Dados da CMVM referentes à atividade de análise financeira permitem inferir sobre a evolução do número de intermediários financeiros a fazer cobertura dos títulos nacionais durante o período de entrada em vigor da MiFID II.
O unbundling do research, entre outros pontos, foi uma das questões que trouxe discussão ao mercado nas “vésperas” da entrada em vigor da diretiva MiFID II. Com a introdução do pagamento do research e a obrigatoriedade de uma definição explicita de qual o interveniente que assume o custo - gestora ou cliente -, os modelos de negócio das entidades financeiras tiveram de ser repensados, e em cima da mesa colocava-se a questão de como é que um país pequeno como Portugal poderia lidar com a questão do unbundling do research.
Algumas vozes da indústria financeira afirmavam mesmo que para empresas cotadas mais pequenas poderia estar em jogo uma menor cobertura por parte das empresas de research e, em última análise, menos “atenção” dos investidores.
Dados da CMVM vigentes no relatório sobre a atividade de análise financeira permitem inferir sobre a evolução do número de intermediários financeiros que cobrem cada título durante o período que antecedeu, na sua maioria, a entrada em vigor de MiFID II (comparação entre o período entre outubro de 2016 e setembro de 2017, e o período de outubro 2017 a setembro de 2018).
Título |
Nº de IFs
(out 2016-set 2017)
|
Nº de IFs
(out 2017-set 2018)
|
Capitalização bolsista (milhões de euros)1 |
10 títulos com maior peso nas carteiras dos OICVM nacionais (milhões de euros) 2 |
Altri |
6 |
9 |
<190 |
9 |
BCP |
6 |
10 |
>7.000 |
17,8 |
BPI |
4 |
4 |
<190 |
|
Cofina |
2 |
2 |
<190 |
|
Corticeira Amorim |
3 |
5 |
<190 |
7,8 |
CTT |
14 |
11 |
<190 |
|
EDP |
18 |
23 |
>7.000 |
7,5 |
EDP Renováveis |
21 |
21 |
>7.000 |
|
Galp Energia |
22 |
22 |
>7.000 |
15,1 |
Ibersol |
2 |
4 |
<190 |
|
Impresa |
2 |
2 |
<190 |
|
Jerónimo Martins |
20 |
21 |
>7.000 |
15,6 |
Mota Engil |
4 |
5 |
<190 |
|
Navigator |
8 |
9 |
>7.000 |
11,5 |
NOS |
14 |
16 |
>7.000 |
13,8 |
Novabase |
3 |
2 |
<190 |
|
REN |
9 |
12 |
>7.000 |
9,4 |
Semapa |
4 |
7 |
<190 |
|
Sonae |
6 |
5 |
>7.000 |
15,7 |
Sonae Capital |
2 |
3 |
<190 |
|
Sonae Indústria |
0 |
2 |
<190 |
|
Sonaecom |
1 |
2 |
<190 |
|
Teixeira Duarte |
0 |
0 |
<190 |
|
Ramada |
0 |
1 |
<190 |
|
Total |
171 |
198 |
|
|
Fonte: CMVM, Relatórios sobre a Atividade da Análise Financeiras
1 dados online da Euronext Lisbon
2 Dados da CMVM de fina de março
Em termos totais, e como é visível na tabela, o número de intermediários financeiros a fazer cobertura de títulos Bolsa de Lisboa subiu de 171 para 198. E que tipo de títulos beneficiou mais deste aumento? Os títulos com maior ou menor capitalização bolsista? Os dados, na verdade, não permitem traçar nenhuma tendência conclusiva.
Dividindo a análise pelos títulos de maior capitalização bolsista (> 7.000 milhões d euros), verifica-se que em praticamente todos os nomes existiu, embora ligeiro, um aumento de intermediários financeiros a fazer a sua cobertura. Os maiores aumentos aconteceram precisamente em dois dos títulos com maior peso no PSI-20 – o BCP e a EDP – que são também duas das ações em que os fundos de investimento nacionais mais investem.
Quando nos debruçamos sobre os títulos de menor capitalização de mercado, pode dizer-se que a tendência foi mista: há casos de títulos que viram a sua cobertura diminuída por parte dos IFs, enquanto outros em que se assistiu à tendência contrária. Contudo, é de ressaltar que tanto no caso de aumento ou diminuição as variações não tiveram grande magnitude, como visível nos dados acima.