A EFAMA discorda do relatório da ESMA que afirma que os fundos norte-americanos são mais baratos do que os UCITS europeus. Segundo a sua investigação, ao comparar estruturas semelhantes, as diferenças de custos devem-se principalmente à sua utilização em planos de reforma.
O último relatório da Autoridade Europeia de Valores e Mercados (ESMA) sobre os custos e rendimentos dos produtos de investimento de retalho na UE assinalou a existência de “diferenças substanciais nos custos dos fundos, entre os EUA e a UE”. No seu comunicado, a ESMA enfatiza que “as ineficiências do mercado reveladas por este maior nível de custos mostram a necessidade de nos centrarmos na competitividade dos mercados da UE, no âmbito de uma futura União de Poupança e Investimentos”. No entanto, a Associação Europeia de Fundos e Gestão de Ativos (EFAMA) discorda da avaliação da ESMA, argumentando que os mutual funds norte-americanos não são necessariamente mais baratos que os UCITS.
Análise comparativa dos custos
Segundo os Market Insights da EFAMA, publicados em março de 2024, o custo médio simples do produto dentro dos UCITS de ações ativos e passivos (incluindo fundos indexados e ETF) – o preço pago pelos investidores de retalho excluindo custos de distribuição e consultoria – era de 1,04% e 0,27%, respetivamente, a final de 2022. Em comparação, o custo médio simples do produto dos fundos de ações norte-americanos a final de 2023 era de 1,14% para mutual funds ativos, 0,55% para mutual funds indexados e 0,47% para ETF indexados.
Outro Market Insights da EFAMA revelou que o custo médio dos UCITS transfronteiriços gerido ativamente ascendia a 1,68% para clientes de retalho que utilizavam canais de distribuição baseados em consultoria em 2020. A análise sugere que o custo dos fundos norte-americanos geridos ativamente a longo prazo só seria inferior ao dos UCITS de retalho se a comissão de consultoria e investimento nos EUA fosse inferior a 0,59% anuais.
O impacto dos fundos de pensões nos EUA
No entanto, é certo que o custo médio ponderado por ativos dos mutual funds norte-americanos é significativamente menor do que o dos UCITS – 0,65% para fundos ativos e 0,05% para mutual funds indexados de ações. Esta diferença de custos deve-se em grande parte ao facto de muitos dos mutual funds norte-americanos serem utilizados para poupanças para a reforma. Segundo o ICI Fact Book, quase 50% de todos os ativos de mutual funds norte-americanos, equivalentes a 11,9 biliões de dólares no final de 2023, estavam em planos de contribuição definida dinamizados por empregadores (como os planos 401(k)) e contas individuais de reforma (IRA).
Os mutual funds em planos de poupança para a reforma têm geralmente custos mais baixos do que os disponíveis para investidores de retalho nos bancos, uma vez que reúnem um grande número de participantes e têm acesso a classes de ações institucionais com TER (Total Expense Ratio) mais baixos. Além disso, os grandes planos de reforma têm um maior poder de negociação para obter comissões mais baixas junto das entidades gestoras de ativos, o que lhes permite optar por fundos indexados geridos passivamente com comissões mais baixas. Isto mostra a importância de comparar estruturas de custos e contextos que sejam verdadeiramente comparáveis ao avaliar os custos dos UCITS e dos mutual funds norte-americanos.
“É frequente afirmar-se que os mutual funds norte-americanos são consistentemente mais baratos dos que os UCITS, citando a sua dimensão geralmente maior como uma das principais razões para as diferenças de custos. No entanto, uma análise mais detalhada realça a importância de comparar classes de ações semelhantes e de distinguir entre os custos do produto e o custo total para o participante. Esta abordagem proporciona uma compreensão mais matizada e exata da situação e oferece uma imagem muito diferente”, afirma Tanguy van de Werve, diretor-geral da EFAMA.