Nicolas Jullien, diretor global de Obrigações e gestor da estratégia de High Yield, destacou o aumento dos incumprimentos nos EUA (perto de 6%) e uma previsão de 3%-4% para a Europa. Alertou para o crescente aparecimento de fallen angels, especialmente nos EUA, e para a necessidade de uma seleção rigorosa perante a ampla dispersão setorial.

"Algumas empresas com notação BBB estão prestes a perder o investement grade. Isso pode alterar significativamente os fluxos de fundos", advertiu. Na sua opinião, a chave está em evitar os setores cíclicos expostos a tarifas e focar-se em empresas defensivas.

Dois outros gráficos destacados da apresentação ilustram este cenário. O primeiro mostra a evolução das taxas de incumprimento a 12 meses nos EUA e na Europa, evidenciando uma divergência crescente: 5,81% nos EUA face a 2,46% na Europa. 

O segundo gráfico mostra os fluxos líquidos para fundos high yield. Após um início de ano sólido, em abril verificaram-se saídas significativas que apagaram os ganhos anteriores.

Oportunidades de crédito na Candriam: defensiva mas flexível

O Candriam Bonds Credit Opportunities, fundo com Rating FundsPeople, com aproximadamente 660 milhões de euros em ativos sob gestão no final de abril de 2025, baseia-se em dois pilares: uma carteira principal de curta duração (atualmente 70%) e uma carteira oportunista que permite posições longas/curtas. A sua abordagem não está sujeita a índices de referência, o que facilita a atuação tática.

A equipa destaca que a estratégia resistiu eficazmente a cenários adversos de mercado. Por exemplo, em 2022, a queda foi de apenas 3,7% face aos -12% do mercado high yield. E em 2024 captou o rally com uma rentabilidade positiva de 4,5%. No final de abril, o fundo oferecia uma rentabilidade de 3,6% no pior cenário, com uma duração efetiva de 0,9 e uma notação média de BB.

Crédito Alpha: estratégias long/short para ambientes dispersos

A outra proposta destacada, também com Rating FundsPeople, é o Candriam Bonds Credit Alpha, um fundo long/short que combina posições fundamentais e quantitativas, sem viés direcional líquido. O seu objetivo é isolar a geração de alfa independentemente do ciclo de crédito, gerando um fluxo de retorno consistente através de situações especiais e valor relativo entre emitentes.

Com uma rentabilidade de 5,15% em 2024 e uma volatilidade de 1,04%, o seu enfoque centra-se na deteção de valor relativo entre emitentes e estruturas de capital, combinando uma análise bottom-up e coberturas táticas. As posições longas nos setores da saúde e embalagens, e as posições curtas na indústria automóvel e consumo, foram os principais motores da rentabilidade deste ano, aproveitando a crescente dispersão nos setores cíclicos.