A ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) emitiu um relatório sobre a estabilidade financeira do setor segurador e dos fundos de pensões relativamente ao final do primeiro trimestre do ano. Das várias conclusões que podemos retirar desse documento, neste artigo focamos, unicamente, no perfil de risco ambiental/climático traçado para ambos os setores.
Segundo os dados disponibilizados no relatório, verificamos que, de modo geral, as carteiras de investimentos em análise, apresentam uma baixa alocação a setores considerados climaticamente relevantes ou CPRS (Climate Policy Relevant Sectors). Esta é uma classificação das atividades económicas que tem sido amplamente utilizada por profissionais e decisores políticos para avaliar a exposição dos investidores ao risco de transição climática. Inclui setores como energia, transportes, indústria, construção, entre outros.
Como ilustrado no gráfico seguinte, as empresas de seguros são as que mantêm a maior alocação a setores climaticamente relevantes, com quase 20% excluindo as carteiras afetas a unit-linked. Já os fundos de pensões ficam abaixo dos dois dígitos com 9,4%.
Exposição da carteira de investimentos das empresas de seguros e dos fundos de pensões aos setores climaticamente relevantes
Fonte: ASF, primeiro trimestre de 2023
Numa outra perspetiva, observamos a análise segundo o rating ambiental. Disponibilizado pela Bloomberg, avalia a performance das entidades nesse campo numa escala de 0 a 10, onde zero representa o nível mais alto e, portanto, maior risco ambiental, e o dez representa o nível de risco mais baixo. Também aqui os resultados são animadores.
Como evidenciado no gráfico seguinte, sobressaem as classes de nível médio e baixo, justificado pelo “investimento em títulos de dívida pública conotados com um bom nível de sustentabilidade”.
De destacar, ainda assim, que há uma percentagem significativa de títulos não mapeados e os correspondentes à categoria de risco muito baixo são, praticamente, inexistentes.
Proporção dos montantes investidos nas carteiras obrigacionistas e de ações das empresas de seguros e dos fundos de pensões, por classe de rating ambiental
Fonte: ASF, primeiro trimestre de 2023
Por último, focando apenas na dívida por CQS (Credit Quality Step) e duração, também aqui prevalece o risco ambiental médio. Ainda assim, é possível verificar que os títulos obrigacionistas CQS1 (considerados os de mais baixo risco de incumprimento) das empresas de seguros (exceto unit-linked) e dos fundos de pensões são os que apresentam melhor performance ambiental, na maioria dos intervalos de duração. Isto significa, portanto, que usufruem de uma classificação de risco baixo, contrastando com os CQS3 (nível moderado de risco de incumprimento) que registam uma classificação de risco médio. Estes últimos representam os títulos com maior potencial de impacto nos requisitos de capital, “dado serem mais passíveis de deterioração da qualidade creditícia, face ao aumento das considerações ambientais por parte dos mercados financeiros”.
Categorização do rating ambiental e representatividade nas carteiras dos ativos mapeados, por qualidade creditícia e duração
Fonte: ASF, primeiro trimestre de 2023