Muito se fala dos grandes blocos de dívida pública e corporativa que compõem as carteiras, mas numa recente conversa com a Capital Group e com profissionais do mercado nacional, tanto a dívida de países emergentes como as emissões securitizadas foram também tema de discussão.
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Muito se fala dos grandes blocos que compõem as carteiras de obrigações diversificadas na Europa, como a dívida pública ou corporativa, norte-americana ou europeia. No entanto, numa recente conversa promovida pela Capital Group e pela FundsPeople com profissionais do mercado nacional, tanto a dívida de países emergentes como as emissões securitizadas foram também tema de discussão.
Duarte Rodrigues, gestor de Obrigações Senior na BPI Gestão de Ativos, conta que, destas duas classes de ativos, são as emissões de mercados emergentes que ocupam, tipicamente, espaço nas suas carteiras. Esse espaço, embora pequeno, costuma ser ocupado com uma “exposição a nomes de maior qualidade dentro do universo de emergentes, nomeadamente em países como o México, Brasil e alguns países da Europa de Leste”. “Gostamos de estar expostos às economias mais ligadas a matérias-primas, mais orientadas pela margem e com menos risco geopolítico”, diz o gestor.
Além disso, é da opinião que o dólar mais fraco, como se tem mostrado nos últimos meses, faz com que os mercados emergentes se encontrem menos sob pressão. “Acredito que pode ser um bom momento para entrar na classe de ativos de dívida emergente em moeda local, mas claro, com muita cautela na abordagem”, aponta. Em termos de emissões em moeda forte, o gestor vê a dívida de mercados emergentes a proporcionar um maior spread para um mesmo risco de crédito face à dívida de mercados desenvolvidos, o que a torna atrativa, apesar da sua relativa falta liquidez. “Acredito que as maturidades de curto prazo representam um bom carry trade para manter nos portefólios”, diz.
Já Flavio Carpenzano, diretor de Investimentos de Rendimento Fixo na Capital Group, vê muitas oportunidades para diversificar uma carteira de rendimento fixo através do investimento em emissões de securitização. Encontra oportunidades em emissões ligadas a imobiliário comercial, como os CMBS, ou em empréstimos automóveis, mas sempre com um enfoque nas tranches mais senior e com um limite de 20% das carteiras, de forma a contrabalançar o risco de liquidez. A razão do interesse? “Se olharmos para o que se passou no ano passado, tínhamos um mercado priced for perfection em high yield, por exemplo, e priced for the worst nas emissões relacionadas com imobiliário comercial”, descreve. E se, por um lado, como explica, os piores cenários de escritórios e centros comerciais vazios não se materializaram, por outro, vemos agora um vento favorável que resulta de uma menor pressão ao nível das taxas. Adicionalmente, “falamos de um mercado fragmentado”, como descreve, em que o ativo por detrás da emissão é um fator relevante na escolha dos ativos em que investir. “Quando os recursos das equipas permitem uma análise a esta escala, encontram-se muitas oportunidades”, diz.
Sobre os mercados emergentes, Flavio Carpenzano acredita que as economias emergentes se mantêm muito atrativas de uma perspetiva fundamental. No entanto, relembra, há dois tipos de risco conforme falamos de emissões em moeda forte ou moeda local. “Moeda forte é, ultimamente, risco de crédito. Da perspetiva dos fundamentais, são bastante fortes, e os spreads estão apertados, especialmente em investment grade. Estes ativos vão beneficiar do vento favorável do corte de taxas da Fed. Quando falamos de moeda local, falamos de uma dinâmica distinta. “Já não falamos de risco de crédito, mas sim, ultimamente, de crescimento, inflação e de câmbio. E o que achamos interessante nos últimos anos tem sido a forma como os bancos centrais dos mercados emergentes têm sido muito mais ortodoxos na gestão da inflação do que os mercados desenvolvidos. É por isso que temos uma visão globalmente positiva dos mercados emergentes onde, atualmente, nos concentramos mais em high yield e em moeda local”, diz.
A perspetiva dos alocadores
Como membro de uma equipa que constrói carteiras com base em fundos de terceiros, Ana Gomes, assessora de Investimentos Sénior e Selecionadora de Fundos no novobanco, partilha que o posicionamento relativo aos índices de referência é de neutralidade, no que diz respeito à alocação a dívida de mercados emergentes. No entanto, a profissional tem um outlook positivo. “Em relação aos mercados emergentes, depois de um bom desempenho económico, notamos que estão de alguma forma mais cautelosos na sua postura em relação a cortes de taxas de juro. Em teoria, estes ativos deverão comportar-se bem, não só por causa do comportamento do dólar norte-americano, como das elevadas yields reais”, descreve. Para Ana Gomes, no entanto, ser seletivo é importante e a sua opinião é de que “as economias mais estáveis, em particular, deverão ter um melhor desempenho”.
Na mesma linha, João Pina Gomes, responsável de Fundos de Investimento no ABANCA, partilha que a visão da casa é neutral para esta classe de ativos, mas uma peça importante nas carteiras. “É especialmente importante como fonte de carry”, diz. Contudo, considera que nem todo o universo de maturidades tem lugar nas carteiras e os fundos em que investe mostram uma preferência por “maturidades mais curtas, como forma de controlar o risco”.
Já no que diz respeito aos ativos securitizados, a abordagem é a mesma. “Tendemos a preferir mortgage backed securities garantidos por agências e investimos, também, como forma de obter carry para as carteiras com um risco relativamente reduzido”, explica.