Um dos responsáveis de obrigações emergentes da Amundi revela a perspetiva da casa sobre esta classe de ativos para os próximos meses.
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Colm D’Rosario é um dos responsáveis de obrigações emergentes da Amundi, uma equipa que gere fundos, como por exemplo, o Amundi Funds II – Emerging Markets Bond, classificado com os selos Blockbuster e Consistente Funds People.
A revisão de D’Rosario sobre este ano começa pela série de eventos idiossincráticos que ocorreram: a crise na Argentina, as eleições turcas, as mexicanas e a queda do Brasil. Na sua opinião, relativamente ao futuro, “o mais importante será a reavaliação do cenário de crescimento. Ainda gostamos dos fundamentais do mercado e ainda vemos crescimento, embora talvez um pouco mais baixo, próximo dos 5%. O ano começou num tom otimista, mas depressa diminuiu, em parte devido às ameaças da guerra comercial que estão a gerar um clima de desconfiança e incerteza para o investidor, o que pode ter um impacto negativo no crescimento. Isto unido à subida de taxas nos EUA, faz com que, embora o cenário de crescimento sincronizado se mantenha, os riscos sejam um pouco mais evidentes para os investidores, sobretudo num contexto no qual já não haverá também incentivos monetários ilimitados”, afirma.
Apesar da combinação destes fatores, os mercados emergentes “no total ainda mantêm um ritmo de crescimento saudável. Na última correção destes mercados, que não está tão longe, houve uma boa limpeza do mercado, sobretudo nos balanços de muitos empresas como a Vale ou Petrobras, pelo que os balanços estão agora mais saudáveis. Por isso, esperamos que as taxas de incumprimento, que estão baixas, se mantenham assim”, aponta o especialista da Amundi. Embora reconheça que os ativos em moeda local estejam sob pressão, considera que “a médio prazo, tendo em conta a queda que as divisas sofreram, chegará a altura de acrescentar risco por este lado, embora não ainda, porque a curto prazo não vemos um catalisador. Mas vemos potencial para uma mudança de sentimento, em relação ao investimento em moeda local no último trimestre deste ano ou no primeiro de 2019. Quando esse momento chegar, a dívida em moeda local voltará a ser uma classe de ativos apelativa”, assinala. Sobre o segmento de investimento em divisas fortes, D’Rosario explica que também sofreu pela fragilidade das divisas e pelos riscos políticos. Mesmo assim “os spreads não são muito amplos se se tiver em conta os dados históricos, e embora se tenha de ter em conta o facto de os mercados emergentes terem evoluído e de se terem transformado muito, talvez possam ampliar um pouco mais, mas a médio prazo ainda somos construtivos,” aponta.
Distribuição de ativos
Sobre a distribuição da carteira global de emergentes, D’Rosario assinala que reduziram um pouco o peso da dívida local a favor da moeda forte, e que no total das carteiras reduziram um pouco a duração dos spreads para passar o verão, com a expectativa de que nos finais do ano as perspetivas melhorem quanto ao retorno total, porque o carry é bom. Reduziram cerca de 30 p.b. desde os cinco anos de finais de maio.
Relativamente aos países “estamos longos no Brasil, África do Sul e Argentina, embora neste último país estejamos muito diversificados, sobretudo na dívida corporativa, pois é mais resistente. Na Turquia reduzimos o peso devido a vários fatores, entre eles as eleições e o seu efeito no mercado. Embora já tenham passado e já conheçamos o estilo de Erdogan, trata-se de um país vulnerável a acontecimentos externos, como as subidas das matérias-primas (Turquia é importadora), as tensões do Médio Oriente e a subida de taxas nos EUA. Na Ásia estamos a ter o mesmo peso do índice porque as valorizações estão mais ajustadas e tem de se ser muito seletivo, embora seja uma parte muito importante do mercado, uma vez que os dois terços das emissões corporativas são asiáticas. É um mercado muito importante, mas tem de se ser muito seletivo”, sublinha.
Também houve eleições no México, um mercado no qual estão subponderados. “O segmento de divisa forte não está muito barato e no de divisa local o peso esteve sob muita pressão perante o processo eleitoral. Além disso, na dívida local existem muitas empresas expostas aos EUA. Essa combinação de fatores faz com que sejamos cautelosos. Enquanto não ficarem claras, continuaremos subponderados. No Brasil, também esperamos que haja um aumento da volatilidade, à medida que as eleições se aproximem, mas no total, estamos otimistas em relação ao mercado e também é um universo com uma grande diversidade de opções. Não se trata apenas da dívida soberana, mas sim também de haver empresas que possam beneficiar da fragilidade da divisa. Há mais opções”, assinala o gestor.
Do ponto de vista setorial existe preferência pelo setor energético, pelo financeiro segmento senior e são mais cautelosos com o setor de consumo, devido ao efeito que a fragilidade das divisas possam ter. Procuram algo que funcione melhor, no caso de um crescimento um pouco menor, mais defensivos.
A construção da carteira
Na construção das carteiras dos fundos, a equipa de dívida emergente da Amundi é flexível em relação ao benchmark. “Funcionamos sempre com orçamentos de risco. Existem duas pessoas que vigiam estes orçamentos no processo de construção e seguimento das carteiras. Esse sistema mede os objetivos em termos de contribuição do tracking error, relativamente ao índice de referência. Por isso, embora tenhamos grandes desvios e geramos fundos de alta convicção, no fim do tracking error relativamente aos índices, não é tão elevado e podemos oferecer uma relação rentabilidade/risco satisfatória. Essa ideia complementa-se com a necessidade de deixar que os analistas e gestores corram riscos. Essa abordagem dupla é o produto do trabalho em equipa e produz retornos”, explica D’Rosario.
Sobre como o ativo da dívida emergente se pode ver afetado pelo fim da flexibilização monetária nos EUA, D’Rosario considera que irá continuar a haver procura por esta alternativa de investimento. “Os fundamentais que apoiam esta ideia de investimento ainda estão aí e há segmentos que sofreram muito, pelo que vejo muito potencial, sobretudo na dívida local, mediante a recuperação das divisas. Na dívida soberana, os spreads estão baixos, mas continuará a haver procura porque o ritmo de normalização está a ser razoável e o prémio de risco emergente já está bastante incorporado no preço”, conclui.