“2012 será recordado com mais carinho pelos investidores do que pelos economistas”

Apesar do débil crescimento mundial em 2012, os mercados accionista e o de obrigações corporativas ultrapassaram com uma margem considerável os activos “livres de risco” como o mercado monetário ou o de dívida pública de países centrais.

Os mercados foram favorecidos pela manutenção das taxas de juro reais em níveis negativos, consequência da agressiva política monetária expansiva, com o objectivo de aliviar a carga de desalavancagem do sector público, do bancário e das famílias. As políticas dos bancos centrais levaram a que as taxas de juros e as rendibilidades da dívida dos países centrais se situassem abaixo das taxas de inflação internas dos EUA, Reino Unido, países centrais europeus e Japão. Isto conduziu os investidores, tradicionalmente avessos ao risco, a optarem por activos com maior rendibilidade a fim de se protegerem contra a inflação. Neste contexto, os três temas macro-económicos que marcaram a agenda durante o ano, sendo que cada um influenciou, num momento determinado, o sentimento dos investidores, foram a crise da dívida da Zona Euro, o receio de uma desaceleração de crescimento da economia chinesa e o “precípicio fiscal” nos Estados Unidos.

A crise do euro reafirmou-se na Primavera e início do Verão quando na Grécia se agudizou a crise política, levando a crer que poderia sair do euro, mesmo antes de uma expulsão. Nesta altura, ficou mais evidente que Espanha necessitaria de um resgate financeiro pela combinação de factores como o endividamente das comunidades autónomas e as imparidades crescentes no sector bancário. No entanto, a situação alterou-se e os ânimos dos investidores tranquilizaram-se, em finais de Julho, quando o Banco Central Europeu (BCE) se disponibilizou a “fazer o que fosse necessário” para preservar a moeda única – o euro. A Alemanha também começou a adoptar um papel mais activo, em 2012, para ajudar a resolver a crise, convertendo-se numa das classes de activos com melhor retorno.

O PIB chinês registou, no terceiro trimestre deste ano, uns impressionantes 9,1% a uma taxa intertrimestral anualizada (segundo dados oficiais), o que aliviou os receios de um período prolongado de desaceleração do crescimento. Neste momento, no final do ano, os principais indicadores confirmam um crescimento relativamente forte à medida que avançamos em direccão a 201, o que contribui para uma melhor percepção dos mercados emergentes, depois de 2011 decepcionante.

Nos Estados Unidos, o risco do impacto, avaliado em 600.000 milhões de dólares, devido a um aumento de impostos e corte na despesa pública a entrar em vigor no início de 2012 (o denominado “precipício fiscal”) levou os investidores a mostrarem um nervosismo cada vez maior na segunda metade de 2012. É claramente evidente que se entrará em recessão se estas medidas se mantiverem durante todo o ano de 2013. Já se verificou que as empresas estão a cortar no investimento devido à incerteza relativamente aos impostos e a procura dos consumidores. Apesar de estarmos certos que os políticos chegarão a um acodo para evitar piores consequências das medidas iminentes, dos três riscos descritos, o “precipício fiscal” é aquele que tem uma capacidade de perturbação da confiança dos investidores nos primeiros meses de 2013.