Embora em setembro o mercado tenha descontado uma pausa na reunião de outubro, os dados macroeconómicos mais recentes tornaram consensual a redução das taxas do Banco Central Europeu.
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Cumprindo mais uma vez o guião, o Banco Central Europeu baixou as taxas de juro em 25 pontos base. É a segunda redução consecutiva após a reunião de setembro e a terceira neste novo ciclo monetário. Mas o que é realmente interessante é a reviravolta nas expetativas do mercado numa questão de semanas. Recorde-se que há apenas um mês, o consenso das gestoras internacionais defendia uma pausa nesta reunião.
Na opinião da Ofi Invest AM, foram os últimos números macroeconómicos que fizeram o BCE mudar de discurso. “Já não se pode ignorar a debilidade do crescimento, o que explicaria o corte das taxas em outubro, quando antes só se esperava em dezembro”, salientam. E foi o que aconteceu. Apesar de não ser a decisão que se esperava, a primeira reação do mercado foi positiva. Os principais índices europeus subiram nas horas que se seguiram à reunião, enquanto as yields das obrigações de curto prazo caíram.
O que Tomasz Wieladek, economista-chefe para a Europa da T. Rowe Price, salienta é que a linguagem utilizada no comunicado foi mais equilibrada do que os mercados esperavam. Na sua opinião, é um sinal de que o BCE quer manter todas as opções em cima da mesa. Além disso, os acontecimentos políticos e os dados determinarão a reação do BCE em dezembro. “Por exemplo, se a ameaça das tarifas dos EUA levar a inquéritos empresariais muito mais fracos na zona euro, reforçando a ideia de que a zona euro está a caminhar rapidamente para a recessão, então o BCE poderá reduzir as taxas em 50 pontos base numa das próximas reuniões”, explica.
Dados apontam para nova redução em dezembro
Agora, o consenso entre as gestoras internacionais é que a reunião de dezembro trará uma nova redução das taxas de 25 pontos base, levando a taxa da facilidade de depósito para 3%. “Este é o cenário mais provável”, explica Erick Muller, diretor de Estratégia de Mercados e Produtos da Muzinich & Co, uma vez que considera provável que as estimativas do PIB e da inflação sejam revistas em baixa na publicação das previsões de dezembro dos especialistas do BCE.
“A confiança da presidente Lagarde no processo de desinflação é evidente. Embora seja provável que a inflação aumente no quarto trimestre, é também provável que o BCE olhe mais para a frente devido à fraca procura interna e à continuação de condições de financiamento restritivas”, comenta Erick Muller. E concorda Ulrike Kastens, economista para a Europa na DWS, cuja impressão é que existe uma confiança crescente entre os membros do BCE de que o objetivo de inflação será atingido no decorrer de 2025.
“Resta saber quanto tempo o BCE se manterá na via rápida”, afirma Ann-Katrin Petersen, estratega-chefe de Investimentos para a Alemanha, Áustria, Suíça e Europa do Leste no Instituto de Investimentos da BlackRock, mas, de momento, concorda que haverá uma descida de taxas em dezembro. “As taxas continuam muito restritivas e há mais margem para as flexibilizar em comparação com a Reserva Federal, que endureceu mais a sua política”, explica. É um ponto também sublinhado por Ulrike Kastens: “Em termos reais, as taxas de juro oficiais são agora ainda mais restritivas do que em setembro de 2023, quando foi realizada a última subida de taxas”.
Como afirma Nicolas Forest, diretor de Investimentos da Candriam, as futuras decisões de política monetária vão basear-se nos dados que forem chegando e nas projeções macroeconómicas do trimestre seguinte. E com os dados que temos até à data, a sua previsão é que haverá um novo corte em dezembro. “Embora as políticas de apoio da China e o último inquérito sobre empréstimos bancários do BCE possam oferecer algum impulso, a economia alemã está a contrair, o setor industrial atravessa dificuldades e avizinham-se as eleições norte-americanas”, argumenta Nicolas Forest.
E em 2025?
Na PIMCO, concordam com o consenso. Konstantin Veit, gestor de carteiras, acredita que o BCE vai voltar a realizar um corte em dezembro, e a fixação de uma taxa final de cerca de 1,85% para o segundo semestre do próximo ano parece-lhe razoável. Prevê também que o debate no Conselho de Governo sobre a configuração adequada da taxa de juro neutra seja o foco do próximo ano.
A reunião de outubro reforça a expetativa de especialistas como Felix Feather, economista na abrdn, de que vão ser realizados mais três cortes até março de 2025. Mas há especialistas, como Karsten Junius, economista-chefe na J. Safra Sarasin Sustainable AM, que receiam que o Conselho de Governo do BCE continue a ficar para trás. “Os indicadores de inflação do mercado mostram um risco elevado de descida da inflação, enquanto o crescimento do investimento é claramente demasiado fraco”, insiste. Karsten Junius espera novos cortes de taxas em cada uma das próximas cinco reuniões e que a taxa de juro oficial se situe em 2% em junho de 2025.
O que as gestoras internacionais também veem com clareza é que, de momento, não há motivos para o BCE ser mais agressivo com os seus cortes de taxas do que a Fed tem sido. “O BCE confia mais na sua previsão de que a inflação vai voltar ao seu objetivo de 2% no segundo semestre de 2025, pelo que consideramos provável uma série de cortes consecutivos. Acreditamos que só uma nova deterioração económica brusca levaria o BCE a aumentar a magnitude dos próximos cortes e a apressar-se a situar as taxas abaixo do nível neutro”, defende Ann-Karin Petersen.