Abordar as oportunidades de mercado em investimento temático

Andréa Mossetto
Andrea Mossetto. Créditos: Cedida (CPR AM)

Se nos mercados de investimento e financeiro é comum referir-se a um mundo em constante mutação, esta referência torna-se mais expressiva quando se fala do ano de 2022. E, como sempre, com a mudança e a incerteza, surgem também oportunidades.

Andrea Mossetto, responsável pelos Especialistas de Investimento na boutique de investimento temático da Amundi, a CPR AM, esteve em Portugal para um almoço com clientes e expôs algumas das atuais tendências mais relevantes e quais abordagens tem maior potencial para as capturar.

A crise dos commodities agrava-se

“Vemos carências de matérias-primas em todo o mundo, desde os metais, às matérias-primas da agricultura e aos combustíveis. O custo global da energia pode chegar aos 14% do PIB global até 2022 e os países europeus estão numa luta contra o tempo para reabastecer a capacidade de armazenamento antes do próximo inverno”, introduz.

Neste contexto, Andrea Mossetto considera que uma abordagem temática para capturar este movimento é particularmente importante, pois acredita que os recursos naturais vão desempenhar um papel fundamental no caminho da transição energética, com pressões crescentes na procura e na oferta e estrangulamentos na logística, num mundo que atingiu o pico da globalização.

"A ideia é considerar estratégias como a CPR Invest - Global Resources que podem beneficiar das megatendências que estão a mudar o setor das matérias-primas e da energia. Na prática, uma estratégia que irá incluir materiais tradicionais como o cobre, o alumínio e minério de ferro, bem como materiais de terra rara, lítio e grafite, fundamentais para assegurar a eletrificação das nossas economias. No setor da energia, a estratégia deve ter capacidade para investir no negócio integrado das empresas petrolíferas, que olham favoravelmente para as novas energias para diversificar a sua gama de produtos. Deve também conseguir investir em novas energias como o biocombustível, o biodiesel e o hidrogénio. E, finalmente, deve ter exposição ao ouro, através dos constituintes do índice Arca Miners ou ETC sobre ouro, para ter um efeito tampão e retornos de carteira suaves em tempos de turbulência e de abrandamento da economia", explica.

Transição energética acelera

O caminho para as zero emissões líquidas até 2050 acelerou este verão com a Lei de Redução da Inflação dos EUA e os planos europeus de investimento em hidrogénio. Embora não inteiramente centrada no clima, a Lei de Redução da Inflação dos EUA destina 369 mil milhões de dólares para a segurança energética e para iniciativas relacionadas com o clima, incluindo o hidrogénio. Isto vem juntar-se ao pacote de investimento bipartidário em infraestruturas adotado em 2021. 

Na Europa, foi anunciado um plano de investimento de 30 mil milhões de euros com a Hy2tech (14,2 mil milhões de euros centrados no desenvolvimento da cadeia de valor da tecnologia de hidrogénio), a Hy2use (12,2 mil milhões de euros centrados no desenvolvimento de infraestruturas de hidrogénio) e com o Banco de Hidrogénio (3 mil milhões de euros).

“O desenvolvimento da economia do hidrogénio está no topo das agendas políticas e industriais, porque é o único vetor energético que pode descarbonizar o setor industrial e o setor dos transportes (pesados), fonte de 40% das emissões mundiais de CO2. O CPR Invest - Hydrogen, a solução da CPR AM que investe em toda a economia de hidrogénio, está bem posicionada para fazer com que os seus clientes beneficiem do desenvolvimento do ecossistema em torno deste transportador de energia verde”, diz Andrea Mossetto.

Necessidade de exposição a estratégias defensivas

Segundo indica o profissional, a volatilidade do mercado levou os investidores a procurar estratégias defensivas e de baixo beta como o CPR Invest -  Food For Generations. "Este portefólio encontra os seus catalisadores em fatores a longo prazo que apoiam o desafio de alimentar o mundo. O portefólio, simultaneamente, investe em setores defensivos que podem mitigar a volatilidade do mercado com um beta de 0.8. Esta é uma das estratégias da CPR AM que recolheu quase mil milhões de euros nos últimos 18 meses”.

Outra estratégia defensiva, diz, é a que investe no envelhecimento da população: "o desenvolvimento demográfico parece ser inevitável e as megatendências estão ligadas às necessidades específicas do consumidor com mais de 65 anos".

Como comenta, não é ainda evidente qual será o impacto da inflação nos consumidores. "Podemos ver claramente uma forte resiliência e poder de fixação de preços nos negócios de luxo e resiliência na riqueza dos mais idosos durante a COVID-19 e durante o acentuado regresso da inflação. Mesmo a China, o país mais populoso do mundo, onde a taxa de natalidade estava a abrandar antes da COVID-19 e atingiu um novo mínimo em 2021, está a enfrentar um rápido crescimento de parte da população com mais de 65 anos". Neste novo normal, estratégias como o CPR Invest - Global Silver Age, com mais de metade do portefólio investido no setor da saúde, são uma boa opção, para Andrea Mossetti.

As obrigações estão de volta

Estamos a viver num momento de mercado onde as yields das obrigações atingiram máximos relevantes. Embora ainda seja questionável se a Fed e os outros bancos centrais irão encontrar a sua taxa terminal, muita gente considera que já estamos perto de um bom ponto de entrada. "Neste contexto, as estratégias de obrigações temáticas, como as que investem em obrigações climáticas alinhadas com os objetivos do Acordo de Paris em termos de redução das emissões de CO2, poderão ser tidas em conta", indica.  

Ações DARP regressam do purgatório

DARP: Disrupção a um Preço Razoável. Muitas das ações corporativas mais disruptivas sofreram um reajustamento do preço como resultado do choque do aumento das taxas e das perspetivas de recessão. O rácio PE do índice Nasdaq caiu de cerca de 40 para 22 a meio do ano. O foco deixou de ser o preço e passaram a ser os resultados. Com isto em mente, Andrea Mossetto acredita que as ações DARP podem estar a sair do purgatório em que entraram este ano.

"A ideia é começar a procurar este tipo de ações, especialmente se se focar na exposição a tecnologia em setores que ainda vão beneficiar dos gastos das empresas, como na cibersegurança, na cloud e em big data. Estas são as áreas em que não se pode dar ao luxo de não investir, mesmo num cenário de recessão", expõe. "Se focar o seu portefólio neste setores, em nomes de qualidade, com cash flows e margens elevadas e livres, com elevada visibilidade sobre o futuro desenvolvimento do negócio, ao mesmo tempo que é diversificado, pode potencialmente ter uma geração de alfa quando a incerteza sobre a Fed e as taxas começarem a diminuir", termina.