Alta tensão nos mercados financeiros

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Rbanks, Flickr, Creative Commons

A sessão desta terça-feira voltou a ser de alta tensão nos mercados, com fortes quedas iniciais de mais de 2%, que se transformaram em lucros finais superiores de 1%. A queda de 6% registada na véspera pelas bolsas chinesas não teve contágio. Ou seja: o gigante asiático continua a estar na base do problema. “A volatilidade nos mercados de ações chineses, e as desajeitadas tentativas das autoridades para deter as quedas dos preços agravaram mais ainda os nervos dos investidores sobre o futuro da China. O pior é que as saídas de capital do país brigaram o governo chinês a modificar a sua política cambial. Se as autoridades chinesas forem incapazes de deter a fuga de capitais, e se o renmimnbi se desvalorizar de forma significativa, o risco de crise sistémica aumentará substancialmente. Pequim tenta agora desvalorizar gradualmente o renminbi face ao dólar, e também em relação ao cabaz integrado pelas moedas dos seus principais parceiros comerciais. Isto aumenta ainda mais a vulnerabilidade das moedas de outros países de mercados emergentes”, explica Maarten-Jan Bakkum, Estratega sénior de mercados emergentes de NN IP.

“Nestes últimos anos, a estabilidade do renminbi era praticamente o único apoio com o qual contavam estas moedas, pelo que já está descontado um aumento da instabilidade nos mercados de divisas. Neste cenário de risco, o mundo emergente é o que apresenta quedas mais fortes. Com a crescente desvalorização destas moedas, a crise dos mercados emergentes, que já dura há cinco anos, está a atingir um ponto culminante”, afirma o especialista da entidade holandesa. A questão agora é saber se existirá contágio a outras economias desenvolvidas, tendo  em conta, igualmente, o impacto negativo que alguns países estão a sofrer por causa da queda do preço do petróleo. Estas são razões que os gestores e analistas também estão por esta altura a apresentar para justificar a correção registada pelas ações desde o início do ano.

Embora os economistas argumentem que uma queda sustentável dos preços do petróleo de 10% provocará um aumento do PIB mundial anual de 0,2% para os próximos dois anos, esta regra nem sempre funciona. Para Lucy O'Carroll, estratega macro da Aberdeen, há pelo menos quatro razões pelas quais esta regra pode não funcionar sob as condições atuais. Sejam quais forem as razões que justifiquem o comportamento dos mercados, o que é evidente é que o sentimento mudou. O S&P 500 teve o seu pior comportamento do ano desde 2008. “O sentimento subjacente às subidas de mercado caiu para o nível mais baixo desde 2009. Também é certo que quando este sentimento se dissipa costuma ser um indicador contrário. Nas últimas décadas, a bolsa americana tem obtido históricamente cerca de 30% de rentabilidade nos 12 meses seguintes aos quais o sentimento de bull market tocou em níveis mínimos. Os investidores devem sempre ter em mente que a noite é sempre mais escura antes de amanhecer”, dizem da J.P. Morgan AM.

Consequentemente, não é de estranhar que muitas gestoras recomendem manter a calma e suportar a volatilidade para não vender no pior momento. Como atuar, afinal? Luis Ojeda, responsável da Deutsche AM para Ibéria, acredita que os investidores devem considerar quatro aspectos. Um deles é se a composição dos seus investimentos tem um perfil de risco que se adapte ao seu perfil de risco, incluindo uma adequada diversificação. O segundo, se os ativos que compõem a sua carteira têm uma relação rentabilidade/risco atrativa a médio e longo prazo (evitando investimentos com uma relação assimétrica, nos quais a rentabilidade potencial é muito baixa, e o risco alto a médio e longo prazo). Três: considerar como cenário central macro que o tempo de crescimentos baixos se poderá prolongar mais tempo do que noutros ciclos. Por fim, o quarto ponto: a crise da dívida e os seus correspondentes períodos de desalavancagem costumam ser prolongados. “Com as quedas, existem ativos de risco alto que se estão a aproximar de valorizações atrativas. É necessário considerar um amplo intervalo de níveis de entrada, em vez de nos fixarmos num só, fazendo-o através de gestores especializados nessa mesma classe de ativos”, afirma. 

Para Carla Bergareche, diretora geral da Schroders para Ibéria, dependendo do perfil de risco de cada investidor mas sempre tendo em vista o longo prazo, será chave selecionar productos que permitam construir uma carteira diversificada, mas que sejam também flexíveis, podendo enfrentar as tempestades, adaptando-se a um contexto em mudança, ao mesmo tempo que geram rentabilidades consistentes. “Uma maneira de o fazer é através de estratégias descorrelacionadas e de retorno absoluto, tanto de ações como de obrigações, que possam beneficiar de qualquer tendência de mercado”, algo – segundo Iñigo Escudero, director de vendas e de Serviço ao Cliente de Invesco para Ibéria e América Latina  - “fácil de dizer mas muito complicado de aplicar, sobretudo quando os mercados sobem e quando estas estratégias/fundos descorrelacionados poderão perder. Isto é a verdadeira diversificação”, recorda.