Adam Lessing (Fidelity International): “One-size fits all já não faz qualquer sentido”

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Cedida

Num ano em que se celebram os 30 anos da ALFI (Association of the Luxembourg Fund Industry), a vigésima sétima edição da Alfi Global Distribution Conference trouxe ao Grão-Ducado inúmeros profissionais para discutir o momento atual e o futuro da indústria de gestão de ativos. Entre eles esteve Adam Lessing, responsável pela Europa Central e de Leste da Fidelity International, que, numa entrevista à Funds People, abordou as mudanças no modelo de comissionamento da entidade, os desafios atuais e o que será do futuro da distribuição de fundos na Europa, entre outros temas.

Nos últimos tempos, a Fidelity International tem sido uma das gestoras mais ativas no que diz respeito a alterações e introdução de novos métodos de comissionamento dos seus produtos. Pela sua dimensão enquanto distribuidor e pela sua variedade de perfis de cliente, a entidade percebeu que “diferentes clientes possuem diferentes necessidades”, explica Adam Lessing, acrescentando que “a nossa oferta é diversa o suficiente, permitindo aos nossos clientes escolherem a estrutura de comissionamento que mais se adequa ao seu modelo”.

Neste sentido, hoje a entidade tem uma vasta oferta de classes: Classes tradicionais, que pagam retrocessões para os distribuidores não-independentes; classes limpas para distribuidores, como gestores de ativos ou distribuidores independentes; classes ‘super limpas’ para, por exemplo, os institucionais; bem como classes com comissões variáveis de acordo com o sucesso do produto em questão.

Alterações regulatórias com boas repercussões na indústria

Sobre a atuação da Comissão Europeia no que à regulação diz respeito, o responsável pela Europa Central e de Leste da Fidelity International considera que “está tudo bem”. “A estrutura atual, com a informação antecipada e a declaração anual de comissões, é um passo em frente do ponto de vista da transparência e poderá fazer com que os investidores tomem decisões de forma independente”, detalha. Na sua opinião, esta estrutura fornece ao investidor informação suficiente para considerar a adequação do modelo de comissionamento às suas necessidades.

Acredita, por isso, que o modelo atual – que oferece aos distribuidores e clientes diversidade de escolha em conjunto com informação total – é o modelo correto e o caminho a seguir. Refuta, por outro lado, a percepção de que as comissões resultam num custo mais elevado para os clientes, uma vez que “existem clientes para os quais uma comissão de aconselhamento simplesmente não funciona”. Refere, numa outra perspetiva, que a imposição de uma proibição total de retrocessões também não será o caminho mais adequado: “Essa proibição levará a um problema com o qual o Reino Unido se está a deparar, que é impossibilidade de a franja dos investidores que mais necessita de aconselhamento não o poder obter por ser, ou demasiado pequenos para um serviço completo de gestão, ou demasiado grande, para a compra de um único fundo”, explica.

Desafios atuais e futuros

“Os clientes europeus continuam a investir em demasia em depósitos”, começa por afirmar Adam Lessing, destacando que a educação dos investidores é um dos desafios mais importantes atualmente para a indústria. “Tendo em conta o nível de riqueza (nacional e individual) de alguns países europeus, é inacreditável o montante em depósitos. É fulcral que se eduque os investidores relativamente às suas necessidades de investimento. A maioria dos países, em particular os mais ricos, têm demasiada liquidez e muito pouca cultura de investimento”, avança o profissional. Acredita, por outro lado, que a indústria está ainda em processo de adaptação para um modelo em que os clientes tomam decisões bem informadas e, nesse sentido, elementos como a MiFID II e a tecnologia são essenciais.

De facto, a tecnologia é um dos pontos nos quais o profissional acredita que a indústria deve apostar mais, sendo, nas suas palavras, o futuro: “Temos uma nova geração de investidores que é ‘digital savvy’, que consome conteúdos através de diferentes redes sociais, e é fulcral utilizar esses canais para comunicar com os mesmos. O grande desafio neste campo é como comunicar de forma clara, concisa e não enganadora em menos de três minutos”, explica. Na sua opinião, a indústria financeira tem que pensar mais relativamente à forma como ultrapassar estes desafios, numa altura em que é necessário comunicar com as pessoas “que não se deslocam aos escritórios das entidades para lerem papéis, mas que querem obter informação em tempo real e no momento, cumprindo ao mesmo tempo com os requisitos exigidos pela MiFID II”. E, nesse sentido, considera que é essencial a estrita colaboração entre entidades e fintechs.

Momento atual exige responsabilidade

É com um foco na responsabilidade para com os clientes que Adam Lessing analisa o panorama económico atual. A visão da entidade é que a economia a nível global se encontra num contexto de final de ciclo, existindo, ainda assim, um período a percorrer até ao termo definitivo. “Em períodos de final de ciclo a volatilidade sobe e o mercado apoia-se em pequenos eventos para corrigir fortemente. E é precisamente isso que temos vindo a assistir, embora alguns eventos resultem em grandes correções e outros não”, avança.

A alocação da entidade mantém-se, por isso, a um nível neutral, embora um pouco sobreponderada em ativos de risco porque acreditam que ainda existe espaço para percorrer. Não obstante, “em tempos como este temos uma grande responsabilidade no sentido em que é preciso perceber se os clientes estão cientes do aumento da volatilidade e se estão confortáveis com o risco assumido. Aqueles que conseguem suportar a volatilidade podem estar tranquilos – não estamos no final de ciclo mas está a tornar-se instável –; já aqueles que não suportam esta instabilidade, devem reduzir o risco assumido”, conclui.