Warren Buffett completa 90 anos a desafiar o mercado

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Photos4JDMorris, Flickr, Creative Commons

No passado domingo Warren Buffett completou 90 anos. Conhecido como o "Oráculo de Omaha" foi discípulo do reconhecido Benjamim Graham, uma figura-chave para entender a indústria de fundos atual. Buffett tornou-se numa referência no mundo dos investimentos. Revemos as suas origens e a sua trajetória na indústria.

Warren Edward Buffett nasceu a 30 de agosto de 1930 em Omaha, Nebraska. Os seus dotes como investidor sobressaíram muito cedo. Com apenas 11 anos Buffett fez o seu primeiro investimento e comprou três ações da Cities Service Preferred a 38 dólares por ação. Ainda que tenha visto o seu preço descer para os 27 dólares, manteve a calma e vendeu a 40 dólares. Aprendeu uma lição vital no mundo dos investimentos: a paciência.

Na sua formação e estilo de investimento influcienciou, e de forma bastante significativa, a figura de Benjamin Graham. Ambos fiéis defensores do estilo “value”, que tem perdido força nos últimos anos, basearam os seus investimentos na identificação de empresas que não estavam a ser valorizadas pelo mercado. Desta maneira, compravam ações a um preço acessível, aumentando a sua margem de segurança e obtendo  lucros copiosos antes da sua revalorização.

Todas as técnicas aprendidas na sua relação com Graham foram postas em prática no momento de criar em 1956 a Buffett Partnership Ltd. Apesar do seu sucesso, foi dissolvida em 1969 e centrou-se no desenvolvimento da Berkshire Hathaway (empresa têxtil no seu início na qual começou a acumular ações dos anos 60 e chegou a controlar em 1965). Não obstante, e segundo reconheceu o próprio foi um dos seus maiores erros. É certo que cedo se deu conta de que a indústria têxtil nos EUA tinha pouca procura e começou a eliminar gradualmente a fabricação têxtil. Conservou o nome e relançou a empresa como holding de investimentos.

Os seus grandes acertos

Entre os seus grandes acertos estão empresas como a See’s Candies, fabricante de doces e chocolates, que adquiriu em 1972. Em menos de 30 anos tinha conseguido uma rentabilidade anualizada de 32%. Onde está o segredo? Na fixação de preços. Buffett explicou numa ocasião que “o fator mais importante que devemos examinar no momento de valorizar uma empresa é o seu poder de fixação de preços. Se tivermos a capacidade de subir os preços sem perder negócios para as mãos de um concorrente, temos um negócio muito bom”. Outra muito boa eleição foi a Coca-Cola que faz parte da sua carteira de investimento desde os anos 80, quando negociava a menos de 2,5 dólares por ação. Atualmente negoceia a mais de 47 dólares por ação.

O setor financeiro também reportou grandes lucros através de investimentos em entidades como o Bank of America, Wells Fargo e American Express. Apesar de não ter entrado em empresas tecnológicas como a Amazon e a Google, o que classificou posteriormente como um erro, com exceção da Apple que foi uma das suas apostas mais rentáveis. Ainda que num primeiro momento tenha investido na empresa de forma tímida, em 2018 aumentou consideravelmente a sua participação e atualmente é o terceiro acionista da empresa, só atrás da Vanguard e da BlackRock.

Nos seus últimos resultados da Berkshire Hataway referentes ao primeiro semestre de 2020 que se publicaram no passado dia 8 de agosto aproximadamente 71% do valor agregado da empresa concentrou-se em quatro empresas que foram mencionadas no artigo: (American Express Company: 14.400 milhões de dólares; Apple Inc: 91.500 milhões; Bank of America Corporation: 22.600 milhões e The Coca-Cola Company: 17.900 milhões).

Apesar de ser certo que Warren Buffett soube identificar oportunidades de investimento claras e rentáveis, em alguns casos como já mencionámos não foi tão linear. De facto, em maio um dos seus últimos movimentos foi desfazer-se do investimento (com perdas) que tinha realizado em quatro linhas aéreas (United Airlines, American Airlines, Southwest e Delta Airlines) perante a crise da COVID-19. O mesmo explica que tinha sido um erro seu no momento de avaliar os negócios a longo prazo.

Outras falhas que carrega às costas foram investimentos em empresas como a Waumbec Textile Company, General Reinsurance, Conoco Phillips ou Tesco, onde Buffett não percebeu que os resultados de 2014, piores do que o esperado, não eram um ato isolado, mas um problema estrutural. O mercado percebeu e a perda de valor da empresa surpreendeu Buffett.

Erros à parte, Buffett deixou a sua marca e ainda continua a caminhar na indústria da gestão de ativos. O conhecido no mercado como o “Oráculo de Omaha” ganhou a fama de guru dos investimentos e da estratégia value. A sua adaptação aos tempos é indiscutível, a nova realidade que nos trouxe a pandemia de COVID-19 também não será exceção.