A ‘uberização’ da economia, e o seu impacto sobre distintos sectores económicos e oportunidades de investimento para os próximos cinco anos

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kirif1, Flickr, Creative Commons

O que é a “uberização” da economia? Este neologismo refere-se à plataforma Uber, baseada na conexão entre usuários de automóveis para partilhar o trajeto e os gastos. O seu significado tem a ver com “o desafio dos modelos económicos tradicionais proporcionados pela transformação digital da sociedade”, explica Frédéric Labia, analista de ações da Amundi. O mesmo é dizer que, com as novas tecnologias, juntamente com a ação da crise, têm surgido uma multiplicidade de negócios e plataformas baseados na desintermediação de serviços. Outros negócios que têm a desintermediação e conexão de usuários como premissas são por exemplo o Blablacar (partilhar trajetos longos em automóvel), o Airbnb (particulares que alugam casas ou habitações com fins turísticos) ou a loja online Alibaba.

“Hoje em dia, sectores inteiros da economia estão totalmente expostos a esta mudança, e muitas empresas estão em risco de ser ‘uberizadas’, se é que isso ainda não aconteceu”, comenta Labia. Por exemplo, no passado dia 8 de agosto a empresa espanhola de autocarros Confebus processou a Blabacar por concorrência desleal; Em Portugal, a ANTRAL (Associação Nacional de Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros) interpôs há alguns meses uma providência cautelar que foi aceite pelo Tribunal da Comarca de Lisboa contra a Uber, sendo que o processo está agora a aguardar a decisão do recurso apresentado por este serviço.

Quais as empresas que se seguem?

A visão da Amundi é que o sector dos meios de comunicação é a primeira grande vítima da transformação digital massiva dos últimos anos. “Afinal os meios de comunicação são, por definição, uma série de plataformas de informação que se digitalizaram da noite para o dia, não existindo apenas um único texto, foto ou vídeo que não possa ser transformado num arquivo digital”, indica Labia. Dá alguns exemplos que já se viram no passado; em primeiro lugar foi a Napster, a plataforma que permitia descarregar música livremente e de forma gratuita. Mais recentemente existem outros exemplos como a Google ou o portal de aluguer de filmes e séries Netflix.

“Com a proliferação de dispositivos inteligentes, o acesso crescente à internet de alta velocidade, fácil de utilizar, o surgimento de novos serviços, como páginas de recomendações, fez com que a procura do consumo de vídeos tenha aumentado exponencialmente nos últimos anos”, acrescenta o especialista. Dá como exemplo a Netflix: a sua base de subscritores superou os 60 milhões em 2015, dos quais 40 milhões são consumidores norte-americanos. “Representa uma quota de mercado espetacular de 40% para um serviço que não existia há dez anos”, indica.

Onde estão as oportunidades?

“Nos últimos 15 anos a publicidade online tem assistido a um crescimento regular e sustentável, em grande medida à custa da imprensa escrita, como os jornais e as revistas. No entanto, a publicidade televisiva tem-se mantido competitiva de forma a manter a sua quota no mix de publicidade”, resume o analista. A sua previsão para os próximos anos é que “o crescimento do digital se deva manter. Estima-se que a imprensa escrita continue a declinar, e que a televisão começará a perder terreno devido à queda das audiências, particularmente entre as gerações mais jovens”.

Na verdade Labia vai mais longe ao afirmar que “esta migração poderá já se ter acelerado”, visto que os grandes anunciantes já estão a tomar medidas ao aperceberem-se dos resultados acumulados pelo digital nos últimos anos. O especialista da Amundi detalha duas grandes razões que suportam essas "pressa" dos anunciantes. Por um lado, e fixando-se no caso norte-americano, falam da queda dos níveis tradicionais de audiência “devido à canibalização de serviços de subscrição para conteúdos audiovisuais”, como a Netflix ou outras plataformas. Por outro lado, fala do “aumento massivo da qualidade e disponibilidade de ferramentas de publicidade online nos últimos 12 meses, oferecendo aos anunciantes o que se tem perdido: um substituto genuíno da televisão”. Por causa de todas estas mudanças,  a visão da Amundi é que “algumas grandes categorias de anunciantes que previamente tinham evitado as tecnologias digitais, como os bens de consumo, poderão guiar e acelerar este crescimento nos próximos anos”.

O outro nicho onde o especialista encontra oportunidades é nas agências publicitárias: “Desempenham um papel central no novo ecossistema de publicidade digital. E parece lógico que beneficiem da expansão da publicidade online graças à sua habilidade para segmentar consumidores em tempo real através de algoritmos complexos”. Para além disso, Labia acredita que estas agências podem desempenhar uma segunda grande função: ajudar as empresas a canalizar a sua própria transformação digital. “Situadas na confluência do marketing, consultoria, tecnologia e comércio, estas agências estão bem posicionadas para satisfazer as necessidades emergentes dos seus clientes e aumentar o valor acrescentado”, conclui.