Num pequeno-almoço organizado pela FundsPeople e a HSBC, discutiram-se as tendências de investimento neste segmento, com destaque para o crescimento dos ETF de gestão ativa.
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A popularidade dos ETF é indiscutível nos dias que correm. Concretamente em Portugal, segundo estimativa da FundsPeople, dos 40 mil milhões de euros alocados a fundos estrangeiros nos diferente segmentos do mercado português, mais de 17 mil milhões são alocados através de ETF. Desta feita, tendo em conta a relevância destes produtos para a indústria de gestão de ativos, estes foram tema de um encontro recente organizado entre a FundsPeople e a HSBC. De entre os vários pontos abordados, neste artigo destacamos as tendências que Ana Onofre, gestora de fundos na Montepio GA, João Tomás Drumond, gestor de portefólios na BPI Vida e Pensões, Rui Broega, diretor da Gestão de Ativos do BiG e Marta Bretones Benavides, responsável de ETF e Indexing Sales para a Península Ibérica na HBSC, consideram merecedoras da atenção dos investidores.
Um dos destaques é o contínuo avanço da gestão ativa no universo dos ETF, que tem atraído cada vez mais investidores. Os profissionais partilham algumas das razões que poderão estar na origem dessa tendência, frisando o facto do acesso a instrumentos de gestão ativa ser tipicamente mais direcionado para fundos de investimento tradicional, do que propriamente para ETF.
Diversidade de classes de ativos, regiões e temas
Os profissionais foram unânimes em destacar o potencial de crescimento dos ETF, enfatizando a diversidade cada vez maior na sua oferta. Marta Bretones Benavides trouxe à conversa um estudo do Citi, “que projeta que metade do capital dos investidores de longo prazo nos Estados Unidos poderá vir a estar investido em ETF”. Mesmo assim, a profissional da HSBC realça a expansão regional destes produtos que se começa a verificar, com destaque para a Índia. Também a diversidade dos ETF entre as várias classes de ativos é uma tendência que observa. “Estamos a ver o aparecimento de mais ETF no segmento de rendimento fixo, mas também de estratégias multifatoriais e em alternativos, apesar dos desafios de liquidez”.
Visão que é acompanhada por João Tomás Drumond, que sublinha que uma das tendências mais marcantes é “a personalização da oferta, com produtos adaptados às diferentes classes de ativos”. Outra das tendências que o gestor de portefólios destaca é a crescente procura por ETF de rendimento fixo, especialmente nos dias que correm, devido à atratividade das yields. “Creio que é uma tendência que se vai manter, ainda que, provavelmente, esteja a atingir o auge da procura”, remetendo para o atual contexto de descida de taxas de juro. Segundo dados da Morningstar, há uma década, apenas um dos 20 maiores fundos de obrigações do mundo era um ETF. Atualmente, são cinco e já existem 18 entre os 50 maiores.
Rui Broega, por sua vez, aponta “a crescente procura por segmentos de nicho como matérias-primas, especificidade setorial e alavancados, bem como as estratégias smart beta, que reforçam a sua notoriedade junto dos investidores”. Tanto o profissional do BiG como Ana Onofre fazem menção à crescente procura por ETF temáticos, relacionados com ESG ou sustentabilidade, por exemplo, uma realidade mais comum na Europa, “onde existe claramente uma preocupação em adaptar os produtos a métricas de sustentabilidade no investimento”, dizem. “Se de facto temos uma crença forte sobre um tema que achamos que vai ser de longo prazo e queremos estar expostos a ele, os ETF temáticos podem ser uma boa forma de o fazer”, acrescenta a profissional do Montepio GA.
Mais gestão ativa
Também o desenvolvimento de mais estratégias de gestão ativa dentro do universo dos ETF é uma tendência unânime. Na opinião do diretor de Gestão de Ativos do BiG, há várias razões que estão a impulsionar o interesse nestes produtos. “A aspiração em obter desempenhos superiores aos índices de referência e a maior flexibilidade nos ajustamentos de alocação possíveis em momentos de maior volatilidade”, são duas delas, bem como “a capacidade adaptativa da alocação de carteiras que cria uma dinâmica de adaptação contínua às condições de mercado, sendo concomitantemente, o fator que impulsiona o desenvolvimento das estratégias smart beta”.
Mas será que esses produtos são uma alternativa mais voltada para a gestão passiva ou para os fundos tradicionais? Também neste ponto parece haver consenso de que se destinam, sobretudo, a estes últimos. “É verdade que tem havido muitos lançamentos de ETF de gestão ativa, mas se olharmos para os ativos sob gestão dos de gestão passiva, também estes estão em alta”, explica João Tomás Drumond. “Por isso”, acrescenta, “penso que os principais concorrentes dos ETF de gestão ativa são, na verdade, os fundos de investimento tradicionais. E a razão é simples: a estrutura de custos, que será francamente inferior nos ETF ativos, comparado com os fundos de investimento tradicionais”. Adicionalmente, menciona que a maior liquidez dos ETF de gestão ativa e os menores requisitos de capital são também importantes vantagens face aos fundos de investimento tradicionais.
Na sua visão, a inteligência artificial poderá também impulsionar o aparecimento de novas estratégias de gestão ativa. Não obstante, ainda que acredite que “este mercado de nicho” tenha vindo para ficar, “o seu desenvolvimento dependerá também da disposição dos investidores, especialmente de retalho, em pagar comissões mais altas, considerando que muitos já fazem alocações táticas por conta própria”, declara.
Marta Bretones Benavides reforça a ideia de que o interesse por ETF de gestão ativa, em detrimento de fundos tradicionais “deve-se ao facto dos ETF de gestão ativa oferecerem um controlo mais eficiente sobre as carteiras e um menor tracking error”. A profissional da HBSC destaca as vantagens fiscais destes produtos nos EUA, comparativamente à Europa, mas está otimista em relação ao seu crescimento europeu “especialmente com a possibilidade de sinergias entre diferentes estratégias, que permitirá que esses produtos capturem uma fatia maior do mercado”. Sobre esta matéria, Ana Onofre realça a variedade de soluções que o mercado já apresenta dentro dos ETF de gestão ativa. A gestora de fundos do Montepio GA admite que este é um segmento com potencial, que irá continuar a crescer à medida que mais investidores se interesse por este tipo de estratégias.