Várias empresas do setor da saúde já estão a utilizar a inteligência artificial para melhorar a rentabilidade do seu negócio, mas os gestores avisam: magia não é sinónimo de sucesso comercial.
A inteligência artificial já não é terreno exclusivo das tecnológicas. Na mais recente temporada de resultados, várias empresas do setor da saúde contaram como já estão a explorar a IA para melhorar os seus processos. “Os sistemas de saúde contêm uma enorme quantidade de dados que podem ser extraídos para obter informação”, recorda Vinay Thapar, gestor do AB International Health Care da AllianceBernstein.
Cuidado ao lidar com a loucura pela IA
No entanto, embora existam muitos avanços interessantes no setor, estes devem ser abordados com cautela. “Existe um enorme fosso entre a teoria e a prática, especialmente em tecnologias emergentes. São necessárias mais provas comerciais do que entusiasmo cientifico”, avisa Vinay Thapar. O gestor também insiste que a revolução da IA levará tempo e progredirá com altos e baixos.
E recorda uma máxima essencial em qualquer investimento: magia tecnológica não é sinónimo de sucesso comercial. “De facto, a comoditização de uma aplicação de IA de sucesso pode até reduzir a rentabilidade. Quando uma empresa do setor da saúde apresenta um novo robot, os investidores devem questionar-se: como vai gerar dinheiro? Quanto tempo vai demorar a ser comercializado? Qual é a sua estratégia competitiva face aos seus homólogos?”, partilha o gestor.
Dois exemplos concretos da IA no setor da saúde
Nesse sentido, pedimos a Marcel Fritsch que nos desse exemplos concretos que se destacam do ruído mediático. O gestor da Bellevue destaca dois avanços interessantes:
- Dexcom/Insulet. O Omnipode 5 da Insulet é um sistema de administração automática de insulina (AID) de utilização única com uma vida útil de três dias. Está melhorado com um algoritmo de controlo chamado SmartAdjust Technology. A cada cinco minutos, a tecnologia SmartAdjust recebe os valores de glucose nos tecidos e os dados de tendências do sensor contínuo de glucose G6 da Dexcom. Utilizando esta informação, prevê os níveis de glucose no sangue durante 60 minutos no futuro. De seguida, aumenta, diminui ou interrompe a administração automática de insulina em função dos níveis-alvo individuais do utilizador. Quando os pacientes diabéticos usam o sistema Omnipode 5 e recolhem um histórico de administração de insulina, a tecnologia SmartAdjust atualiza automaticamente o seguinte Omnipod 5 com a atual informação de insulina diária total (IDT) dos últimos Omnipods. A taxa basal adaptativa baseia-se na quantidade de insulina diária total que o paciente precisou nas últimas semanas. Cada vez que o paciente troca de Pods, a tecnologia SmartAdjust utiliza este IDT atualizado para estabelecer uma nova taxa basal adaptativa para o paciente.
- Siemens Healthineers. O Al-Rad Companion Chest CT (tomografia computorizada) da Siemens Healthineers utiliza algoritmos de aprendizagem automática para automatizar uma série de tarefas na TC torácica. Depois dos pacientes receberem a sua TC, os cortes axiais são enviados sem esforço para o Al-Rad Companion Chest CT. Assim que as imagens DICOM chegam, os diferentes algoritmos de aprendizagem profunda começam a processá-las. Uma vez calculados todos os resultados, são enviados para o radiologista. Todos os resultados melhorados com a IA ficam imediatamente disponíveis, juntamente com os dados originais da TC, e o médico efetua uma rápida verificação de plausibilidade. O número de cliques no rato é zero. Antes do método melhorado pela IA, todas as medições eram feitas manualmente, pelo que o Chest CT representa uma poupança de tempo de 50%.