BCE marca primeira descida das taxas para junho: primeiras reações das gestoras internacionais

Christine Lagarde
Christine Lagarde. Créditos: Cedida (BCE)

Seria um acontecimento histórico, mas tudo indica que estamos a caminho disso: as trajetórias da política monetária dos EUA e da Europa poderão começar a divergir. Na reunião de abril, o Banco Central Europeu praticamente selou o seu plano de começar a reduzir as taxas de juro em junho, uma vez que a inflação está a caminho de atingir o seu objetivo de 2%. Por outro lado, na véspera, a inflação nos EUA voltou a registar um valor surpreendentemente forte, de 3,5%, o que retira a possibilidade de redução das taxas. Por outras palavras, o BCE poderá ser forçado a reduzir as taxas antes da Fed.

Para Jan Felix Gloeckner, especialista sénior em Investimentos da Insight, parte do BNY Mellon IM, o BCE deu hoje um sinal claro de que irá considerar um corte das taxas na reunião de junho. "E, a menos que a inflação apresente alguma surpresa negativa, parece haver poucas razões para não o fazer", admite o especialista. O detalhe fundamental que destaca é que o BCE disse que vai esperar pela confirmação de que a inflação está no caminho certo para voltar ao objetivo de forma sustentada quando o Conselho do BCE atualizar as suas previsões de inflação no início de junho. No entanto, Jan Felix Gloeckner salienta que o BCE também frisou que continuará a depender dos dados e que, se o processo de desinflação prosseguir, existe a possibilidade de novos cortes de taxas ao longo do ano.

Regresso a 2016?

Que o BCE desça as taxas antes da Fed não é um pormenor de menor importância. "Christine Lagarde terá de adotar uma abordagem diferente e seguir uma estratégia monetária independente no futuro. Isto é especialmente crítico, dada a sua posição restritiva e o seu impacto na economia europeia", sublinha Nicolas Forest, diretor de Investimentos da Candriam.

Como bem recorda Nick Sheridan, gestor de Ações Europeias da Janus Henderson, a última vez que o BCE e a Fed se moveram em sentidos diferentes foi em março de 2016, quando a Europa viu as taxas serem reduzidas enquanto as taxas dos EUA começavam a subir. Os efeitos prováveis de tais cortes seriam o enfraquecimento do euro face ao dólar e o aumento dos preços do petróleo (cotado em dólares). "Por isso, o BCE ainda tem pela frente um ato de equilíbrio e de delicadeza", acrescenta Nick Sheridan.

Posicionamento

Gurpreet Garewal, estratega macro da Goldman Sachs Asset Management, também afirma que o BCE continua a apontar para o início de cortes de taxas este verão, dependente do ajuste da evolução da inflação e das condições do mercado laboral às expetativas. Perante este cenário, Garewal sugere uma posição sobreponderada das taxas europeias face a outros mercados, visto que tanto o crescimento como o contexto inflacionista favorecem um retrocesso das políticas restritivas. “No entanto, como a experiência dos EUA demonstra, a evolução das taxas depende dos dados, o que exige uma abordagem dinâmica das exposições à duração”, adianta o especialista da GSAM.

E depois de junho?

Já podemos antecipar a narrativa que vai começar a dominar o mercado a partir de junho. Porque após a primeira descida de taxas, os investidores vão começar a questionar-se: quando será a próxima? E aqui, as opiniões estão mais divididas. “Não se espere que o BCE se precipite no momento de descer as taxas de juro”, opina Felix Feather, economista na abrdn. “Apesar de abraçarem a ideia de cortes, os membros da instituição também salientaram a necessidade de manter uma política restritiva durante algum tempo, o que impedirá uma série de descidas muito bruscas”. Não obstante, Felix espera que o BCE efetue vários cortes de 25 pontos base antes do final do ano.