Segundo a gestora, estes mercados estão a atravessar um momento muito bom que não costuma ser apresentado muitas vezes. “Os observadores com experiência estão conscientes de que aqui as boas oportunidades não duram para sempre”.
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O arranque do ano foi fulcral nos mercados emergentes. Após um 2018 para esquecer, rapidamente esta classe de ativos volta a beneficiar os investidores. O nervosismo do ano passado face à redução da liquidez internacional, a excecionalidade americana e as saídas de capitais parecem agora uma recordação longínqua. Ao nível de fluxos está a produzir-se um fenómeno muito curioso na Europa. O dinheiro está a sair dos mercados desenvolvidos e a entrar nos emergentes. Algo que está a acontecer nas ações, mas especialmente nas obrigações. E esta última tendência é a que vamos analisar neste artigo através dos olhos da Fidelity.
“Os mercados emergentes encontram-se num momento doce que não costuma ser apresentado muitas vezes. As oportunidades devem ser agarradas e os observadores com experiência nos mercados emergentes estão conscientes de que as boas oportunidades não duram para sempre. Contudo, num momento em que provavelmente o dólar americano e os rendimentos reais dos EUA atingiram máximos neste ciclo, acreditamos que as rentabilidades para os investidores nos mercados emergentes poderão manter-se durante os próximos meses”, manifesta Paul Greer, gestor de fundos de obrigações na entidade.
Ainda que não se possam evitar os riscos, o especialista acredita que existem várias razões pelas quais os investidores estão a regressar a esta classe de ativos depois de um 2018 nefasto. “Sem dúvida, a conjuntura externa tornou-se mais favorável para os mercados emergentes. Num contexto marcado pelo abrandamento das previsões de crescimento, tanto dentro como fora das suas fronteiras, a Reserva Federal dos EUA apressou-se a mudar o seu discurso apesar das tensões do mercado laboral e das pressões salariais crescentes. Ao reconhecer a possibilidade de que as taxas de juro poderão permanecer estáveis no futuro imediato, apontando ao mesmo tempo para um abrandamento do atenuamento do seu balanço, a Fed deu luz verde para a tolerância ao risco”.
Muito se falou sobre os riscos de recessão dos EUA à luz das dinâmicas típicas do final de ciclo, como o endividamento empresarial elevado e a curva de taxas plana. Para os mercados emergentes, a chave agora é se a Fed pode guiar o voo da economia face a uma aterragem ideal que a aproxime do crescimento tendencial: nem demasiado nem pouco. “A diminuição das expectativas de crescimento dos EUA e a conseguinte revisão em baixa da trajetória prevista dos fundos da Fed prejudicou o dólar face às moedas emergentes, que continuam a recuperar dos seus mínimos de 2018 depois de viver o seu particular calvário no passado mês de setembro. O bilhete verde, já prejudicado pelo duplo défice parece cada vez mais vulnerável”, refere o especialista.
Estabeleceram-se muitos paralelismos entre o balanço atual dos riscos nos mercados emergentes e a recuperação destes no início de 2016. “Observam-se várias semelhanças surpreendentes: a visão negativa global, uma Fed menos disposta a subir as taxas, o declínio do dólar, o desmoronamento dos preços do petróleo, as baixas valorações da dívida emergente e a política monetária mais permissiva na China”.
Não obstante, também existem notáveis diferenças: “o limiar político para que se ative outra ronda de flexibilização quantitativa elevou-se muito, enquanto os níveis de dívida das empresas americanas e das bolsas se encontram numa situação menos favorável. Além disso soma-se a China, que outrora representava um saudável excedente por conta corrente total nos mercados emergentes que agora se reduziu, apesar dos ajustes de países deficitários como a Turquia e o Brasil por causa da recessão”.
Depois do bom comportamento dos mercados de ativos em janeiro, alguns atores do mercado de dívida emergente, talvez incomodados com o posicionamento ou consternados pela experiência de 2018, estão a questionar nestes momentos a solidez da recuperação. “Certamente, não estamos perante a clássica tendência de subida dos mercados emergentes. O crescimento e os intercâmbios comerciais continuam a decepcionar no mundo em desenvolvimento e os últimos dados dos PMI manufatureiros e os novos pedidos sugerem uma maior apatia da atividade”.
Um fator determinante para o "desmaio" do crescimento emergente foi o endurecimento das condições financeiras internacionais durante os últimos doze meses e a posterior saída em massa de fluxos de investimentos de capitais desta classe de ativos dos não residentes. Outro fator chave é a moderação económica que está a viver a China, afetada pela debilidade do consumo e pela desaceleração do impulso do crédito. Até agora, a resposta que deram as autoridades chinesas, tanto no plano monetário como no fiscal, orientou a economia interna e foi de menos a mais.
Na Fidelity esperam que a intensidade da resposta aumente a meio do ano à medida que o presidente Xi se centre em cumprir a sua promessa de duplicar o PIB per capita da China entre 2010 e 2020, o que faria com que os planos de redução do endividamento fossem temporariamente menos prioritários. “Qualquer contratempo nas negociações comerciais em marcha entre os EUA e a China provavelmente acelera este processo”, assegura o especialista.
Um possível incentivo para o crescimento emergente este ano e que chamará mais à atenção são as políticas monetárias mais expansivas dos bancos centrais. Vários países emergentes apresentam agora taxas de referência elevadas, expectativas de inflação em baixa e vastas falhas de produção. “Se a nossa tese em torno da depreciação do dólar se confirmar, países como a Turquia, o México, a Indonésia e a África do Sul, entre outros, poderão tratar de pôr a marcha atrás nas subidas de taxas do ano passado e flexibilizar as condições financeiras. Após um difícil 2018, acreditamos que o crescimento emergente vai recuperar e que o diferencial com os mercados desenvolvidos vai divergir outra vez, o que estimulará as rentabilidades sobre o capital”.
Obviamente, o resto do ano não vai ser uma travessia tranquila. “Raramente é assim para os investidores nos mercados emergentes e debaixo do superficial observam uma grande quantidade de riscos potenciais. Poderão materializar-se facilmente obstáculos de índole interna na forma de sanções sobre a Rússia, decepções na reforma fiscal no Brasil, conflitos civis na Venezuela ou medo de uma restruturação de dívida no Líbano. A política é outro possível foco de problemas que nunca se apaga do todo no mundo emergente. Vão celebrar-se uma grande quantidade de eleições nacionais em territórios voláteis como a Índia, Indonésia, Argentina, Ucrânia, Israel, África do Sul e Nigéria, que poderão voltar a deixar os investidores nervosos e aumentar a volatilidade nos mercados”.
O ano passado destacou-se pelas significativas transações políticas que se viveram numa grande variedade de países como o Brasil, o México, o Paquistão e o Zimbabué. Se em 2018 tudo girou em torno das mudanças no regime, na gestora pensam que 2019 se caracterizará pela continuidade política e que os governantes atuais ampliem os seus mandatos e mantenham o rumo político atual. “Após as traumáticas descidas de 2018, parece que os mercados emergentes voltam a passar por um bom momento. Os investidores estão a regressar atraídos pelas baixas valorações dos diferenciais e as moedas, em conjunto com as vantagens de diversificação que brinca uma classe de ativo que muitas vezes não se compreende bem”, conclui Greer.