Ana Nobre (ABANCA): "O apelo por alternativas menos líquidas não é necessariamente a solução"

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Ana Nobre. Créditos: Vítor Duarte

Em entrevista à FundsPeople, Ana Nobre, responsável de banca privada do ABANCA, responde a algumas questões sobre o atual contexto de mercado e as classes de ativos com maior valor.

Como vê o atual contexto de taxas de juro e de mercado impactar o potencial de diversificação dos portefólios tradicionais? Sentem a necessidade ou o apelo dos clientes pelo investimento em classes de ativos menos líquidas em busca de retorno? 

O contexto de baixas taxa de juro tem sido um dos principais desafios com que temos trabalhado nos últimos tempos, constituindo uma oportunidade única para a afirmação do valor acrescentado da nossa atividade. Se antes os níveis de rendimento oferecidos nos mercados de dívida permitiam aos clientes alguma autonomia na obtenção de resultados razoáveis sem a intervenção da gestão profissional, os baixíssimos níveis de rendimento oferecidos no formato de buy and hold promoveram uma verdadeira revolução. 

Tradicionalmente, durante muitos anos, as perspetivas da generalidade dos clientes mais conservadores, que representam uma larga maioria no mercado nacional, assentaram na procura de produtos de taxa, muitas vezes com garantia de capital. Nos últimos anos, soluções dessa natureza, deixaram praticamente de existir. Este fenómeno impôs aos investidores a necessidade de procurar fontes de rendimento alternativas, que compatibilizassem os seus objetivos de investimento com o seu perfil risco. Um binómio que só uma gestão dinâmica e aconselhamento profissional permitem otimizar. Passados estes anos, os investidores reconhecem que o facto de as taxas de juro serem nulas, ou mesmo negativas, não significa que as perspectivas sobre o resultado das suas aplicações se alinhem em absoluto com estas referências, sendo possível criar valor acrescentado no investimento em obrigações.

A tendência de subida das taxas de juro não tem assim comprometido os bons resultados alcançados nos investimentos conservadores. Isto significa que tem sido possível obter retornos interessantes, apesar das perdas registadas no mercado de obrigações.

Neste ambiente, o sucesso dos resultados e satisfação dos clientes é particularmente encorajador. Mitigado o movimento de correção, o potencial futuro do mercado de taxa de juro é hoje muito superior. Se a tendência de subida das taxas de juro for ainda mais pronunciada, o potencial de retorno será tanto maior. O objectivo é assim, o de manter a flexibilidade de liquidez dos instrumentos em carteira, por forma amenizar os movimentos das quedas de preço no mercado de divida, tornando-os tanto mais ambiciosos quanto mais elevados forem os patamares de remuneração implícita, ou seja, quanto mais altas forem as taxas oferecidas pelo mercado.

Isto significa que o apelo por alternativas menos líquidas não é necessariamente a solução, tanto menos quanto maior a incerteza. Seja porque bloqueia a participação em oportunidades potenciais, ou porque, do ponto de vista patrimonial, pode muitas vezes criar constrangimentos em caso de necessidade de mobilização que são sempre de evitar.

Que classes de ativos surgem como alternativa de diversificação?Que valor aportam essas classes de ativos? 

As alternativas neste ambiente são diversas, mas passam, essencialmente pelo investimento em estratégias de obrigações flexíveis, que trabalhem sob perspetivas de criação de valor menos tradicionais, que permitam transformar tendências como a subida de inflação, a subida das taxas de juro, a inclinação das curvas de rendimento, as assimetrias regionais etc., em fontes de retorno. Neste âmbito, também as estratégias de arbitragem e multiestratégia são fontes de diversificação. O peso destas estratégias nos portefólios depende da velocidade de ajustamento e da estabilidade do mercado, seja de obrigações, seja de ações. Uma potencial perspetiva de correção no mercado acionista, num ciclo de taxas de juro ascendente, propicia o reforço do investimento em estratégias com esta natureza.          

Como vê evoluir o tema da sustentabilidade e investimento com critérios ESG no vosso trabalho?

O tema da sustentabilidade e investimento com critérios ESG está, desde há muito presente, no nosso trabalho. Trata-se de um critério de análise adicional. Genericamente, é cada vez mais difícil encontrar alternativas com fundamentos sólidos que não tenham esta como uma preocupação central, de outra forma o seu sucesso no mercado estaria comprometido. Como em tudo, a rigidez dos parâmetros deve ser evitada. O ESG faz parte do ADN ABANCA e neste campo diria que o elo de ligação com a nossa filosofia de gestão ABANCA 360 está no pensamento de longo prazo, ou seja, assim como para um gestor profissional de carteiras de excelência é fundamental uma gestão focada no médio longo prazo (pensar além do ciclo económico, focando-nos nas megatendências), a filosofia ESG faz parte dos mesmos pressupostos, leia-se não sacrificar o longo prazo em detrimento do curto prazo. As empresas comprometidas com o longo prazo e a sustentabilidade são aquelas que para nós oferecem maior grau de confiança e de credibilidade.