A (velha) nova vida do Acatis Value Event Funds sob a liderança de Johannes Hesche

Johannes Hesche. Acatis
Johannes Hesche. Créditos: cedida (Acatis)

Após a rutura dos 15 anos de relação entre a Acatis e a Gané - a consultora do seu fundo blockbuster - a prioridade máxima da gestora alemã tem sido assegurar a continuidade da gestão do Acatis Value Event Funds, que este ano conta com Rating FundsPeople+. Recentemente, a empresa nomeou Johannes Hesche como o sucessor da estratégia, que contará com a ajuda do Dr. Hendrik Leber, parceiro fundador da Acatis. Segundo afirmam desde o primeiro comunicado, a identidade e ADN da estratégia não vai mudar.

Hesche enfrenta o desafio de estar à altura dos 7.800 milhões de património que o Acatis Value Event Funds acumulou. Um património considerável - 60% dos ativos da Acatis -, fruto de resultados consistentes a longo prazo no âmbito dos fundos mistos. O fundo construiu a sua fama através da combinação de value de qualidade com eventos catalisadores positivos. Daí o nome do fundo: a combinação entre Valor e Eventos.

O estilo Hesche

E é uma filosofia que Hesche assegura que se irá manter intacta sob a sua gestão. “Encaixa perfeitamente com o meu estilo de gestão”, assegura numa entrevista com a FundsPeople. Hesche, que geria, desde 2018, o Acatis Value und Dividende Fund, partilha os fatores prioritários que já predominavam no Value Event Funds: negócios com uma melhoria contínua da sua operação, liderança (seja de mercado ou nicho), com um perfil defensivo e margens altas.

A construção da carteira é definida com base no retorno esperado em termos absolutos das três classes de ativos: obrigações, ações e liquidez. A alocação a cada uma não é estática. De facto, nos últimos anos, a carteira esteve enviesada para as ações, simplesmente porque a classe de ativos apresentava melhores perspetivas de rentabilidade/risco. E agora, mesmo com a normalização das taxas de juro, a equipa gestora continua a ver mais valor nas ações.

Dada a sua abordagem value, o potencial de retorno esperado de uma ação em carteira ronda os 10%. É a margem de segurança que o gestor procura. “Quando o retorno esperado baixa muito, por exemplo, após uma revalorização rápida da ação, não hesitamos em realizar mais-valias e mover o capital para a liquidez ou para as obrigações”, explica Hesche.

Em obrigações, o mínimo de retorno esperado é 6%, o que foi difícil no período de taxas baixas. Atualmente, a posição em dívida é principalmente em obrigações governamentais de curto prazo.

Quanto à parte de eventos, a que mais se distingue no estilo do Acatis Value Event Funds, o gestor insiste que vai continuar igualmente relevante, como sempre, no processo de investimento. Por exemplo, vê muito potencial nos eventos de M&A (fusões e aquisições), bem como nos spinoffs e nos descontos em conglomerados. Este último é o que está a acontecer na sua principal posição, a Prosus. A empresa é o máximo acionista da empresa chinesa Tencent.  Na sua cotação atual só está refletida no preço essa participação, pelo que o resto das suas holdings estará valorizado em zero.

Equipa gestora

Apesar de ser um fundo misto, a verdade é que, nos últimos anos, a carteira tem estado enviesada para as ações. Não obstante, Hesche reconhece que, entre os reforços em que estão a trabalhar para implementar na equipa atual, estão a valorizar integrar um profissional mais especializado em obrigações.

Quanto à equipa atual, Hesche conta com o apoio do Dr. Hendrik Leber, parceiro fundador da Acatis, bem como de outros seis gestores da casa que contribuem com ideias, mas a maioria da geração de ideias cabe a Hesche. “Parece-me importante que o gestor seja dono das suas convicções. Mesmo que um analista ou outro gestor me falasse de uma oportunidade de investimento, faria primeiro a minha própria análise. O mínimo que uma nova ideia leva a entrar na carteira é uma semana, mas, na realidade, o tempo médio de análise é muito maior”, conta.