"O BCE está disposto a fazer tudo para preservar o euro e, acreditem, será suficiente". Esta foi a afirmação do presidente do banco central, Mário Draghi, na semana passada, que gerou expectativa e animou os mercados. No entanto, a falta de apresentação de medidas para conseguir alcançar esse objectivo provocou pessimismo nos investidores e colocou os mercados no vermelho.
De facto ontem, Mário Draghi admitiu a possibilidade de um novo programa de compra de dívida soberana em mercado secundário. Todavia disse que "primeiro, os governos têm de recorrer ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. O BCE não pode substituir os governos e o que estes podem fazer do lado orçamental", referiu. Uma afirmação que "desiludiu fortemente os mercados financeiros", disse Raul Marques, do Banif Investimento, à Funds People Portugal.
André Pinheiro, gestor de activos na Orey Financial, considera que, "uma vez mais, temos na Europa muito discurso e pouca acção" e destacou que, desta forma, o presidente do BCE "não conseguiu apresentar medidas concretas que justificassem as suas afirmações da semana anterior". Já, Raul Marques refere que "o impacto essencial das palavras de Mario Draghi será de curto prazo, mas obviamente negativo, decorrendo da desilusão relativamente às expectativas de medidas por parte do BCE que foram criadas na semana passada, tambem na sequência de palavras do presidente do BCE".
O PSI 20 encerrou a desvalorizar 1,71% recuando para os 4569,04 pontos. O cenário de queda foi comum à maioria das empresas cotadas, com dez a perderem mais de 1%. As maiores descidas foram da Sonae (-4,65%), BES (-3,5%), BCP (-3,22%), EDP Renováveis (-3,02%) e Sonaecom, SGPS (-2,85%). Esta situação era, de alguma forma, esperada entre os profissionais do sector. André Pinheiro salientou que, "deveremos continuar a ter a moeda única pressionada, e uma vez mais a falta de soluções estruturais deverão conduzir a queda das bolsas europeias e portuguesa".
No mercado obrigacionista, acrescenta, ainda como consequência desta ausência de medidas objectivas, "o facto de Portugal estar intervencionado diminui a volatilidade da sua dívida. Não obstante, deveremos assistir igualmente a pressões sob as yields portuguesas".
Raul Marques refere que, as expectativas de medidas do BCE, "nos tempos mais próximos, centram-se nas possibilidades de compra de dívida soberana dos países mais 'atacados pelos mercados', nomeadamente Espanha e Itália, de redução das taxas de juro de referência do BCE e eventuais novas operações de cedência de liquidez a médio prazo aos bancos".
Em conclusão, Raul Marques, comenta que "acima de tudo o que parece transparecer das sucessivas declarações de responsáveis políticos europeus e responsáveis do BCE é uma permanente divisão entre os responsáveis europeus sobre as medidas adoptar e o respectivo timing, e obviamente que isso terá implcações negativas a curto prazo sobre a dívida soberana dos países do sul da Europa e sobre as bolsas em geral. Veremos se um novo agravamento das tensões nos mercados obriga o BCE a tomar medidas mais drásticas e mais cedo do que hoje foi anunciado".
Na reunião de ontem, o banco central decidiu manter a taxa de juro de referência no mínimo histórico de 0,75%, e a taxa de depósito nos 0%, em linha com as estimativas dos economistas.