Os especialistas do Amundi, Schroders e Seeyond (Natixis Global AM) antecipam o retorno da volatilidade e aconselham como cobrir a carteira.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Se esperavam que a segunda parte do ano fosse tão tranquila como a primeira, mais vale mudarem de opinião e prepararem as carteiras, pois os especialistas antecipam que, para o outono, vêm curvas… especialmente na parte das obrigações. Ao ser um activo considerado tradicionalmente como mais estável, um incremento da volatilidade apanhará muitos investidores desprevenidos. “Claramente vê-se risco nas obrigações, esperamos mais volatilidade”, afirma taxativamente Eric Hermitte, codiretor de arbitragem de volatilidade e obrigações convertíveis na Amundi, que declara: “A única coisa certa é que o mercado espera um estreitamento do QE para finais do ano, o que aumentará a volatilidade do mercado obrigacionista”.
"O mercado está com muita confiança, mostrou muita apetência pelo risco, as acções estão em níveis muito altos, especialmente nos Estados Unidos. Como antecipam uma recuperação, a Fed quer controlar”, acrescenta. Bob Jolly, diretor de macro global na Schroders, coincide na opinião: “Já houve um ajuste no pensamento da Reserva Federal devido às melhorias graduais na economia – afastando-se do QE e dirigindo-se para o estreitamento ou ‘tapering’ - e isto causou muita volatilidade no mercado”.
De Seeyond, a unidade especializada em volatilidade da Natixis Global Asset Management, o especialista de produto Sam Richmond explica o porquê da agitação do mercado: “Historicamente pode ver-se uma forte correlação entre a volatilidade do mercado e a incerteza em torno das políticas monetárias. A vinda do QE ao longo de muitas partes do globo distorceu de certo modo esta relação”. No entanto, o especialista adverte que ao estar já na agenda a retirada de estímulos, “os activos de risco já não serão capazes de se incluírem na afluência de liquidez do banco central e sem dúvida os ativos serão reavaliados para refletir mais fatores fundamentais mais em linha com a economia real”.
Neste ponto, o especialista do Amundi considera que a estratégia de comunicação da Reserva Federal será fundamental nos próximos meses: “Quanto mais a Fed comunicar, menor será o risco de um incremento da volatilidade e que haja um ‘crack’ no mercado das obrigações, já vimos o incremento de volatilidade em maio e junho”, embora advirta que “o mercado obrigacionista poderia ser mais volátil em Outubro, dependerá da duração das obrigações”.
A opinião de Richmond vai pelo mesmo caminho: “A incerteza económica e a volatilidade deveriam convergir potencialmente, guiadas, primeiro, por uma redução da incerteza ao normalizar-se a política monetária e, segundo, um incremento da volatilidade que estava artificialmente apaziguada por políticas de injeção de liquidez”. O especialista aprecia que “a fase de transição deveria ter um impacto global nos mercados e deveria logicamente resultar num ajuste estrutural da volatilidade no longo prazo”.
Apesar de as repercussões da retirada de estímulos da Fed serem globais, os especialistas detetam focos de incerteza adicionais na Europa. “A zona euro já está mais próxima da deflação do que muitos achavam e os incrementos de impostos (particularmente à importação e o IVA) estiveram a disfarçar as pressões deflacionistas”, aponta o responsável da Schroders, que acrescenta a este cenário de incerteza as eleições gerais que a Alemanha terá em setembro como outra fonte possível de volatilidade.
Estratégias
“A elevada sensibilidade a dados económicos deveria incrementar ligeiramente o nível de volatilidade”, assinala o responsável da Seeyond, o que implica por exemplo que o VIX estará mais próximos dos 15% do que dos 12%, “provavelmente também signifique que a volatilidade em si mesma será mais volátil”, aponta, o que significa que as recuperações acima de 20% em curtos períodos de tempo serão mais frequentes.
Perante a previsão de maiores oscilações no mercado, na Schroders adotaram uma posição prudente, reduzindo para zero a exposição à dívida soberana periférica depois de tomarem mais-valias na sua posição em obrigações portuguesas no início do trimestre. Em relação às durações, Jolly prevê que “o ruído do mercado cause movimentos nas rentabilidades das obrigações governamentais e apresente oportunidades tanto no curto como no longo prazo”, embora esclareça que a Schroders é neutra em duração. “No entanto, estivemos a comprar alguma duração no final da curva na Europa porque pensamos que o mercado colocou em preço subidas que são improváveis, dado o cenário económico da zona euro”, enfatiza, enquanto acrescenta que têm uma exposição curta às obrigações a dez anos do Tesouro dos Estados Unidos, confiando que continuará a melhorar a sua economia.
Sam Richmond, da Seeyond, considera que “introduzir fontes externas de diversificação ao considerar a volatilidade como um ativo de investimento por direito próprio também pode ser um meio para isolar a carteira das correções de mercado, enquanto se mantém a habilidade de participar nas subidas”.
A explicação do responsável da Amundi é mais simples: são longos em volatilidade, “mas não tanto como gostaríamos, porque o carry é negativo”.