Como a tecnologia e o investimento responsável dão as mãos

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Créditos: Robynne Hu (Unsplash)

O mundo não pode evoluir sem desenvolvimento tecnológico e o investimento sustentável veio para ficar. Importa, contudo, perceber como estes dois temas se interligam. A FundsPeople reuniu com Luca Fasán, gestor da Sycomore AM, para perceber quais as expectativas do gestor para o futuro do setor e como vê o binómio investimento em tecnologia e sustentabilidade.

Parece voltar o interesse pelo investimento em empresas tecnológicas. Pelo menos, esta é a visão de Luca Fasán, que afirma que “assistimos a uma inversão da tendência que predominou em 2022”. Apesar de o ano ter começado de forma atípica, “o mercado apercebeu-se que existem empresas tecnológicas robustas que foram demasiado penalizadas”. Deu-se, então, a inversão da tendência. Para o gestor, outro catalisador importante para a inversão de paradigma foi o Chat GPT. Não especificamente pela empresa que o desenhou ou pelo que conseguiu, mas sim “por provar que a tecnologia da inteligência artificial resulta e por dar uma pequena amostra do que esta se pode tornar”. Luca Fasán adivinha uma revolução “como a que assistimos quando surgiu o primeiro smartphone”.

Seguindo a corrente da nova onda da inteligência artificial, o especialista da Sycomore AM elabora as três diferentes fases que se avizinham e como aspira tirar partido de cada uma delas. Inicialmente, “é preciso construir infraestruturas para suportar a nova tecnologia”. Falamos de hardware, onde “empresas como a NVIDIA se podem destacar”. O gestor acredita que será preciso “desenvolver e aprimorar tecnologias que permitam maior velocidade de processamento, maior armazenamento de memória e maior interligação entre ferramentas e dados”. A segunda parte da onda deve enfocar no custo associado a ensinar os algoritmos. Aqui será necessária “uma mistura de hardware e software que visa tornar mais eficiente o processo de aprendizagem dos modelos”. Por fim, e talvez o momento mais interessante, será a hora de perceber onde esta tecnologia pode realmente ser utilizada. O gestor afirma que “é aqui que se vão ver os verdadeiros vencedores” e que, “apesar de ainda não estarmos nessa fase, a verdade é que as soluções que serão apresentadas no futuro já começaram a ser pensadas pelas empresas e é preciso os investidores estarem atentos”.

Para além da inteligência artificial, o gestor destaca outras áreas de interesse no universo que melhor acompanha, o investimento sustentável em tecnologia. Da enorme abrangência do setor tecnológico, o gestor destaca “a aplicação de novas ferramentas à educação, o desenvolvimento da mobilidade sustentável, o desenvolvimento tecnológico no campo da saúde e mesmo o desenvolvimento na construção sustentável de novas habitações”. Esta diversidade de temas permite aos investidores “investir em tecnologia, um setor multitemático exposto a diversos outros setores”.

O engagement como linha orientadora

Fazendo a ponte entre a tecnologia e o investimento sustentável, o gestor destaca a importância que os investidores têm nas decisões da empresa. Como investidores “temos o dever de entrar em contacto com as empresas e, juntos, avaliar possíveis externalidades negativas”. Fazendo a ponte com a inteligência artificial, Luca Fasán atira que “estamos no momento de definir os limites a impor a esta tecnologia”. Para uma avaliação justa e sustentável, “é necessário interagir com as empresas, perceber os seus planos, impor limites e arranjar soluções para possíveis problemas ambientais, sociais e mesmo de governance que possam surgir”.

Em termos de sustentabilidade, o gestor avalia o universo tecnológico investível em três principais conjuntos. Um primeiro grande grupo que consiste em empresas claramente sustentáveis. Faz parte do seu papel avaliar o produto e/ou serviço que a empresa oferece e perceber se tem ou não um impacto negativo no ambiente. A título de exemplo, o gestor fala de “um centro de dados que utiliza quase na totalidade energia renovável” ou “uma aplicação que visa ensinar idiomas às pessoas com um custo quase nulo”, ambos casos que cumprem este critério. O segundo grande grupo resulta de produtos ou serviços que “não foram necessariamente pensados como sustentáveis, mas que depois na sua utilização o são”. Aqui, o exemplo dado foi o da cibersegurança. O gestor recorda que “os principais desenvolvimentos desta tecnologia provêm principalmente da indústria militar, no entanto, a maioria das empresas utiliza atualmente a tecnologia para proteger informação privilegiada dos seus clientes”. Por fim, encaixam num último bloco as “empresas que, apesar de ainda não se enquadrarem em nenhum dos grupos, estão a desenvolver planos e a trabalhar nesse sentido”.

Como foi ficando evidente ao longo da conversa, há muito por onde investir no setor tecnológico, sem por de parte os princípios sustentáveis. O gestor acredita seriamente que é possível, em simultâneo, “gerar o retorno desejado para os investidores, impulsionar o desenvolvimento tecnológico e impactar positivamente o ambiente, a sociedade e as empresas”.