Num contexto de transformação global, Javier García Díaz, responsável de Vendas da BlackRock para a Península Ibérica, identifica ondas transformadoras que oferecem oportunidades de investimento em várias regiões e vários setores, mantendo o seu otimismo quanto à IA, que considera poder acrescentar 1,5 pontos percentuais ao crescimento económico norte-americano durante os próximos anos, graças a ganhos de produtividade.
“Num momento em que todos os recursos estão a ser investidos nas chamadas megaforças - a IA, a transformação para um mundo de zero emissões líquidas e a desglobalização -, estas começam a ter um impacto relevante na economia e na sociedade”, detalha.
O diretor enfatizou que “entrámos num novo regime económico, deixando para trás o período de 40 anos conhecido como a grande moderação. Este novo contexto é caraterizado por uma maior volatilidade macroeconómica, limitações do lado da oferta, uma inflação mais elevada e bancos centrais mais ativos”.
Neste contexto, a BlackRock identifica três temas principais de investimento:
- Foco na economia real;
- Preferência pelo risco de forma controlada;
- Atenção às oportunidades que o novo regime de transformação oferece.
Num momento tão interessante de transformação, é expetável aparecerem oportunidades, mas também desafios, no mundo do investimento.
As megaforças na onda da transformação
Entre estas megaforças da revolução digital, a BlackRock aponta para:
- a inteligência artificial;
- a transição energética;
- a desglobalização;
- o envelhecimento da população;
- o futuro das finanças.
A BlackRock mantém uma forte convicção na IA como megatendência. Javier García Díaz destacou: “Atualmente, são sobretudo as grandes empresas tecnológicas a investir e a começar a beneficiar desta megaforça”. As principais oportunidades que o diretor identifica na IA é tanto a proteção de dados e a segurança digital, como as infraestruturas - centros de dados e semicondutores - e energia.
Para o diretor, o investimento em centros de dados aumentará entre 60% a 100% por ano nos EUA, entre semicondutores, sistemas de refrigeração, energia e as demais infraestruturas necessárias e cadeias de abastecimento, enquanto o investimento estimado para um mundo de zero emissões líquidas de 3,5 biliões de dólares torna o envolvimento em alguns setores, como o de infraestruturas e o industrial, o foco da economia real.
Oportunidades regionais e setoriais
Com uma política monetária acomodatícia, reativação económica, inflação saudável e reformas corporativas benéficas, Javier García Díaz salientou que o Japão é um dos seus principais focos de investimento. “O Japão representa 2% na carteira de ações dos nossos investidores, e calculamos que deverá representar 5%”, assinalou o diretor.
Quanto à Europa, a BlackRock assume uma posição timidamente construtiva, identificando oportunidades em setores como o dos bancos, da saúde e de bens de luxo, bem como no Reino Unido, país em que a entidade está “construtiva, sobretudo na sequência das eleições, em que o Partido Trabalhista conseguiu uma maioria”, o que poderá levar a uma continuação da recuperação do mercado de ações.
Apesar do crescimento e das valorizações atrativas, a BlackRock mantém uma posição neutra em Espanha. Javier García Díaz explicou: “Espanha é um mercado em crescimento, as empresas estão a gerar bons lucros, as valorizações são atrativas e há setores interessantes, como o da energia e de utilities, mas a verdade é que continuamos a observar uma incerteza política, e há fatores mais macro que não avançam”. Entre os fatores macro preocupantes, mencionou a elevada dívida pública (115% do PIB), uma taxa de desemprego de 12% (30% nos jovens) e uma inflação de 3,5%.
Em mercados emergentes, o diretor aponta para uma seleção adequada, sendo a Índia o foco de atenção, tanto do lado das obrigações, como do lado das ações. “Há ventos favoráveis para o mercado indiano, como a população muito jovem e os elevados montantes de investimento para a reconfiguração das suas cadeias de abastecimento”. Têm assistido a muitos fluxos para o país, sendo 2023 o ano recorde para ETF de ações a nível global, com 100.000 milhões de dólares, e a entrada das suas obrigações para o índice da J.P. Morgan AM de Rendimento Fixo augura bons tempos.
Estratégias em obrigações
A BlackRock está a sobreponderar a parte curta da curva norte-americana, aumentando um pouco a duração na Europa e mantendo-se neutra em crédito (investment grade e high yield). Javier García Díaz indicou que esperam outra descida de taxas na Europa, enquanto nos EUA descontam uma descida no último trimestre do ano.
Em conclusão, o diretor comenta que “é o momento certo para assumir risco, mas de uma forma seletiva e granular”.