A situação atual nos mercados financeiros está longe de ser fácil de decifrar. Basta pensar nas decisões tomadas pela administração Trump. As últimas desde o Liberation Day de 2 de abril até ao acordo de 90 dias assinado com a China, traçam um panorama incerto. “No melhor dos cenários, creio que encerraremos o ano com uma rentabilidade de um só dígito. Seria um resultado bastante relevante, porque há algumas mudanças fundamentais a nível global. Essas mudanças significam que a economia dos EUA provavelmente será mais afetada pelos acontecimentos recentes do que, por exemplo, a Europa e a China”, começam Klaus Kaldemorgen e Christoph Schmidt, gestores do fundo DWS Concept Kaldemorgen.
Segundo os especialistas, que falaram com a FundsPeople durante uma visita a Milão, a situação carateriza-se pelas duas faces da mesma moeda: riscos e oportunidades. Alguns dos avanços recentes positivos na Europa são boas notícias, “especialmente no plano fiscal com o pacote de infraestruturas e defesa ou a nomeação do novo chanceler na Alemanha. Mas, ao mesmo tempo, observam-se alguns efeitos negativos nos Estados Unidos. Estes acontecimentos ocorreram rapidamente nos últimos meses e levaram também a alguns ajustes na nossa carteira”, explicam os dois gestores do fundo que este ano obteve o Rating FundsPeople.
O principal risco que ambos identificam é o da estagflação ou mesmo recessão por causa da guerra comercial. Portanto, “ainda existe uma boa probabilidade de evitar uma recessão. No entanto, é necessário considerar um agravamento do contexto económico e, ao mesmo tempo, as pressões inflacionistas que aumentam devido à política de tarifas aduaneiras”, admitem os profissionais da DWS.
Observando os bancos centrais e as duas últimas reuniões do BCE e da Fed, há a salientar que “o Banco Central Europeu está numa posição muito mais confortável do que a Fed no que respeita ao apoio à economia com a política monetária. A guerra comercial tem efeitos inflacionistas nos EUA, mas está a fazer diminuir a inflação no resto do mundo, ou pelo menos na Europa. Por isso, o BCE tem muito mais margem para cortar taxas. Já a Fed encontra-se numa situação mais difícil, porque a economia está a deteriorar-se. No entanto, a inflação continua presente ou até em aceleração. Por isso é difícil encontrar o equilíbrio certo para Powell”, explicam.
Atualização do fundo
O DWS Concept Kaldemorgen é um fundo multiativos com gestão de risco controlada e um drawdown máximo que não deve ultrapassar os 10%. Esta gestão é muito flexível, acompanhada de uma estratégia de longo prazo bem definida. “Naturalmente, não seguimos um índice de referência porque não seria útil do ponto de vista da gestão de risco. Isso dá-nos liberdade em termos de alocação de ativos e de estruturação das carteiras”, sublinham.
Um exemplo remete para 2022: “Tivemos uma duração negativa na nossa carteira de rendimento fixo para evitar perdas neste mercado. Creio que é fundamental para a nossa estratégia identificar o risco e eventualmente eliminá-lo, dado que é isso que os nossos clientes nos pedem”, afirmam. Desta forma, “podemos obter uma rentabilidade média de um só dígito com uma volatilidade muito baixa, situada entre os 5 e 6%”, dizem.
Tal como referido, a incerteza está a marcar o cenário atual — e isso nunca é boa notícia para as ações. Por isso, “temos uma posição relativamente baixa em ações no fundo. Reduzimo-la dos 48% do ano passado para este ano. Atualmente estamos à volta dos 35-33%. Reduzimos a exposição do dólar americano de forma significativa. E estamos a substituir algumas obrigações americanas por obrigações europeias”, prosseguem.
Olhando para os últimos 6-9 meses, “a nossa exposição às ações era muito mais elevada. No verão passado, tínhamos uma exposição às ações de 47%. Depois reduzimo-la para 40% antes das eleições norte-americanas, mantendo-a estável nesses níveis. Posteriormen, com os acontecimentos que referimos, alterámos ainda mais a nossa carteira de forma significativa. É importante sublinhar que a maioria dos ajustes foram feitos já em março. Em particular, começámos a reduzir as ações dos EUA na nossa carteira e operámos uma mudança significativa no dólar americano”, explicam.
No início do ano, o peso do dólar era de 35%; em março caiu para 20% com um novo ajuste até 16%, “mais do que reduzindo para metade o peso do dólar no fundo”, admitem. Segundo os dois profissionais, o mercado do ano passado foi mais fácil de navegar.
“Em caso de nervosismo nos mercados, podia-se optar por comprar dívida pública americana ou dólares como refúgio seguro. Hoje esses refúgios já não existem. Por isso, há pouco espaço para diversificação, exceto para reduzir o risco. A única posição que funcionou bem para nós foi o ouro, com 8%. No início, o ouro era mais uma espécie de apólice de seguro. Mas nos últimos dois anos funcionou perfeitamente para um fundo multiativos e teve um desempenho superior ao mercado acionista”, sublinham.
Por fim, também no segmento acionista, a sua abordagem equilibrada deu frutos. “A nossa exposição às ações europeias contribuiu positivamente para a rentabilidade do fundo este ano. Temos um peso maior em ações europeias do que em ações americanas”, concluem.