Como explicar a um cliente o risco de tentar prever os máximos de mercado

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Emily Campbell on Unsplash

Soam os tambores de uma bolha. A recuperação das bolsas norte-americanas após a correção de 2020 foi tão forte que o S&P 500 estava a ser negociado no final de março com um PER superior a 24. É uma valorização mais alta mesmo que durante o pico da bolha das dot.com. No final de 1999, o número era de 31. Mesmo ajustando o múltiplo preço-lucro ao ciclo, os atuais valores são altos. Nesse contexto, é normal receber perguntas de clientes com medo de uma correção.

Serão válidos esses receios? Para Duncan Lamont, responsável de investigação e análise da Schroders, até certo ponto, é uma decisão muito pessoal. “Pode-se argumentar que vender neste momento é uma boa opção para congelar lucros”, reconhece. O problema é que é muito difícil identificar antecipadamente os máximos do mercado. Além disso, desinvestir totalmente das ações com o fundamento de que elas atingiram avaliações muito elevadas foi uma estratégia perdedora para alguns no passado.

Qual foi o custo de sair demasiado cedo?

Lamont dá como exemplo o mercado dos Estados Unidos. Suponhamos que um investidor no mercado norte-americano se sente desconfortável cada vez que a avaliação de mercado está 50% mais cara do que a sua média, algo que parece razoável para todos. Uma estratégia poderia ser vender tudo naquele momento e comprar novamente quando as avaliações não forem 50% mais caras do que o normal.

Como essa estratégia funcionaria? “Não muito bem”, afirma o especialista. Se essas decisões fossem tomadas com base no múltiplo CAPE, não teria investido desde 2003, exceto em alguns meses. Teria ficado de fora. Não apenas na última fase da bolha dot.com, mas também nos primeiros anos. E na maioria dos anos antes da crise financeira. E muitas vezes o mercado continuou a subir, apesar das elevadas avaliações.

A seguinte tabela mostra os retornos que se teria perdido se tivesse seguido essa estratégia durante cada episódio de avaliações aparentemente super elevadas. Alguns são muito curtos, com seis deles a durarem três meses ou menos.

Em média, os investidores teriam perdido um lucro potencial de 43% se vendessem muito cedo. No passado, o mercado continuou a subir durante 17 meses, em média, até atingir o pico. Agora leva 12 meses.

Vender quando os mercados estão caros evita perdas?

Vale a pena não ficar exposto a quedas? Nem por isso. O facto de o mercado ter continuado a subir não significa que os investidores puderam beneficiar de todo esse retorno. Todos os mercados em alta acabam por se deflacionar. E se tivesse continuado a investir, estaria exposto a qualquer recessão, o que poderia ter sido evitado com a venda. No entanto, a análise de Lamont sugere que, em média, as perdas evitadas teriam sido insuficientes para compensar os potenciais ganhos perdidos.

Em 10 dos 14 casos, o mercado dos EUA teve um desempenho positivo durante o período em que estava mais de 50% sobrevalorizado (os dois valores que aparecem como 0% são pequenos retornos positivos arredondados para baixo). Isto acontece depois de se ter em conta qualquer queda desde o máximo. Em vários casos, retornos muito elevados teriam sido obtidos.

E mesmo nos casos em que ocorreram perdas, elas teriam sido relativamente pequenas.

Juros compostos: o aliado do buy and hold

Em termos de rentabilidade, a estratégia de estar sempre investido teria obtido um retorno anual de 9,7% nos últimos 130 anos. Isso compara com os 7,4% ao ano para a estratégia de venda (assumindo que o capital retirado é investido em títulos do Tesouro e sem ter em conta os custos de transação).

Esta comparação dói mais quanto mais se alarga o horizonte, graças à magia dos juros compostos. Num período tão longo, esses 2,3% adicionais ao ano tornam-se numa diferença muito grande. 100 dólares na estratégia de venda em 1890 valeriam agora 1,1 milhões de dólares. Não é mau. Mas 100 dólares se se mantivesse investido valeriam agora 18,1 milhões de dólares.