As três grandes mudanças que fizeram nas carteiras de fundos soberanos

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A forte aversão ao risco que se viu no último trimestre do ano passado nos investidores perante a forte queda que a grande maioria dos mercados financeiros sofreu não diferenciou em função do património de cada investidor. Esta aversão aconteceu praticamente em todos os níveis patrimoniais. De facto, nas últimas semanas foram publicados vários estudos que assim o demonstram. Um desses foi o relatório anual da Capgemini sobre os investidores de elevado património, onde essa aversão ao risco se nota no facto de pela primeira vez na carteira deste tipo de clientes ter maior peso a liquidez do que as ações.

Outro relatório anual sobre a gestão de investimentos soberanos que a Invesco acabou de publicar, que demonstra a visão sobre o mercado de 130 CIO, responsáveis de ativos e estrategas de carteiras sénior de 68 fundos soberanos e 71 bancos centrais, a gestora calcula que geriam 20 biliões de dólares no fim do primeiro trimestre deste ano.

A primeira conclusão que se pode extrair do mesmo é que apesar da volatilidade que reinou, sobretudo a partir da segunda metade de 2018, os investidores soberanos conseguiram salvar-se. “Num período complicado, os investidores de fundos soberanos conseguiram em média rentabilidades de 4% em comparação com o forte rendimento de 2017 quando foram registadas em média rentabilidades de 9%”, refere Alexander Millar, responsável do negócio institucional EMEA da Invesco.

Este ano pode ser resumido em três grandes mudanças que este tipo de investidores realizou no que diz respeito às suas carteiras, num contexto em que a grande maioria considera que nos encontramos na parte final do atual ciclo expansivo de que a economia disfrutou nos últimos anos de uma forma quase generalizada. De facto, 89% dos inquiridos considera que esse fim de ciclo acontecerá antes dos próximos dois anos.

A primeira dessas mudanças refere-se ao horizonte de investimento, que passou dos 7,8 anos em média para um total de 8,5 anos, o que casa perfeitamente com o facto de que neste tipo de investidores “houve um aumento de alocações a mercados privados ilíquidos, com mais capital fechado por períodos prolongados e estes investimentos estão a ser considerados por intervalos de tempo maiores”, aponta o estudo.

A segunda grande mudança aplica precisamente as modificações que estabeleceram na composição das suas carteiras. Tal como acontecia com os investidores de grandes patrimónios, os investidores soberanos também optaram por continuar a descer degraus na sua escala de risco. Assim, ao mesmo tempo que elevaram a exposição às obrigações, que já representam 33% em média nas suas carteiras, reduziram de 33% para 30% o peso das ações, o que deixa as obrigações como o tipo de ativo que mais pesa na sua carteira. As obrigações não foram o único tipo de ativo que aumentou o seu peso em comparação com o ano anterior já que também se viu um aumento nos investimentos alternativos ilíquidos que já representam 18% da sua carteira (o número chega até aos 21% incluindo os alternativos líquidos), assim como o investimento direto em ativos alternativos com um claro predomínio do mercado imobiliário e do capital de risco.

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Além disso, espera-se que este tipo de investimentos também vá aumentando já que quando se questionou os investidores sobre em que tipo de ativos têm pensado aumentar as suas posições muitos falaram do universo dos alternativos. Concretamente, 36% tem previsto aumentar as suas posições no investimento de infraestruturas, 29% no mercado imobiliário não cotado e 27% em capital de risco. Pelo contrário, viram-se as maiores coincidências quando lhes perguntaram que tipo de ativo têm pensado reduzir a exposição: as ações. 22% afirma que continuará a baixar o seu peso na carteira.

Por último, a terceira grande modificação que os investidores soberanos estão a fazer refere-se à exposição geográfica das suas carteiras. “As percepções do aumento do risco político levaram a uma diminuição do atrativo das principais economias europeias”, referem no relatório que, além disso, cita o Brexit e o auge do populismo na Europa como os dois grandes riscos que os investidores soberanos mais temem a respeito do Velho Continente. Por isso, 31% dos inquiridos mostra-se partidário em reduzir a sua exposição ao mercado europeu, o triplo dos 13% que pretende aumentá-lo. Pelo contrário, no caso dos mercados emergentes, 36% pensa em aumentar o seu peso nestas economias e 40% planeia fazê-lo só na Ásia, números muito superiores aos que pensam aumentar as suas posições nos mercados norteamericanos.