“Águas agitadas” nas obrigações

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howie33, Flickr, Creative Commons

A última carta de Giordano Lombardo, Group Chief Investment Officer da Pioneer, começa por dizer que os recentes movimentos do mercado relembraram os investidores de que o mercado de obrigações está a enfrentar uma mudança secular. “O benchmark da yield do tesouro americano a 10 anos caiu de um pico de 15,8% em 1981 para 1,4% em Julho de 2012, um valor que para nós vai ser o topo em termos de yields no bull market secular”, exemplifica, acrescentando que nos próximos anos o espaço para mais compressão das taxas de juro é quase nulo. Por isso, Lombardo alerta que “a tendência a longo prazo para as taxas de juro é a de subida”.

Apesar disso, o CIO da Pioneer diz que é extremamente exagerado anunciar já a morte das obrigações como uma classe de ativos. Lombardo começa por explicar que “depois da última crise os mercados tiveram um “front-loaded” de melhorias na economia real que ainda não foram confirmadas nas estatísticas”.

Com alguma estabilidade esperada em relação a determinadas políticas monetárias, para o especialista a questão que se coloca neste momento prende-se com saber “se as técnicas de investimento e os modelos mentais adotados desde há 30 anos são ainda válidos nesta nova fase”.

Mudança de modelo

Em jeito de previsão Giordano Lombardo aponta três possíveis cenários para a próxima fase de médio-longo prazo (cinco/sete anos):

-        a economia global vai voltar a acelerar  gradualmente para um padrão de crescimento normal. Neste caso as taxas de juro iriam aumentar gradualmente “por uma boa razão”.

-        A  instabilidade mantém-se, mas ao mesmo tempo o excesso de liquidez criado pelos bancos centrais nos últimos anos começam a criar picos de inflação. Grande parte dos mercados de obrigações ficam sem controlo.

-        A reversão à média das taxas de juro é muito “abafada”. O crescimento global continua anémico, mas a inflação está sob controlo por causa da contínua negligência na economia.

Perante estes três cenários, o CIO da Pioneer acredita que “se deve fazer a mudança de um modelo de mercado baseado predominantemente na criação de crédito e liquidez, para um modelo conduzido maioritariamente pelos fundamentos de crescimento da economia real a longo prazo.  Desta forma, o especialista diz acreditar que nexte contexto as avaliações de mercado vão ser predominantemente guiadas para a alocação de ativos num futuro próximo.

No que diz respeito ao investimento em obrigações, Giordano Lombardo acredita que “vão provavelmente continuar a ter um papel importante nas carteiras dos investidores”, já que “a busca pela melhor yield - que caraterizou a procura do retalho por produtos de investimento nos últimos anos - não está destinada a acabar tão cedo, devido à falta de crescimento do rendimento no mundo desenvolvido”.