A convicção pode ser uma faca de dois gumes. Se por um lado mostra assertividade, por outro, pode colocar em xeque a nossa imagem se não nos provarmos corretos.
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Parece ser conhecimento básico, parte dos fundamentos da literacia financeira, que a diversificação é essencial para reduzir o risco no mercado e garantir retorno a longo prazo. No entanto, há quem acredite que pode haver um excesso de diversificação em muitos dos fundos de investimento disponíveis no mercado, e que este excesso pode impactar negativamente a relação risco/retorno.
O que nos propusemos a fazer neste artigo foi analisar aqueles fundos de ações globais, com Rating FundsPeople 2024 em Portugal, Espanha ou Itália, que se situam no limite inferior em termos de diversificação, ou seja, os fundos de maior convicção do mercado. No mundo existem mais de 50 mil empresas cotadas e vários milhares deste universo terão capitalizações de mercado elegível para investimento por parte dos grandes fundos de ações. Perante este universo, escolher 20 ou 30 posições para uma carteira deveria estar no dicionário como parte da definição da palavra convicção.
Três entidades gestoras, com fundos no universo analisado, explicam-nos precisamente o porquê desta concentração elevada de investimento. As respostas, apesar de expressas de forma diferente, concluem o que Michael J. Faherty, gestor de investimentos da Seilern IM, verbalizou da seguinte forma: "A verdadeira diversificação é sobre gerir diversos riscos, não só aumentar o número de posições".
Terry Smith, CEO da Fundsmith, citou um estudo com o título Wealth Creation in the U.S. Public Stock Markets 1926 to 2019, que "mostra que grande parte da criação de valor vem de um pequeno grupo de investimentos, e que a maioria das posições destrói valor aos investidores. Quanto mais ações o investidor detém, menos sabe sobre cada uma, individualmente". Na Seilern Investment Management, acreditam que "saber muito sobre pouco é melhor do que saber pouco sobre muito", e a estratégia de investimento do Seilern World Growth Fund foca-se em limitar o número de posições, o que "permite que cada gestor conheça extremamente bem o modelo de negócio e que tenha convicção no potencial de cada uma das empresas".
Estes fundos têm o seu investimento fundamentado numa rigorosa análise bottom-up, construídos sem referência a um benchmark, numa abordagem buy and hold. Os gestores estão focados em encontrar em empresas líderes, com um crescimento potencial de excelência, gestão forte e boas práticas operacionais.
Dada a convicção e baixo turnover, os gestores não gostam de revelar o seu ingrediente secreto, pelo que nos focámos nas dez principais posições de cada carteira, e calculámos assim, a partir de uma média simples, uma carteira média do universo escolhido. Tal como conseguimos ver no gráfico abaixo, um grande peso recai na Microsoft e na Google, duas gigantes tecnológicas americanas, para a Novo Nordisk, uma gigante farmacêutica europeia, e as duas maiores empresas de cartões de crédito do mundo, a Mastercard e a Visa. Estas últimas apresentam pesos parecidos, e, juntamente, aparecem no Top 10 de oito das onze carteiras, mas nunca simultaneamente.
Três fortes posições
Para o gestor do Fundsmith Equity Fund, Terry Smith, o investimento na Microsoft, líder em capitalização mundial, é fácil de justificar. “A Microsoft lidera em cloud computing, software pessoal e empresarial, sistemas operativos e videojogos. Apresenta também bons crescimentos de receita e retorno no capital investido nos últimos cinco anos", conta.
Já a Novo Nordisk, que dispensa apresentações e marca presença em seis dos onze fundos selecionados, poderá ter o futuro do mercado farmacêutico nas suas mãos. Se as estimativas da World Obesity Federation se concretizarem, a obesidade atingirá cerca de mil milhões de pessoas, que formarão um mercado para produtos como o Ozempic, para a diabetes tipo-2, ou o Wegovy, para perda de peso. Lindsay Scott, gestora de investimentos na Walter Scott, parte da BNY Investments, reflete que "a Novo Nordisk está muito à frente da generalidade da competição nos novos tratamentos de diabetes e perda de peso”, e adiciona que "é um mercado gigante, a crescer muito rapidamente". E claro, muto consenso em redor do nome não implica uma ausência de risco. "Claro que há riscos. O principal é saber quem pagará. É um tratamento caro, e que grande parte da população precisa", completa a gestora.
A fechar os exemplos, Michael J. Faherty, esclarece o racional do forte investimento do Seilern World Growth Fund na Mastercard: "O crescimento da Mastercard continua a ser atrativo. É guiado pela tendência de digitalizar todos os métodos de pagamento. A empresa também beneficia de um forte efeito de rede, que permite expandir a sua posição no mercado face a outras empresas da indústria". O gestor ainda elogia as práticas operacionais da empresa: "A Mastercard faz isto tudo praticamente sem recorrer a dívida, através de um negócio leve em capital e margens operacionais impressionantes".
Falamos de três meros exemplos de ações de convicção em carteiras de convicção. Todo o portefólio terá uma base de sustentação para a convicção da equipa gestora e muito do mesmo fica oculto no cofre, guardado a sete chaves com a receita secreta.