Como lutar contra o risco de sofrer uma perda de poder de compra devido à inflação?

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Stuartpilbrow, Flickr, Creative Commons

Pensar em fazer cobertura contra a inflação quando não há inflação pode parecer absurdo. No entanto, cada vez são mais os especialistas que começam a alertar sobre o impacto que a política monetária levada a cabo pelos bancos centrais terá sobre os preços a médio-longo prazo. Neste sentido, os investidores devem ter em conta o risco que a inflação futura representa para as rendibilidades das suas carteiras da perspectiva dos seus objectivos de investimento, embora a inflação actual seja leve.

Manu George, responsável pela gestão de produtos de obrigações para a região EMEA da Schroders, que gere o Schroder ISF Global Inflation Linked Bond, acredita que os países anglo-saxónicos poderiam experimentar inflação devido aos seus programas de flexibilização quantitativa. “Embora a Europa não tenha seguido este caminho, na periferia observam-se pressões deflacionistas. Se os responsáveis políticos europeus não as abordam, tal poderia ter consequências negativas para a dívida da Zona Euro. É possível que a volatilidade continue a ser elevada nos próximos meses”, assegura. Todas as áreas do mercado obrigacionista, incluindo as obrigações indexadas à inflação, registaram maus resultados, porque os investidores ajustaram-se às novas perspectivas de um menor estímulo dos activos financeiros por parte da Reserva Federal. As obrigações indexadas à inflação sofreram devido às expectativas dos mercados que as maiores taxas de juro reduziriam as pressões inflacionistas.

Política monetária

Martin Hegarty, gestor do BGF Global Inflation Linked Bond Fund, explica que as rendibilidades reais aumentaram e as expectativas de inflação se reduziram imediatamente após o anúncio de uma potencial desaceleração dos estímulos monetários por parte da autoridade monetária dos EUA. “Apesar de acreditarmos que a Reserva Federal começará a retirar o seu programa de compra de activos em 2013, os bancos centrais de todo o mundo comprometeram-se a aplicar políticas monetárias expansivas”. Neste sentido, o especialista da BlackRock espera que a Reserva Federal mantenha as taxas num nível baixo.

Por sua vez, o BCE e o Banco de Inglaterra adoptaram uma estratégia de gestão das expectativas em relação à trajetória que a sua política de taxas de juro pode seguir, enquanto o Banco do Japão embarcou num importante programa ‘quantitative easing’. “Tendo em conta as medidas que os bancos centrais de todo o mundo estão a realizar, gostaríamos de proteger-nos face à inflação quando for barato, e agora é um bom momento”, assinala.

Oportunidades na Europa?

No contexto actual, a maioria dos participantes do mercado estão preocupados com as consequências inflacionárias que as medidas de flexibilização quantitativa realizadas pelos bancos centrais de todo o mundo possam provocar, enquanto outros investidores esperam que as políticas de austeridade levadas a cabo na Europa gerem deflação. No entanto, no Velho Continente também se poderiam encontrar interessantes oportunidades de investimento no segmento de obrigações indexadas à inflação. De facto, o mercado favorito de Semin Soher, especialista da equipa obrigações europeias da Pioneer Investments, é o do Reino Unido, sobretudo no que respeita às emissões de empresas de serviços.

No caso do DWS Invest Global Inflation Linked Bonds, fundo da Deutsche Asset & Wealth Management gerido por Bernhardt Falk, as principais posições centram-se em obrigações emitidas pelos governos de França e Itália. O mesmo ocorre com o fundo da UBS Global Asset Management, o UBS Bond Inflation-linked Eur, gerido por Frédérick Mellors e entre cujas principais posições está a dívida emitida por países como França ou Alemanha, que concentra 96% da carteira em activos com uma notação de crédito de AAA (45%) e AA (51%).

Laurent Gonon, gestor do Amundi Funds Bond Global Inflation, considera que, para os investidores em obrigações, existe neste momento uma clara oportunidade para mover as suas carteiras para obrigações indexadas à inflação, embora não se espere que a inflação aumente. “O mercado está a descontar uma inflação muito baixa para os próximos 5-10 anos”. A seu ver, as oportunidades mais atractivas estão nos mercados emergentes. “As rendibilidades das obrigações são mais elevadas e a inflação é estruturalmente mais alta. Esses países beneficiam de um baixo rácio de dívida face ao PIB e a queda experimentada pelas suas moedas impulsionará antes ou depois a inflação nestes países”, indica o especialista do Amundi.