2023, mais um ano de crescimento espetacular nos fundos de private debt no Luxemburgo

Créditos: Arno Senoner

É o terceiro ano de crescimento espetacular dos fundos de dívida privada no Luxemburgo. Segundo o último Private Debt Fund Survey elaborado pela KPMG e pela ALFI, o património neste segmento ascende aos 404.400 milhões de euros em 2023. Mas estes valores seguem-se a dois anos igualmente potentes. Segundo os anteriores estudos, a categoria passou dos 181.700 milhões em 2021 para os 267.800 em 2022, e agora atinge um novo record com um crescimento médio de 51% entre junho de 2022 e junho de 2023, entre os 12 depositários inquiridos.

O que explica a atratividade dos fundos private debt

Há múltiplos fatores que explicam este crescimento: o atual contexto macroeconómico, com uma elevada inflação combinada com um baixo crescimento económico na UE e elevadas taxas de juro nominais, jogou conjuntamente a favor dos fundos de dívida privada (por parte dos investidores). “Durante o ano passado, as dificuldades em aceder ao mercado de empréstimos bancários sindicados fizeram dos fundos de dívida privada uma alternativa atrativa (por parte dos devedores)”, acrescentam da KPMG.

O mercado de fundos de dívida privada também se está a tornar numa importante fonte de capital para novas aquisições e refinanciamento em diversos setores económicos, enquanto o mercado de empréstimos bancários sindicados esteve calmo o ano passado. “A dívida privada também parece imune à inflação, já que se baseia, em grande medida, em caraterísticas de taxa variável e vencimentos mais curtos”, apontam.

A atratividade desta classe de ativos não deixa de crescer, deteta Julien Bieber, sócio da área fiscal, Investimentos Alternativos e codiretor de Dívida Privada na KPMG no Luxemburgo. “Estamos a observar como a dívida privada alcança novos níveis de aceitação generalizada em comparação com os empréstimos bancários tradicionais, o que se repercute na forma com que os devedores acedem aos pacotes de dívida e os negociam. A procura de financiamento de dívida continua sólida, como o financiamento de projetos sustentáveis em muito setores económicos e grandes infraestruturas”, aponta.

Quem investe em fundos de dívida privada no Luxemburgo

O investidor em fundos de dívida privada continua a ser eminentemente institucional. A representação do retalho e da banca privada é ainda simbólica. No entanto, observa-se uma mudança na tendência, com um crescimento de 2,5% no segmento wealth em comparação com o ano passado.

O que se mantém, sim, é que os fundos luxemburgueses da categoria são produtos europeus para investidores europeus. Ou seja, a maioria dos investidores provém da UE (46,5%) e da Europa alargada (27%), e os ativos nas carteiras são também predominantemente investimentos na Europa. Assim, a UE (42%) e a Europa alargada (27%) continuam a ser o objetivo de investimento preferido, seguido da América do Norte (13%).

Como se investe em fundos de dívida privada no Luxemburgo

Por ativos também há uma clara preferência. 64% dos fundos de dívida privada no Luxemburgo são de direct lending. “É possível que um contexto macroeconómico mais complicado propicie um crescimento dos veículos de dívida distressed, mas, de momento, estes apenas representam 13%”, prevê Julien Bieber.

Há bastante diversidade nas carteiras se olharmos para a divisão setorial. Embora a maior proporção esteja investida em Infraestruturas e Transportes (18%), é seguida de perto pela Energia e Meio Ambiente e Produtos Químicos, TI, Telecomunicações e Comunicações (16%) e, logo a seguir, Ciências da Vida (15%).