Como resolver uma crise de reputação: o caso da GAM

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Rodaniel, Flickr, Creative Commons

Na indústria de gestão de ativos, contar com uma boa reputação é indispensável para que uma gestora possa desenvolver com sucesso o seu negócio. Uma crise de confiança por parte dos investidores pode ser fatal. Não são frequentes, mas às vezes acontecem. Saber encarar e resolver problemas de reputação quando estes aparecem é fundamental, sobretudo num setor no qual os procedimentos e as boas práticas são tudo. A última gestora que teve de fazer frente a um problema deste género foi a GAM, que viveu um verão muito turbulento devido à suposta falta de profissionalismo de um dos seus gestores, que afetou em cheio o coração da gestora: as suas estratégias de obrigações de retorno absoluto sem restrições (ARBF). Abaixo explicamos os passos que, até ao momento, a entidade suíça deu para tentar resolver este assunto complicado:

1. Identificar o problema e afastar as pessoas envolvidas. Após uma investigação interna sobre alguns dos procedimentos relativos à gestão de riscos, a GAM reconheceu que algo não estava certo e decidiu suspender Tim Haywood, até então, diretor de investimentos para a estratégia de obrigações de retorno absoluto sem restrições (ARBF). O passo dado pela entidade não era nada fácil, uma vez que representava realçar a existência de um problema nas suas estratégias de retorno absoluto, uma tipologia de produto pela qual é muito reconhecida e sobre a qual a gestora tinha baseado grande parte do seu crescimento patrimonial ao longo dos últimos anos.

2. Suspender a negociação mas manter o valor liquidativo dos fundos para tratar dos reembolsos. A inquietação que este tipo de notícias costuma gerar na comunidade investidora parece derivar em reembolsos. O caso da GAM não foi exceção e a entidade recebeu um volume elevado de ordens de venda. O que a gestora suíça fez foi suspender imediatamente todas as operações de subscrição e reembolso nos fundos afetados, com o objetivo de garantir a igualdade de tratamento de todos os investidores e a proteção dos seus interesses. Tratar dos reembolsos era exequível, mas isso obrigou os gestores a realizarem ajustamentos desproporcionadas nas carteiras, pelo que a entidade optou por seguir por uma via que lhe permitiria não comprometer os interesses dos restantes investidores.

3. Explicar o que aconteceu. Quando acontecem situações tão anómalas que afetam diretamente o cliente, ser transparente na altura de explicar o sucedido parece mais uma obrigação do que uma opção. O cliente merece uma explicação. No caso da GAM, a gestora reconheceu que o seu gestor não tinha mostrado diligência suficiente em alguns dos investimentos que tinha realizado, tornando também os documentos internos relacionados com isso acessíveis. A entidade helvética foi muito concreta, revelando que Haywood tinha incumprido com a política de empresas ao assinar apenas certos contratos onde eram necessárias duas assinaturas. Segundo a gestora, também violou a política de presentes e entretenimento da empresa ao não solicitar a aprovação prévia requerida, utilizando o seu endereço de email pessoal para fins laborais.

4. Encerrar e liquidar as estratégias. Como passo seguinte na ordem de permitir aos participantes receber o capital de forma ordenada e assegurar o tratamento igualitário entre todos eles, a GAM optou por encerrar e liquidar as suas estratégias unconstrained e de retorno absoluto ARBF. Uma decisão celebrada pelos investidores e que para a gestora representa o golpe duro de ter de liquidar uma gama muito bem-sucedida composta por nove fundos: GAM Absolute Return Bond, GAM Absolute Return Bond Defender, GAM Absolute Return Bond Plus, GAM Star Absolute Return Bond, GAM Star Absolute Deturn Bond Defender, GAM Star Absolute Return Plus, GAM Star Dynamic Global Bond, GAM Absolute Return Bond Master Fund e GAM Unconstrained Bond Fund.

5. Definir uma data para os reembolsos e explicar como será o processo de devolução. Uma vez anunciado o encerramento e a liquidação das estratégias, falta devolver o dinheiro aos participantes. E para tranquilizar o cliente durante a espera, nada melhor do que revelar quais serão os prazos e a forma de devolução. Neste sentido, a empresa comunicou-lhes que os primeiros reembolsos irão começar no início do atual mês de setembro, recebendo os investidores a sua parte proporcional em forma de liquidez. A gestora já está imersa neste processo.