Como funciona o Barómetro do Risco Geopolítico da BlackRock e para onde está a apontar atualmente

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Raja Daja, Flickr, Creative Commons

Uma das iniciativas que fortaleceu a BlackRock no quadro da atividade que o seu órgão de liderança intelectual e de conteúdos didáticos desenvolve, o BlackRock Investment Institute, é um barómetro que mede o pulso aos riscos geopolíticos. Este barómetro (conhecido como BGRI ou BlackRock Geopolitical Risk Indicator) recolhe dados históricos desde 2003, e é revisto mensalmente para identificar um top 10 de riscos. Depois de onze meses em baixa, em maio registou um aumento que os especialistas da gestora interpretaram como os mercados estarem a voltar a prestar atenção aos riscos desta índole.

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“Examinamos quão próximo estão os mercados a vigiar cada risco; explicamos o contexto, progressos recentes e catalisadores e medimos o impacto possível sobre os ativos que historicamente foram mais sensíveis a cada tipo de risco”, indicam os membros do BlackRock Investment Institute.

Para conseguir fazê-lo, a BlackRock aplica técnicas de big data, mediante a recolha de fontes de informação financeira diferentes: relatórios de analistas, notícias financeiras ou até tweets (analisam-se milhões de tweets de contas mais populares verificadas todas as semanas), assim como os bancos de dados do Thomson Reuters Broker Report e o Dow Jones global Newswire. “Calculamos a frequência das palavras relacionadas com o risco geopolítico, ajustadas por sentimento positivo e negativo e depois atribuímos uma pontuação. Atribuímos uma importância muito maior às análises de brokerage do que a outras fontes de dados, porque queremos medir a atenção que o mercado presta a determinado risco em particular, não a atenção do público”, clarificam da gestora.

Para além disso, o Barómetro é capaz de distinguir entre sentimento positivo e negativo, para poder determinar com precisão o grau de importância que se deve atribuir a cada risco. Da gestora dão como exemplo o rescaldo da primavera Árabe de 2011: “Muita da atenção focava-se nos efeitos potencialmente positivos das alterações do regime. O ajuste deste sentimento positivo atenuou o impacto da primavera Árabe sobre o nível do BGRI”.

O processo que se segue para efetuar estes ajustes começa com a atribuição de uma pontuação para medir o grau de atenção que o mercado está a prestar a um risco em particular, mediante o rastreio de palavras relacionadas com esse risco, selecionadas por um grupo de especialistas composto por gestores de carteiras, analistas especialistas em geopolítica e gestores de riscos. Depois, atribui-se uma pontuação por sentimento, que também aplica uma análise linguística: a BlackRock tem um dicionário próprio que conta com 150 palavras que classifica como indicadores de sentimento positivo, e outras 150 de sentimento negativo. Em seguida aplica-se uma média móvel ponderada que enfatiza as publicações recentes para estabelecer a pontuação. O terceiro passo é a classificação total, para a qual se atribui uma proporção de 80%-20% à pontuação por mercado e pontuação por sentimento, respetivamente.

Em último lugar, os especialistas em geopolítica identificam possíveis catalisadores de uma subida de risco e avaliam de que forma será mais provável que esse risco se manifeste num horizonte de seis meses. Por exemplo, neste momento acreditam que há maior probabilidade de que as relações entre os EUA e a China se tornem mais tensas, enquanto que posicionam o risco de fragmentação da Europa na parte mais baixa da subida de riscos.

Além disso, calcula-se a severidade do impacto sobre o mercado a partir de uma análise de cenários efetuado pela equipa de Risco e Análise Quantitativa, que prevê o impacto de cada risco sobre as ações globais daqui a um mês. Por exemplo, a equipa calcula que as tensões entre a Rússia e a NATO serão dos riscos geopolíticos com maior impacto potencial sobre os mercados, enquanto o risco com menor impacto será uma nova vaga de populismo na América Latina.

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Caso prático

Na última edição do Barómetro, os especialistas da BlackRock posicionaram como risco número um do seu top dez as tensões geopolíticas no Médio Oriente em geral, e o Golfo Pérsico em particular. Descrevem assim o cenário de risco: “O regresso das sanções norte-americanas atingem as empresas europeias e asiáticas que estão a fazer negócios no Irão, agitando a economia iraniana, e ameaçando um cancelamento total do acordo nuclear. Os EUA, a Arábia Saudita e Israel mostram uma preocupação crescente sobre um possível recomeço do programa nuclear, e o Irão riposta, incitando os países da sua esfera de influência”.

A perspetiva da BlackRock é que “a Administração norte-americana tomou uma postura cada vez mais beligerante no Médio Oriente, reforçada por mudanças essenciais de pessoal e evidenciada pela saída do acordo com o Irão. Isto aumentou as tensões numa região já por si tensa e complexa “, em relação ao duelo entre o Irão e a Arábia Saudita por ocupar a maior esfera de influência numa região onde se estão a livrar dos conflitos bélicos, o do Iémen e o da Síria (com ingerência russa).

Apesar deste retrato, a conclusão a que o Barómetro chegou é que, sim, as tensões subiram – a leitura atual é um desvio padrão acima da sua média histórica –, mas ao mesmo tempo a BlackRock espera um impacto limitado sobre os mercados globais. A razão? “Os mercados do Golfo são vulneráveis, mas têm pouca importância sobre os índices de ações emergentes e de obrigações”.

Não obstante, a subida do conflito poderá afetar diretamente o preço do petróleo, que historicamente mostrou uma elevada sensibilidade em relação a tudo o que acontece na região. Convém recordar que o preço do barril demonstrou uma tendência crescente até agora, chegando a tocar os 80 dólares em maio, até quatro anos no máximo.

Da BlackRock constatam que o mercado do petróleo exibe, atualmente, condições muito ajustadas: os inventários caíram abaixo da sua média de cinco anos, os cortes na produção da OPEP corrigiram o excesso de oferta e, juntamente com a subida das tensões, estes fatores explicam o aumento do crude. “Uma subida persistente do petróleo até 100 dólares por barril ou mais – incentivado por cortes na oferta ou choques geopolíticos – poderá atingir fortemente o consumo e o sentimento. O impacto económico poderá ser compensado parcialmente pelo gasto do setor da energia”, especificam em primeiro lugar.

A subida do petróleo também terá consequências para os mercados emergentes, que com os preços atuais estão a desfrutar de um bom momento económico e margem para continuar a implementar reformas estruturais: Os especialistas alertam de que uma subida maior do preço do crude poderá reduzir o apetite pelas reformas estruturais destes países.