O mercado de ações europeu experimentou nos últimos 12 anos uma espetacular transformação. Muito pouco se parece a estrutura e composição atual do MSCI Europe com a que tinha o índice durante a crise financeira. As diferenças são notórias em muitos âmbitos.
Em 2008, o índice encontrava-se dominado por setores muito ligados ao ciclo económico. Concretamente, um terço do MSCI Europe era formado por entidades financeiras e empresas energéticas. Doze anos depois, o peso destes setores reduziu-se de forma exagerada. Hoje apenas representam 20%.
Para Rajesh Tanna, gestor de carteiras na J.P.Morgan Asset Management, esta evolução é importante por dois motivos.
“A qualidade do mercado é muito melhor do que se percebe. Os 10 principais componentes do índice em 2008 eram liderados pela BP, Total, Vodafone, Telefónica e Shell, todos valores de baixa qualidade. Atualmente, o índice conta com numerosas empresas líderes à escala mundial na frente, com atrativo crescimento estrutural. É o caso da ASML, LVMH e Novo Nordisk”, explica.
Desagregação por setores do índice MSCI Europe em 2020 face a 2008
Principais componentes do índice MSCI Europe
Esta mudança na composição setorial do MSCI Europe tem importantes implicações no que concerne o comportamento do seu mercado. Assim, a Europa registou uma rentabilidade relativa negativa na saída do último ciclo por uma falta de crescimento dos lucros. Na opinião do especialista, isto torna-se razoável tendo em conta que os setores financeiro e energético, de baixo crescimento, eram os pesos pesados.
Rentabilidade por região (%)
“Se pensarmos no ciclo seguinte, há mais possibilidade de a Europa gerar crescimento dos ganhos. E também de que obtenha uma rentabilidade superior de outras áreas agora que o mercado é liderado por empresas de consumo e tecnológicas, conclui Tanna.
Mudanças geográficas
A nível geográfico, as economias dos países de elevado endividamento afetados pela crise da dívida soberana da UE (Itália, Espanha, Irlanda e Portugal), além do Reino Unido (desde a votação do Brexit em junho de 2016), perderam peso. Isto verificou-se comparativamente a economias mais pequenas, mas dinâmicas (Suíça, Holanda, Suécia, Dinamarca) e mais saudáveis (França, Alemanha), refere Habib Nasrallah, especialista em indexados da Pictet AM.
Setor | Mudança no peso aprox. | Peso 2008 (%) | Peso 2021 (%) |
Reino Unido | -33% | 31 | 23 |
Espanha | -50% | 6 | 4 |
Itália | -50% | 6 | 4 |
Suíça | +50% | 19 | 15 |
Suécia | +50% | 4 | 6 |
Países Baixos | +50% | 4 | 6 |
Dinamarca | +400% | 1 | 4 |
França, Alemanha | +10% a +15% |