Abrandamento do crescimento, aumento da inflação e aumento das divergências entre regiões e setores, onde será crucial a dinâmica da combinação de políticas. Estes são os fatores que, segundo a Amundi, caracterizam o cenário do mercado para a segunda metade do ano.
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Abrandamento do crescimento, aumento da inflação e aumento das divergências entre regiões e setores, onde será crucial a dinâmica da combinação de políticas. Estes são os fatores que, segundo a Amundi, caracterizam o cenário do mercado para a segunda metade do ano. Um panorama complexo e muito fragmentado, tornando a movimentação dos investidores especialmente difícil.
“O comércio mundial já não é o principal motor do crescimento mundial. Os investidores devem focar-se na procura de resiliência e aproveitar as oportunidades que possam surgir de ciclos económicos não sincronizados e de trajetórias divergentes no que diz respeito à política fiscal e monetária”, afirma a gestora francesa, que apresentou as suas perspetivas para o segundo semestre do ano.
Aumento do risco de estagflação
Os riscos de estagflação parecem generalizados, com o crescimento real inferior ao potencial e a inflação a manter-se constantemente acima dos objetivos dos bancos centrais. “No entanto, embora seja possível para os EUA ter uma aterragem suave, a zona euro parece muito mais frágil por sofrer as consequências dos preços da energia”, explica a Amundi.
A China também atravessa tempos de incerteza, uma vez que se espera que o crescimento do PIB para todo o ano fique abaixo dos 4% devido às restrições da pandemia. Contudo, nos mercados emergentes, as notícias positivas provêm dos exportadores de matérias-primas como o Brasil, a África do Sul e a Indonésia. “Estarão entre os que têm melhores resultados, tal como os países com mais margem de manobra na política fiscal e monetária”, avisam.
Segundo a Amundi, a inflação provavelmente atingiu o pico. Porém, espera-se que as pressões sobre os preços continuem devido aos bottlenecks nas cadeias de abastecimento, aos elevados preços da energia e dos alimentos e ao crescimento dos salários nos EUA, que põe fim à era das taxas de juro ultrabaixas, e até mesmo negativas, da última década.
“Todavia, uma normalização completa das políticas monetárias pode não ocorrer, uma vez que os bancos centrais tentam equilibrar a necessidade de abrandar a crescente inflação com a necessidade de preservar o crescimento, sendo provável uma espécie de negligência benigna da inflação por parte dos bancos centrais”, analisam.
Neste contexto, será crucial a dinâmica da combinação de políticas e o quão os bancos centrais estão preparados para um maior estímulo fiscal em várias regiões. Embora os Estados Unidos não tenham quase margem de manobra fiscal antes das eleições de novembro, na Amundi espera-se ver uma acomodação específica na China.
Implicações do investimento
“Num contexto de aumento da inflação e da volatilidade, de abrandamento do crescimento e de redução da liquidez mundial, os investidores devem permanecer cautelosos na alocação de riscos e focar-se na procura de resiliência e de fontes de rendimentos reais positivos, aproveitando as discrepâncias entre regiões e setores como resultado dos ciclos económicos não sincronizados”, afirmam os especialistas da Amundi.
De acordo com a análise da gestora, após a grande revisão das avaliações de ativos na primeira metade do ano, a forte atratividade relativa das ações face às obrigações diminuiu, promovendo uma alocação mais equilibrada. “No investimento em ações, o value, a qualidade e os dividendos deveriam ser uma boa combinação, uma vez que os dividendos são uma componente estável dos rendimentos quando a inflação é elevada. As ações norte-americanas parecem mais resistentes do que as da UE, apesar das suas elevadas avaliações, ao passo que as ações chinesas, com o abrandamento económico e redução dos lucros já previstos pelo mercado, pode permitir boas surpresas”, afirmam.
Estratégias em obrigações
Nas obrigações, os investidores devem mudar taticamente para uma posição de duração mais neutra e jogar com as divergências de política monetária, assim como procurar títulos indexados à inflação e obrigações de taxa variável para se protegerem contra a inflação. “No segmento do crédito, favorecemos o investment grade nos mercados desenvolvidos e o high yield nos mercados emergentes”, explicam.
Por último, segundo as perspetivas da gestora, num ambiente inflacionista, as correlações mais voláteis entre as classes de ativos irão exigir que os investidores procurem uma maior diversificação. Por exemplo, nas matérias-primas, em estratégias de divisas, particularmente as que favorecem as moedas dos exportadores de matérias-primas, e em estratégias alternativas com baixa correlação com as ações e obrigações, como os ativos reais. Nesta última área, a Amundi inclina-se para o setor imobiliário e para os floating bonds do setor privado.
Fim da era das taxas ultrabaixas
“A era das taxas de juro ultrabaixas e negativas terminou. Isto continuará a purgar os excessos em áreas do mercado impulsionadas pela liquidez – SPAC (Special Purpose Acquisition Companies), criptomoedas, valores ultra growth – e irá redirecionar os investidores nos fundamentais, na alavancagem de empresas e nos lucros. A incerteza sobre a evolução da combinação de políticas e na frente geopolítica irá continuar a manter a elevada volatilidade em todas as áreas”, afirma Vincent Mortier, diretor de Investimentos da Amundi.
Monica Defend, diretora do Amundi Institute, acrescenta: “Neste panorama complexo, os investidores devem procurar resiliência e oportunidades que possam surgir devido a um ciclo económico não sincronizado e às diferentes trajetórias de acomodação fiscal e monetária. A liquidez das carteiras irá ocupar um lugar destacado, uma vez que a liquidez macro global será progressivamente reduzida”.