Considerações sobre ETF de obrigações geridos ativamente e o risco de crédito

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André Themudo, Paulo Monteiro e Nuno Reis. Créditos: Vítor Duarte

De forma simplista, um Exchange Traded Fund (ETF) tem como objetivo replicar o comportamento de um índice de mercado. Muitas são as vantagens que oferecem aos investidores - desde o custo, até à simplicidade - e que motivam a sua compra. Embora os ETF de ações sejam os mais conhecidos, os de obrigações têm ganho um lugar de destaque nos últimos tempos, e espera-se que continuem a crescer. Num encontro promovido pela iShares em colaboração com a FundsPeople, foi crucial perceber que lugar desempenham estes instrumentos numa carteira e quais as expetativas relativamente à sua liquidez.

Apesar de a simplicidade ser, de facto, o grande atrativo dos ETF, o que é facto é que as variações relativas ao produto foram aparecendo, como é o caso dos ETF geridos ativamente. Para André Themudo, responsável de negócio em Portugal da iShares, os ETF geridos ativamente “contam muito pouco” para o negócio atual da casa. E explica o porquê: “Achamos que um ETF deveria ser um produto fácil na sua mais pura aceção da palavra e, desse modo, seguir um benchmark, sendo uma ferramenta útil para a alocação de ativos”. Simplicidade é sem dúvida a palavra essencial neste negócio que protagonizam e, por isso mesmo, o responsável da entidade confessa que nunca entraram a sério no negócio de ETF de réplica sintética. “Mais de 99% da nossa oferta é de réplica física”, explicou.

O alfa procura-se dentro de portas

Para Nuno Reis, gestor de carteiras na Fidelidade, a grande vantagem dos ETF é também a previsibilidade que oferecem e, consequentemente, o tracking error face ao benchmark. Dito isto, a utilização que fazem na seguradora de um ETF é “numa lógica de alocação de ativos”, em vez de procurarem “alfa no próprio ETF”. No universo das obrigações, a verdade é que a tendência é para investirem diretamente nas obrigações e usarem o ETF “como forma de complementar a entrada na classe de ativos”. Assim, é fácil de perceber que os ETF de gestão ativa não são a preferência da casa. “Embora possam trazer algum valor acrescentado para alguns investidores de retalho, e até para algumas carteiras pequenas, que procurem algum alfa para esses montantes mais reduzidos, o valor acrescentado para um cliente institucional é pequeno”, concluiu.

Paulo Monteiro, administrador da Gestão de Ativos da Invest Gestão Activos, percorreu uma linha de pensamento semelhante. Acredita que existirão investidores para quem os ETF de obrigações geridos ativamente possam fazer sentido, mas não é o caso da gestora que representa. “Aquilo que nós procuramos quando investimos num ETF é saber qual o mercado subjacente, querendo exposição àquele mercado ou àquele risco, ou seja, queremos beta”, identifica. A parte mais ativa, ou seja, “a alocação e os rebalanceamentos”, querem que sejam feitos pela própria equipa. “Num ETF não queremos procurar mais uma fonte de alfa”, justificou novamente.

Como já indicado, a iShares opta por estar muito pouco presente no negócio de  ETF de obrigações de gestão ativa. Contudo, e paralelamente, André Themudo lembrou uma gama que fica quase a meio caminho entre a gestão ativa e a passiva. “Temos uma plataforma de smart beta.  O que fizemos foi, principalmente no mundo das ações, diferenciar os diferentes fatores de risco: growth, value, mínima volatilidade, etc. Ou seja, tentamos destacar quatro ou cinco fatores de risco, e tentar criar um ETF que apenas tivesse exposição a um fator de risco”, recordou.

Risco de crédito: o evidente

Falando de ETF de obrigações, o risco de crédito teria de estar presente nesta conversa. Para Nuno Reis, estar investido num ETF desta classe de ativos implica, obviamente, “ter o risco de crédito do subjacente - o bom e o mau”. E é nessa distinção que, lembra o profissional, um gestor terá um contributo decisivo, que a gestão passiva não consegue responder. “O ETF em si, permite a exposição a todos os setores, mas em mercados mais voláteis e incertos como em 2022 a gestão ativa teve o seu papel”, recorda. Estar subponderado ou sobreponderado num determinado setor, ou outras alterações táticas necessárias, serão sempre mais fáceis de executar por um profissional de gestão, do que através de um ETF, lembra Nuno Reis.

O risco de um ETF, adicionou Paulo Monteiro, não vai obviamente além do que está dentro do próprio ETF: “risco de crédito, de taxa de juro, etc.”. Isto no caso dos ETF de réplica física. Nos de réplica sintética, ou então nos que ganham exposição à classe de ativos através de outros produtos, o profissional lembra que existirá um “risco de contraparte envolvido”. Na opinião de Paulo Monteiro, a verdade é que “os ETF são um instrumento muito poderoso, porque ganhar exposição ao high yield americano não é fácil para um cliente de retalho”. “Desde que o cliente saiba aquilo que está a fazer, saberá que está a assumir aquele risco de crédito específico do high yield”, sublinhou.