30.º aniversário do MSCI Emerging Markets (I): evolução do índice em três décadas

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Slava Bowman, Unsplash

A Companhia Holandesa das Índias Orientais, fundada em 1602, foi a primeira empresa do mundo a emitir obrigações e ações ao público, tendo sido pioneira no financiamento estrangeiro direto e a primeira multinacional com negócios em vários países em vias de desenvolvimento. Seis séculos depois, o interesse pelo mundo emergente é ainda maior e este ano celebra-se uma data especial: o 30.º aniversario do índice MSCI Emerging Markets.

Especialistas da AXA IM acabam de publicar um relatório onde reúnem os momentos mais importantes da evolução do indicador desde 1988 até à atualidade. Da empresa, recordam que o primeiro fundo de ações emergentes foi lançado em 1986 pelo Capital Group, juntamente com o braço de investimento do Banco Mundial, a Corporação Financeira Internacional (IFC na sigla em inglês). Era um fundo fechado com um património de 50 milhões de dólares. No ano seguinte, a Franklin Templeton lançou o icónico Templeton Emerging Markets Fund, gerido por Mark Mobius e considerado o primeiro fundo de investimento open-end que investia nesse universo.

A partir da AXA IM recordam que, nessa época, a etiqueta “mercados emergentes” era bastante recente no mercado. “Utilizada pelo economista do Banco Mundial Antoine van Agtmael numa conferência de investimento em 1981, a expressão foi usada para substituir a mais frequente expressão de 'terceiro mundo', que certamente não era uma frase que cativasse os investidores”, indicam a partir da empresa. Em 1987, lançou-se o índice IFC Emerging Markets (adquirido pela S&P em 2000) e o MSCI lançou o seu próprio indicador em 1988 (ainda que a data formal de lançamento seja a 31 de dezembro de 1987).

Evolução por países

No ano do seu lançamento, o MSCI EM apenas reunia as ações de dez países: três asiáticos (46%), quatro latino-americanos (37%), dois europeus (Portugal e Grécia, com um peso de 13% no índice) e a Jordânia como única representante do Médio Oriente (3%). O indicador foi refletindo na sua composição a evolução económica dos diferentes países: Portugal ascendeu formalmente a país desenvolvido em 1997 e a Grécia em 2001, ainda que posteriormente se tenha convertido no primeiro país da história a voltar ao status de emergente em 2013 como consequência da crise económica, voltando a figurar no indicador. Ao mesmo tempo, a Indonésia e a Turquia incorporam-se no MSCI Emerging Markets em 1989, enquanto a China engrossou as filas do indicador em 1996 com um peso minúsculo de 0,46% (hoje representa 31% do indicador).

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O final formal da Guerra Fria em 1991 também abriu novas oportunidades de investimento: entre 1995 e 1996, incorporaram-se no indicador a Polónia, República Checa e Hungria, enquanto a Rússia sai em 1997. O fim do apartheid na África do Sul também em 1991 fez com que o país se estreasse no índice em 1995. Outro ano prolífero em estreias foi 1994, com a incorporação da Colômbia, Índia, Paquistão, Sri Lanka, Perú e Venezuela. Desta forma, se no ano de lançamento do MSCI Emerging Markets este apenas englobava dez países, em 1997 já tinha expandido a mais de 26. Tendo em conta que Israel passou a considerar-se um país desenvolvido em 2010 e que a Malásia foi eliminada do índice em 1998 devido à imposição de controlos de capital, ainda que tenha regressado em 2000, atualmente o MSCI EM oferece exposição a 24 países… ainda que continue muito concentrado no top dez de países constituintes, que têm um peso de pelo menos 80% desde o lançamento do indicador.

xOs especialistas da AXA IM constatam que a presença de economias asiáticas – especialmente a China – ganhou grande protagonismo no indicador desde a crise asiática de 1997. Desta forma, hoje a Ásia domina cerca de 75% do índice, face à exposição de 10% a 15% da América Latina e Leste da Europa, respetivamente. “Esta situação provavelmente irá reforçar-se nos próximos anos, com a decisão do MSCI de aumentar o peso da China, com a inclusão gradual das ações chinesas classe A”, indicam a partir da gestora francesa. Os seus analistas acrescentam que o crescimento “é provável devido ao crescente alinhamento com os padrões internacionais, através da melhoria na acessibilidade, o relaxamento dos limites diários de trading, menos suspensão de cotações e relaxamento das restrições em torno da criação de veículos de investimento vinculados ao índice”.

De momento, quase 30% dos países constituintes são classificados como nações de “alto rendimento”, de acordo com a terminologia do Banco Mundial. A partir da AXA IM acreditam que “a Coreia do Sul e Taiwan podem ascender para a categoria de países desenvolvidos a qualquer momento, o que poderá contrariar o domínio da Ásia no índice”.

Evolução por setores

xA composição setorial do índice apresentou uma evolução ainda mais notável que a dos países. Ainda que o MSCI Emerging Markets tenha arrancado com uma forte exposição a matérias-primas – petróleo e mineradoras representam cerca de um terço do índice – hoje em dia é o setor tecnológico o que apresenta uma influência significativa: as tecnologias da informação correspondem a 27% do indicador, porção que representa também o maior peso de um único setor em qualquer índice de ações globais na atualidade. Para além disso, da AXA IM destacam que “o setor tecnológico passou de estar centrado na produção de semicondutores, que tendia a ser mais industrial por natureza, para centrar-se em software e serviços”.

Esta evolução trouxe consigo “fontes de rendimento para a classe de ativos, até uma exposição mais local, com grandes nomes na internet, consumo e finanças centrados nos mercados locais”. De facto, esta evolução faz parte de uma tendência mais ampla, dado que na gestora vaticinam que “os lucros das ações emergentes devem estar daqui para a frente mais condicionados por fatores locais dado o ciclo de exportações”.

Desequilíbrios

xA pesar das grandes mudanças vividas pelo indicador, ainda resta margem de melhoria para apresentar uma maior representatividade. Por exemplo, os analistas da AXA IM indicam que a capitalização das ações emergentes representa apenas 14% do PIB agregado, face aos 73% do mundo desenvolvido. “À medida que se desenvolve a infraestrutura do mercado, este spread deverá estreitar-se, oferecendo uma imensa oportunidade para os investidores de ações emergentes”.