As posições curtas no sector energético e nos bens de consumo catapultaram o fundo de ações europeias long/short, especialmente nos últimos meses. A estratégia explicada na primeira pessoa.
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A popularidade do fundo estrela da UBS Global AM, UBS (Lux) European Opportunity Unconstrained, tem sido evidenciada. O produto de ações gerido por Max Anderl (na foto) e Jeremy Leung, conseguiu posicionar-se este ano como o melhor fundo dentro da sua categoria Morningstar a 31 de outubro. Desde janeiro a sua rentabilidade acumulada ascende aos 16,1% face aos 9,7% do MSCI Europe, índice de referência. O que tem motivado este bom comportamento? Numa entrevista à Funds People, Jeremy Leung explica em detalhe qual foi a principal fonte de rentabilidade do fundo.
Atualmente a estratégia passa por uma carteira que conta com 150 posições: 90 são longas e 60 são curtas. “As posições curtas conferiram uma grande rentabilidade à carteira, especialmente durante os últimos meses. A energia é um dos sectores onde temos gerado mais valor. A queda do preço do petróleo beneficiou a estratégia. O mercado penalizou muitas empresas do sector onde mantínhamos posições curtas. O sector dos bens de consumo básico é outro. É um mercado muito concentrado, onde existe muita concorrência”, afirma.
No que diz respeito às posições longas, a sobreponderação de empresas farmacêuticas foi outra fonte de rentabilidade que ajudou na estratégia. Nas cinco primeiras posições do fundo encontram-se precisamente empresas do sector (Novartis, Rochee Bayer), nas quais aumentaram exposição durante este ano. “O investidor não entende o potencial do sector. Pensam que são empresas caras e não reparam na sua novação e desenvolvimento de negócio. As decisões que muitas delas tomam no que diz respeito à alocação de capital é muito boa. A Novartis é um bom exemplo disso e é uma empresa que demonstrou grandes resultados no terceiro trimestre”.
Uma estratégia que procura o equilíbrio
“É óbvio que se trata de um fundo que procura comportar-se bem tanto em momentos de subida do mercado como de queda, mas o êxito também se deve à manutenção de uma boa defesa. A correção que assistimos em outubro começou em junho, quando os mercados começaram a mostrar uma maior volatilidade. O fundo comportou-se particularmente bem neste contexto de mercado. Saíram-se bem as posições curtas, que atuaram como defesa. A grande rentabilidade deve-se precisamente a esta defesa. No entanto, o beta da carteira está próximo de um. “Temo-lo visto a aumentar nos últimos meses, apesar de se ter reduzido ligeiramente o peso das seguradoras e acrescentando empresas financeiras (concretamente bancos franceses: Credit Agricole é um dos títulos que mais tem contribuído para a rentabilidade do fundo no último trimestre)”, revela Leung.
Um dos pilares nos quais o co-gestor apoia o êxito da estratégia está no enfoque sem restrições. “Não temos limites sectoriais nem geográficos. O facto de não ser neutro em nenhum sector é algo que tem contribuido para o êxito do fundo e que nos diferencia dos nossos concorrentes. Se encontramos mais oportunidades num determinado sector ou país, não hesitamos em recorrer-lhes. O mercado europeu é muito diversificado. Inclusive dentro de um mesmo sector existe uma grande diversidade. No sector financeiro, por exemplo, existem grandes diferenças entre os bancos franceses, os ingleses, os italianos, os nórdicos... A estratégia responde puramente a uma seleção de valores. Fazemos stock picking, não market timing”, assegura o especialista.
Na sua opinião, a visão top down faz pouco sentido na Europa “sobretudo se o objectivo – como é o caso – é investir em empresas de grande capitalização, já que 50% dos lucros destas empresas são provenientes de fora da Europa”. Leung descreve a carteira como uma estratégia equilibrada entre valores defensivos, cíclicos, também no que se refere às posições curtas. Em médias as posições longas são mantidas na carteira em média entre 2 e 3 anos. O período de manutenção das posições de queda é menor, e situa-se entre seis a doze meses. As posições longas são construídas de maneira física, mediante a compra direta do ativo. As curtas, pelo contrário, são implementadas através de swaps. Têm um claro bias para empresas de grande capitalização.
Crescimento patrimonial do fundo
“O fundo cresceu em património muito rapidamente. Há um ano, o volume de ativos sob gestão era de 400 milhões de euros, aproximadamente. Hoje está próximo dos 1.700 milhões. Alguns estudos demonstraram que o comportamento das estratégias deste tipo começa a sofrer a partir de 3.000 milhões de euros. Há que ter em conta que operar empresas de pequena e média capitalização é muito difícil a partir desses níveis. No entanto, para nós, isto não se coloca como um problema, já que nos centramos em empresas de grande capitalização. O fundo é muito líquido e tem ainda uma ampla margem no que respeita à sua capacidade”, afirma.
Leung e Anderl trabalham ao lado um do outro. “Lavamos a cabo um comité formal todas as semanas, mas na realidade discutimos as ideias numa base diária para fazer ajustes rapidamente a carteira”. Intervêm por exemplo se o active share cair abaixo dos 100%. “É possivelmente um dos fundos com maior active share”. Utilizam stop loss, mas não são automáticos. “As operações dos hedge funds podem provocar muita volatilidade num título. É algo que pode acontecer com frequência”. Os sinais sobre os quais se apoiam consistem em dois pontos vermelhos. O primeiro salta quando o título sofre uma depreciação de -10 pontos básicos. A segunda é mais séria e acende-se quando a qued é de -20 pontos básicos. Aqui fazemos uma análise exaustiva sobre o que se está a passar e se algo mudou na história da empresa.”