A recuperação das matérias-primas, exemplo clássico da psicologia do investimento

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O Brent (petróleo de referência na Europa) já acumula uma recuperação de 50% desde os 30 dólares atingidos em fevereiro passado. O West Texas (de referência nos EUA) regista uma recuperação ainda mais espetacular: 70%, depois de uns perigosos 26,21 dólares a 11 de fevereiro. As outras matérias-primas acompanham esta recuperação, especialmente se nos centrarmos no caso do ouro: o aumento de volatilidade impulsionou o ativo refúgio de excelência para os 1.270 dólares a onça, o que representa uma subida de 19,2%. Terão os gestores aproveitado esta recuperação?

O sentimento é tudo

Os especialistas da NN Investment Partners observam o impacto do pessimismo – neste caso de uma forma mais ampla – sobre as decisões de investimento. “Pese a clara melhoria desde fevereiro da disposição dos investidores em assumirem risco, muitos parecem preferir o momento para permanecer à margem”. Da entidade advertem que “não estar investido significa obter um rendimento nulo ou mesmo negativo, e é improvável que este seja um investimento sustentável; mas, no ambiente mais volátil dos últimos doze meses, está patente que a convicção dos investidores sobre a direção que irá tomar o mercado diminuiu”.

Da gestora encontram uma mudança de atitude que foi notória nos indicadores comportamentais. Por exemplo, fixam-se nos níveis de tesouraria que as gestoras de fundos mantêm e que roçam máximos históricos, enquanto a confiança dos investidores segue abaixo da sua média de longo prazo (embora melhor do que quando marcou mínimos em fevereiro). Observam que os indicadores de risco em hedge  funds, multiativos e de futuros sobre matérias-primas (CTA) apontam para níveis de exposição baixos, tanto em obrigações como em ações, e além disso, o posicionamento neutral entre os gestores com posições ativas está perto do máximo.

Além disso, da NN Investment Partners acreditam que parte do pessimismo e da indecisão se pode explicar porque “o fluxo de notícias tem sido muito mais discordante nos últimos meses”. Referem-se a dados económicos e resultados empresariais, mas também a métricas de valorização de muitos segmentos de mercado, que consideram “um pouco confusos, já que as medidas de valorização em termos absolutos (em comparação com o seu próprio historial) indicam que esses níveis são excessivos (obrigações, ações dos EUA) ou neutrais (ações fora dos EUA, obrigações privadas), enquanto que as valorizações relativas (comparadas com a rendibilidade dos mercados monetários) indicam que distintos ativos estão subestimados (ações, dívida emergente, high yield), cotam a um valor razoável (dívida de empresas, ativos imobiliários) ou estão sobrevalorizados (dívida pública)”. No entanto, também notaram uma nova tendência dentro das ações: os sectores cíclicos começaram a bater os seus homólogos defensivos. Um dos factores que contribuiu para este melhor comportamento foi a mudança dos preços das matérias-primas industriais: “A energia subiu 50% desde os mínimos e o preço do aço e do ferro também aumentaram em força. Ainda assim, não é claro que o aumento do preço do petróleo seja sustentável. A OPEP, todavia, não alcançou um acordo sobre a congelação da produção e as posições especulativas líquidas estão em níveis muito elevados”, concluem.

É uma opinião semelhante à de Tom Stevenson, da Fidelity International. Na sua análise com o título “Petróleo barato: disfrute do preço enquanto pode”, o especialista explica que “a subida do preço do petróleo proporcionou, na realidade, um impulso às ações, com as ações e a energia a serem altamente correlacionadas”. Também recorda que o petróleo barato “é visto, geralmente, como positivo para o consumo e, portanto, para aumentar o preço de muitas ações, pelo que este ano muitos investidores deram as boas vindas a qualquer sinal de que o preço do crude se estabilize a um nível mais elevado”.O especialista detalha que o alívio pela recuperação dos preços se justifica porque os preços tão baixos são uma ameaça para a estabilidade do mercado de high yield e para os bancos que tinham emprestado dinheiro às petroliferas. O seu ponto de visto é de que os preços atuais (entre os 40 e os 50 dólares) são, provavelmente, a opção mais neutral, não demasiado atrativa para os consumidores e não muito danosa para os produtores”.

O aumento dos preços de algumas matérias-primas superaram as melhorias fundamentais no equilíbrio entre a oferta e a procura. O sentimento recuperou desde o pessimismo extremo e as posições curtas parecem ser menos utilizadas”, relata Richard Turnill, chefe global de estratégias da BlackRock. O profissional acrescenta que a “especulação sobre os futuros das commodities chinesas contribuíram para ganhos recentes, embora os volumes de negociação tenham subido desde que as autoridades elevaram as exigências sobre as garantiais”. A matéria-prima favorita do profissional da BlackRock é a energia, porque “parece que os provedores parecem estar a solucionar o excesso de capacidade”. Não parece ser suficiente para Turnill: “Necessitamos ver se os fundamentais da oferta e da procura melhoram para ver um rally amplo e sustentável nas matérias-primas.