As gestoras internacionais têm em mãos o desafio de apresentar aos clientes soluções que suprimam a falta de retorno nas classes mais tradicionais. Três vendas de gestoras falaram sobre essa problemática, mas também sobre outras temáticas relevantes. Depois de lhe mostrarmos a forma como três gestoras internacionais se estão a posicionar no contacto com o […]
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As gestoras internacionais têm em mãos o desafio de apresentar aos clientes soluções que suprimam a falta de retorno nas classes mais tradicionais. Três vendas de gestoras falaram sobre essa problemática, mas também sobre outras temáticas relevantes.
Depois de lhe mostrarmos a forma como três gestoras internacionais se estão a posicionar no contacto com o seu cliente, e de que forma veem o mercado nacional a estabelecer-se no investimento ESG, hoje damos-lhe a conhecer outras das tendências de mercado exploradas durante a conversa com Isabel Liniers, vendas sénior da DWS, Francisco Amorim, diretor de vendas para a Península Ibérica da Jupiter Asset Management e Mário Amigo, diretor de vendas da Nordea Asset Management.
Num contexto em que se tornou difícil obter rendimento por vias mais tradicionais, quisemos perceber junto de quem vende fundos de investimento, como é que combatem essa escassez de alternativas, e que estratégias têm os clientes procurado.
A inevitabilidade de mais risco
Francisco Amorim aproveitou para destacar aquele que é um best-seller da casa no campo do rendimento fixo. Um fundo que apresenta Selo FundsPeople 2021 pela classificação de Favorito dos Analistas, no sul da Europa, como recordou o próprio profissional. “Continuamos a ver inflows num dos nossos fundos de obrigações, no caso o Jupiter Dynamic Bond”, apontou, frisando que se trata de um fundo “4x4 no fixed income, sem restrições, que permite ao investidor ter aquela posição core da carteira, que navega cada contexto de mercado”. A par desta solução, nota também uma intensa procura dos clientes por income, pois “querem manter aquela yield mais elevada e assumir um bocadinho mais de risco”. Destacou ainda a procura por “ativos mais exóticos dentro do fixed income” como, por exemplo, os CoCos ou as obrigações convertíveis.
Precisamente esse inevitável movimento de assumir mais risco é também apontado pelos outros dois participantes. Isabel Liniers destaca que têm sentido “um maior apetite dos clientes por produtos de crédito não tão tradicionais”, concretamente “produtos high yield, e produtos de obrigações mais exóticas, no nosso caso focados na Ásia”. “Se queremos oferecer yield temos de facto de oferecer soluções com um pouco mais de risco, mas que sirvam de complemento ao grosso da carteira”, enfatizou a especialista. Desse modo, destacou também a maior promoção que têm feito de ações de dividendos. “Atuam como uma almofada em alturas de volatilidade e estão a oferecer uma dividend yield de 3% ou 4%, ou seja, valores mais atrativos do que o equivalente a uma obrigação da mesma empresa”, realçou.
Do lado da Nordea AM, Mário Amigo denota também um movimento em específico. Fala da “constituição de uma carteira de rendimento fixo mais barbell, ou seja, denota os clientes a dirigirem-se para a parte mais curta e, por outro lado, a assumir mais risco, nomeadamente no espetro do high yield”. Do lado dos mais qualificados ou institucionais, testemunha interesse por “dívida privada”, pois “estão dispostos a ir para ativos com mais restrições de liquidez para capturar um prémio”. Paralelamente, o fixed income de mercados emergentes é outra das tendências onde veem oportunidades, concretamente na parte corporativa. O profissional não esqueceu outra das alternativas que veem como eficaz em momentos de incerteza: os multiativos. “Trabalhar com um produto em que o gestor tem o conhecimento de contrabalanceamento dos vetores de risco neste ambiente é ótimo”, frisou.
Nesta tentativa de encontrar soluções na busca por retorno, os três participantes foram salpicando as respostas também com soluções mais alternativas e ilíquidas, como o private equity, a dívida privada, ou a real estate debt. Mas como é que encaram estas classes de ativos? Responderam como deveriam em 2020?
Alternativos: equilíbrio vs imprevisibilidade
“A classe de alternativos é uma classe às vezes muito ingrata, porque corre bem durante alguns anos, mas depois quando esperamos que funcione pode não funcionar”, iniciou Francisco Amorim. O truque passa por ser seletivo, na opinião dos três profissionais. Se por um lado os alternativos líquidos acabaram por ser um “campo de deceção” no ano passado, outros, ilíquidos, como os hedge funds, “saíram-se bem na fotografia em 2020”, destaca o vendas da Jupiter. Na sua perspetiva, a proximidade com o selecionador é fundamental, de forma a explicar o ativo que têm à sua frente. “Um fundo alternativo no seu caminho de performance pode ter uma queda abrupta até duas vezes o desvio padrão”, refere citando um estudo. No entanto, Francisco Amorim mostra-se firme sobre as vantagens: “Continuo a acreditar que é um investimento importante numa carteira de médio longo prazo e diversificada”.
Na mesma linha de pensamento quanto a importância da classe de alternativos, Mário Amigo recorda que “vários eventos têm mostrado como é importante manter o equilíbrio nos fatores de risco de uma carteira”. Aponta que, por exemplo, a gama de fundos Alpha da Nordea AM, que se insere precisamente na parte de alternativos líquidos, “foram estratégias que se saíram muito bem nestes momentos de crise, por causa da sua abordagem bottom up, olhando o risco e equilibrando fatores de risco tradicionais e não tradicionais, com um cuidado especial com as correlações e parâmetros de riscos e que resultam numa melhor resposta a eventos de drawdowns, menor magnitude e respostas mais rápidas”. Se no passado viu menos interesse neste tipo de estratégias, em 2021, “à medida que vimos o nível de incerteza a aumentar relativamente ao tapering, a procura aumentou”, confessa.
Para Isabel Liniers, as perspetivas dos dois colegas são válidas. “A verdade é que vivemos um contexto de retornos estelares em praticamente em todos os ativos, e é verdade que algumas das estratégias mais alternativas não brilharam da mesma maneira; mas concordo com o Mário que equilíbrio é fundamental, porque também assistimos a momentos de volatilidade e a tail risks que cada vez são mais frequentes”, assinalou. Na entidade consideram fortemente o universo das estratégias alternativas líquidas, nomeadamente os ativos reais, como as matérias-primas, real estate, ou as infraestruturas. “São estratégias nas quais temos vindo a ganhar tração porque estão a beneficiar de taxas baixas, mas também do aumento significativo da inflação. Ou seja, existem estratégias mais plain vanilla, mas que consideramos dentro do espetro dos alternativos líquidos e que podem ajudar a otimizar a diversificação de uma carteira”, comenta.
Storytelling – o segredo dos temáticos?
Por fim, um tópico que tem sido fortemente destacado na indústria de gestão de ativos, e que não poderia faltar na conversa, são os investimentos temáticos, que tanto têm encantado os investidores em 2020 e 2021. Para os três profissionais é ponto assente que o storytelling inerente aos produtos é meio caminho andado para o seu sucesso... mas é só isso?
Mário Amigo entende que nas cadeias de distribuição de fundos a história por trás da temática devido sua proximidade com o dia a dia do investidor e é importante para o sucesso, mas nos clientes institucionais, por exemplo, há mais cautela. “Vemos interesse, mas sempre com o cuidado de não ser uma alocação assim tão core”, relata. Em termos de tendências, aponta o próprio ESG como temática a receber cada vez mais interesse. “O tema do meio ambiente já se vinha a comportar bem, mas o espetro social também está em evidência. Vemos mais mobilização das empresas para começar a responder aos dados relacionados com o aspeto social. A Nordea como precursora no tema de clima, acredita que aspectos sociais também serão muito relevantes daqui para a frente e uma grande tendência”, apontou.
Nas próprias carteiras dos clientes, Isabel Liniers, vê cada vez maior espaço para “a incorporação dos temáticos vs. os ativos tradicionais”. Tal como o colega da Nordea, vê a sustentabilidade como uma megatendência em que apostam cada vez mais, a par da tecnologia. “Uma das temáticas que estamos a experimentar são os temáticos ESG. E todos os temáticos que estamos a lançar são ESG. Fizemos lançamentos também de fundos de economia marinha, infraestruturas, etc. Estamos a tentar ser first movers em estratégias que não existam, de forma a ganhar tração em ativos”, avançou.
Francisco Amorim destacou também o que têm vindo a fazer neste âmbito. “Na Jupiter já tínhamos alguns fundos temáticos, nomeadamente ESG, dos mais antigos no mercado, mais concretamente um fundo de ecologia, e sobre o qual vamos lançar uma versão SICAV para o cliente europeu”. Em 2019, por outro lado, fizeram uma parceria com uma boutique norte-americana (NZS) e lançaram um fundo inovador. “A equipa desta gestora tem uma filosofia de investimento que consideramos que é a versão ESG 2.0. No processo de investimento discorda com o que aprendemos na universidade, e procura passar do analógico ao digital. Seguem a filosofia de Non Zero Sum, em que todos beneficiam e não apenas o shareholder”, salientou.