O termo bonds vigilantes foi celebrizado pelo economista Edwaed Yardeni nos anos 80 e faz referência aos investidores de obrigações.
Era uma vez um mercado que vivia aterrorizado por um fenómeno chamado inflação. No momento em que se ouviam rumores da sua chegada, todos os ativos começavam a tremer. No entanto, nasceu uma nova figura que vinha controlar as pressões inflacionistas que podem fazer tremer a economia. São os chamados bond vigilantes. Este poderia ser o começo de uma das comics da Marvel, mas é na verdade a economia a ser ela própria, nas suas múltiplas facetas. A inflação e tudo o que ela implica. Se noutros artigos tínhamos falado do rufar de tambores do taper tantrum, agora também se escuta o regresso dos bond vigilantes: quem são e que função desempenham? Explicamo-lo no Glossário da FundsPeople.
O termo bond vigilantes foi celebrizado pelo economista Edward Yardeni na década de 80. Tal como explica a agência de títulos Portocolom AV, viriam a ser os vigilantes da economia e servir de referência aos investidores em obrigações. “Comentava-se que, se as autoridades monetárias e fiscais não regulavam corretamente a economia, os investidores em obrigações iriam fazê-lo. De tal forma que se um banco central, por exemplo, ficava para trás nas suas políticas monetárias, os vigilantes obrigavam-no a atuar através de pressões nos preços de mercados das obrigações”.
O conceito foi imortalizado mais tarde por James Carville, um assessor do presidente Bill Clinton, que em 1994 lamentou não poder reencarnar-se no mercado de obrigações para poder “intimidar toda a gente”.
No entanto, a crise financeira de 2008 e as atuações dos bancos centrais através de políticas de flexibilização quantitativas fizeram com que as yields das obrigações caíssem numa letargia com uma inflação irrelevante. Em 2018 o economista Ramana Ramaswamy falava dos vigilantes de mercado de obrigações como uma espécie em vias de extinção. No entanto, perante a presença de uma inflação em crescimento voltaram a ressurgir.
Voltaram os bond vigilantes?
“Os investidores começaram a tomar consciência de que os baixos níveis de taxas de juro e de inflação não poderão ser para sempre”, explicam a partir da Portocolom.
Perante a subida nas expetativas de inflação, aspeto que poderá considerar-se positivo já que estaríamos perante um crescimento da economia, o comportamento do mercado poderá mostrar o contrário. “A sua interpretação dependerá da intensidade do aumento, da sua duração e da atitude dos bancos centrais”.
É neste contexto que o papel dos bond vigilantes volta a ganhar importância. Voltarão os bond vigilantes perante a atitude dos bancos centrais e dos governos perante o aumento da inflação?
Se olharmos em perspetiva, as taxas de juro continuam em mínimos históricos, ou próximo deles, e a agressiva política dos bancos centrais continua a distorcer muitos mercados de dívida pública e corporativa. No entanto, Edward Yardeni, em declarações ao Financial Times, comenta que é neste contexto de excesso de política fiscal e monetária onde os bond vigilantes prosperam. “O seu trabalho consiste em devolver a lei e ordem à economia quando os bancos centrais e as autoridades fiscais não respeitem a lei. E poderá dizer-se que isso é o que se está a ver”, argumenta.
Os bons bond vigilantes deveriam identificar as tendências de deterioração no comportamento tanto dos seus governos como de empresas. Assim explica a M&G no seu blog, cujo nome é precisamente este termo.
Por enquanto, parece que embora a inflação se acelere em 2021, não é um fenómeno que represente um desafio sério a longo prazo para os mercados de obrigações. Embora recentemente se tenha observado volatilidade, as yields das obrigações continuam a ser historicamente baixas.