A transformação do MSCI Europe

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Créditos: Jonas Tebbe (Unsplash)

O mercado de ações europeu experimentou nos últimos 12 anos uma espetacular transformação. Muito pouco se parece a estrutura e composição atual do MSCI Europe com a que tinha o índice durante a crise financeira. As diferenças são notórias em muitos âmbitos.

Em 2008, o índice encontrava-se dominado por setores muito ligados ao ciclo económico. Concretamente, um terço do MSCI Europe era formado por entidades financeiras e empresas energéticas. Doze anos depois, o peso destes setores reduziu-se de forma exagerada. Hoje apenas representam 20%.

Para Rajesh Tanna, gestor de carteiras na J.P.Morgan Asset Management, esta evolução é importante por dois motivos.

“A qualidade do mercado é muito melhor do que se percebe. Os 10 principais componentes do índice em 2008 eram liderados pela BP, Total, Vodafone, Telefónica e Shell, todos valores de baixa qualidade. Atualmente, o índice conta com numerosas empresas líderes à escala mundial na frente, com atrativo crescimento estrutural. É o caso da ASML, LVMH e Novo Nordisk”, explica.

Desagregação por setores do índice MSCI Europe em 2020 face a 2008

Fonte: Barra, MSCI, Bloomberg. Dados de 31 de dezembro de 2020.

Principais componentes do índice MSCI Europe

Fonte: Barra, MSCI, Bloomberg. Dados de 31 de dezembro de 2020.

Esta mudança na composição setorial do MSCI Europe tem importantes implicações no que concerne o comportamento do seu mercado. Assim, a Europa registou uma rentabilidade relativa negativa na saída do último ciclo por uma falta de crescimento dos lucros. Na opinião do especialista, isto torna-se razoável tendo em conta que os setores financeiro e energético, de baixo crescimento, eram os pesos pesados.

Rentabilidade por região (%)

Fonte: J.P. Morgan AM e Bloomberg. Dados de março de 2021.

“Se pensarmos no ciclo seguinte, há mais possibilidade de a Europa gerar crescimento dos ganhos. E também de que obtenha uma rentabilidade superior de outras áreas agora que o mercado é liderado por empresas de consumo e tecnológicas, conclui Tanna.

Mudanças geográficas

A nível geográfico, as economias dos países de elevado endividamento afetados pela crise da dívida soberana da UE (Itália, Espanha, Irlanda e Portugal), além do Reino Unido (desde a votação do Brexit em junho de 2016), perderam peso. Isto verificou-se comparativamente a economias mais pequenas, mas dinâmicas (Suíça, Holanda, Suécia, Dinamarca) e mais saudáveis (França, Alemanha), refere Habib Nasrallah, especialista em indexados da Pictet AM.

SetorMudança no peso aprox.Peso 2008 (%)Peso 2021 (%)
Reino Unido-33%3123
Espanha-50%64
Itália-50%64
Suíça+50%1915
Suécia+50%46
Países Baixos+50%46
Dinamarca+400%14
França, Alemanha +10% a +15%  
Fonte: Pictet AM