O investimento sustentável foi apenas um dos temas comentados num encontro entre três profissionais da gestão de ativos. Falou-se também de qual será a economia mundial mais resiliente para enfrentar o atual contexto macroeconómico.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
A discussão sobre qual das economias mundiais está hoje mais resiliente para enfrentar o atual contexto macroeconómico está tão viva como estava há sensivelmente dois anos, muito embora a incerteza geopolítica pese mais de um dos lados do Atlântico. Qual a melhor região para investir: Europa ou Estados Unidos? Os desafios que ambas as economias enfrentam são muitos, mas qual estará mais preparada?
Este foi apenas um dos temas em discussão entre três profissionais da gestão de ativos num pequeno-almoço organizado pela FundsPeople em conjunto com a Carmignac. Entre as perguntas sobre qual a região mais atrativa para investir, falou-se também do tema do investimento sustentável e quais as principais características que as empresas do velho continente têm.
“A guerra elevou o ESG a um nível superior”
No contexto do mais recente conflito que trouxe de volta pesadelos aos europeus que já há algumas décadas não tinham, Jorge Silveira Botelho, CIO da BBVA Asset Management Portugal, comenta que “a guerra elevou o tema ESG a um patamar mais elevado”. Na Europa especificamente, o profissional não vê grandes preocupações com o tema do investimento sustentável, uma vez que “há muitas empresas relacionadas com as energias renováveis e infraestruturas, que são abrangidas pelos planos fiscais de apoio à transição energética que atualmente se encontram a ser executados”. Assim, escusado será dizer que, para Jorge Silveira Botelho, a curto e a longo prazo, “a Europa é a melhor região para investir no tema ESG”, perspetivando que no futuro haverá espaço para muito mais investimento. Diz mesmo que será um “game changer para esta região”.
No que se refere à guerra Rússia-Ucrânia, o CIO da BBVA AM admite que “o acontecimento mudou drasticamente a alocação a ações em todo o mundo”. Mais propriamente, o profissional prevê que “os mercados emergentes terão um problema neste aspeto”. “Este cenário já acontece hoje em dia na China, na medida em que é um mercado mais barato relativamente a outros”, acrescenta.
No entanto, reitera o já referido. “O tema ESG, em termos de taxonomia e investimento, continuará a predominar na Europa, porque não chega parecer, é preciso ser em matéria de cumprimento dos critérios ESG. A Europa é uma região muito democrática, e liberal, única no mundo, e as empresas e os consumidores estão cada vez mais focados em relevar a importância deste tipo de temas”, sublinhou.
Empresas europeias na onda certa
Fátima Só, gestora de carteiras na GNB Gestão de Ativos, também acredita que a região europeia “está numa fase diferente do tema ESG”. “As empresas europeias estão a mover-se na direção correta”, refere.
Neste encontro, a profissional trouxe à conversa a sua experiência profissional para apresentar como é a gestão de um fundo de ações globais cujo principal objetivo é ser um produto sustentável. A gestora diz ter a completa noção de que há setores que estão mais avançados neste tema comparativamente com outros, no entanto, afirma: “Não excluímos setores. Em vez disso, olhamos para as empresas que se estão a mover na direção certa em termos de ESG e que se estão a adaptar a esta nova realidade”.
No que toca a preferências geográficas, partilha a mesma opinião que Jorge Silveira Botelho. Além disso, acredita que “as empresas começaram com mais preocupações no que se referem aos temas inseridos no Environmental, mas, neste momento, precisam de se focar nos temas que abrangem o Social e o Governance”, comenta. “Essa por si só também será uma evolução”, assinala.
EUA: uma economia mais resiliente
Ramón Carrasco, business developer da Carmignac, começa por mencionar que, de uma perspetiva qualitativa, a região norte-americana é atualmente "a mais resistente" dada a independência energética e a exposição limitada à Rússia. Deste ponto de vista, compreende as saídas que têm sido observadas na Europa, em detrimento dos Estados Unidos. "Os investidores sentem-se mais confortáveis a investir na economia dos EUA", exclama. Por outro lado, afirma que para investir na região europeia, "é preciso implementar uma profunda estratégia de seleção de ações", acreditando que o resultado desta estratégia será melhor do que comprar um índice genérico europeu.
Sobre o tema do investimento sustentável, o profissional da Carmignac afirma que a sua opinião é que o tema continuará a ser muito procurado no futuro. Esta exigência é apoiada, segundo Ramón Carrasco, por "literatura que mostra que o desempenho de uma carteira de ESG é superior ao desempenho de uma carteira não-ESG".
Além disso, comentou também a estratégia de investimento sustentável seguida pela Carmignac. “Preferimos encontrar uma solução de transição que conduza a um resultado melhor e mais inclusivo para todos. As empresas petrolíferas e de gás têm muito a contribuir se reconhecerem que o seu modelo de negócio tem de evoluir para apoiar a transição energética. Já estamos a ver como algumas grandes companhias petrolíferas europeias estão a empenhar-se nesta transformação. Estão a estabelecer objetivos ambiciosos e a melhorar a sua divulgação ambiental, o que reflete o facto de que estão em processo de transição", conclui.